Avowed

Avowed – Análise

A Obsidian Entertainment tem um longo histórico de jogos bem-sucedidos que desde 2003 marcaram a indústria por serem aclamados pela crítica e pelos fãs.

Knights of the Old Republic II: The Sith Lords e Neverwinter Nights foram grandes sequelas de jogos de séries da Bioware, mas a seu cargo produziram Fallout: New Vegas (o melhor Fallout), Dungeon Siege III, The Outer Worlds e Pillars of Eternity, para além de alguns jogos que não são rpg, mas não podemos descurar a capacidade da Obsidian em construir histórias complexas em mundos fantásticos, criar todo um lore (contexto geral e origem do mundo que estamos), e os jogadores sentirem-se imersos nessa fantasia.

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Em 2018, a Obsidian Entertainment foi comprada pela Microsoft Studios (agora Xbox Game Studios) e são agora responsáveis pela distribuição de Avowed, um novo rpg em Eora, inserido no universo de Pillars of Eternity.

Joguei quase todos os rpg que a Obsidian produziu, pelo menos os que inspiraram a estrutura de Avowed, como Fallout: New Vegas e The Outer Worlds (o meu estilo preferido de rpg) e há claramente um crescimento e aprendizagem com todos os seus jogos.

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Quando Avowed foi mostrado pela primeira vez, estranhei tudo o que vi no trailer e não fiquei impressionado, nem a perceber bem o que traria de novo, mas depois de o jogar posso dizer que vão ter em mãos um dos melhores rpg dos últimos anos.

O Enviado

Avowed passa-se nas Living Lands, uma parte do mundo de Eora. Na verdade, as Living Lands são várias localizações, que variam de florestas densas a desertos rochosos e áridos, de grandes cavernas a vales enormes num mundo bastante variado.

Somos um Enviado do Império Aedyr, um godlike (uma raça que tem uma ligação natural com os deuses) que nos dá poderes especiais, mas também alguns preconceitos por ser quem somos e pela nossa aparência diferente. Viajamos como representante direto do Imperador para investigar uma praga misteriosa nas Living Lands que está a corromper as almas dos seus habitantes, sendo a nossa tarefa parar com esta calamidade. Dream Scourge, como é chamada esta peste, está a espalhar-se rápida e perigosamente pelos territórios, mas o motivo surpreende tudo e todos.

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Nas primeiras horas, uma entidade entra na nossa mente, comunica connosco e diz que sabe como nos ajudar na nossa missão, mas a troco de um favor. A partir daqui, surgem várias dúvidas. Quem será este ser? Será que nos estão a manipular? E será que as nossas intenções, vindas do imperador são confiáveis? E para além da nossa luta interior, temos de gerir todas as politiquices e conflitos dos povos e fações que habitam nos territórios de Living Lands.

As nossas decisões perante todos estes fatores irão construir a nossa história em Avowed e acreditem que terão muitas importantes para fazer. A nossa equipa nem sempre vai estar ao nosso lado nas escolhas a tomar e podem ser bastante assertivos na sua discordância, mas foi isso que me puxou ainda mais para esta história.

Avowed

Só lhe falta um bocadinho assim…

Na versão testada, na Xbox Series S, gostei bastante da experiência, mesmo que já esteja habituado a jogar tudo a 60 fps e Avowed está bloqueado a 30 fps, poucos problemas encontrei ao longo da minha aventura. Num jogo imenso e com tanta coisa a acontecer, não encontrei nenhum bug, as animações não têm falhas, e só notei quebras de frame rate constantes em duas situações específicas, uma à entrada de uma cidade e outro a chegar a um combate mais para o final. Mais para o final do jogo, vemo-nos envolvidos em combates mais difíceis e impactantes, e nem assim notei algum problema técnico.

Graficamente traz uma estética muito estilizada, não procura ser foto realista, mas com uma abordagem colorida, com muito contraste, com muita criatividade. Cheguei a parar e contemplar a grandiosidade de alguns cenários, que não consegui guardar como desejava porque falta uma opção de modo fotografia e sinto que podia ter muito sucesso juntos dos jogadores. As zonas para onde a aventura nos leva são todas muito diferentes, no ecossistema, construções, flora e fauna. Mesmo assim, há elementos que são comuns a todas as áreas, mantendo-nos ligados ao mundo em geral.

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Para acompanhar a arte gráfica, a sonoplastia e a banda sonora é um dos pontos fortes deste título. O som do metal ao brandir a espada, flechas a atingir o nosso escudo e os sons envolventes dos cenários está todo cá, o que torna a imersão ainda maior. Podem contar com composições épicas e em alturas de mais ação o volume sobe, mantendo o entusiasmo do momento.

As vozes dos personagens estão muito bem escolhidas, mesmo que tenha um problema com o sotaque de algumas. Marius, um Dwarf da nossa equipa tem um forte sotaque americano, arrisco que seja de Nova Iorque e não sei porquê não me parece natural num jogo deste género, talvez porque em jogos, filmes ou séries de fantasia, o inglês do Reino Unido seja o mais usado.

A Obsidian consegue, sem cinemáticas, entregar ao jogador um sentimento de “epá, eu descobri isto!” quando do nada, e ao explorar o mapa sem ser em missões específicas, nos deparamos com um templo, uma caverna com construções misteriosas ou de flora colorida e o queixo quase nos cai ao chão, tudo isto acompanhado de uma banda sonora épica. Avowed tem estes momentos e até gostaria que tivesse mais para me perder na exploração.

Não é estruturado como um jogo de mundo aberto, mas sim dividido em vastas áreas, algo que foram beber de The Outer Worlds. O jogo tem poucas cinemáticas que não sejam em gráficos de jogo, mas existe o cuidado que quando as há, são coerentes com o restante e tudo liga bastante bem.

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De evidenciar também os separadores de carregamento do jogo e umas sequências específicas, que nos apresentam uns painéis estáticos de arte enquanto a história é narrada. Imaginem art deco estilizado e não deixa de ser diferente num jogo com uma arte gráfica tão marcante.

Todos os personagens que compõem a nossa equipa representam um povo de Living Lands e encaixam perfeitamente no mundo de fantasia que a Obsidian nos traz e destaco Kai da raça Aumaua (que para além de ser o narrador da história e membro da nossa equipa), fiquei fã da estética do personagem. Só fiquei desapontado com a escolha de design de um personagem principal (que não posso revelar por ser spoiler) que parece bastante desfasado dos restantes modelos, até de inimigos.

Quem é quem?

Ao iniciar Avowed, como é tradicional neste género de jogo, e depois de nos apresentar uma cinemática de introdução a este mundo, temos um menu de customização de personagem que, para quem tiver a paciência, pode perder muito tempo. Para além das caraterísticas físicas do nosso Enviado podemos escolher o nosso passado, sim, podemos escolher as nossas raízes e o nosso percurso até aquele momento e irá influenciar as nossas habilidades e escolha de arma inicial. Arcane Scholar, Court Augur, Noble Scion, Vanguard Scout e War Hero, são as “categorias” que podemos escolher com todas as qualidades e defeitos que trazem.

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De seguida alocamos os nossos pontos de atributos iniciais, como força, perceção, intelecto, constituição e destreza por exemplo, e estamos prontos para nos lançar à aventura.

A escolha é sempre nossa

A customização não termina por aqui, é constante durante todo o jogo por conta da nossa build e loadouts, já que não há limites para a “construção” do nosso personagem relativamente a habilidades, armas e feitiços. Somos totalmente livres para escolher as nossas opções de ataque, e existem muitas à escolha, de armas brancas, armas de fogo, a varinhas mágicas (aguenta Harry Potter) e até livros, mas já explico melhor.

Independentemente da nossa escolha inicial de classe, à medida que colecionamos armas, armaduras e acessórios, tudo é válido para nos equipar para o combate. Podemos iniciar com mais pontos alocados em magia, mas podemos equipar uma espada, lança ou pistolas e arquebus (espingardas) diversificando os nossos ataques.

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Ao surpreendermos furtivamente um inimigo, trespassamos-lhe a Divine Throne, uma arma muito semelhante à energy sword de Master Chief em Halo, certamente uma espécie de easter egg, mesmo que as “lâminas” não sejam idênticas.

Aliás, podemos ter dois loadouts e mudar no momento ao carregar em Y no comando. O meu Enviado Vanguard tinha uma espada e escudo como base, e como secundário uma pistola e um grimoire (o livro de magia que falei anteriormente). Na minha segunda aventura, fui de escudo e grimoire e no segundo loadout um martelo de duas mãos preparado para limpar hordas de inimigos.

As armas e armaduras podem ser melhoradas de acordo com matéria prima que encontramos no terreno, através de exploração ou ao terminar missões. A nossa capacidade de armazenamento de itens é grande (e podemos melhorar), mas não há desculpa para não recolher tudo o que nos aparece no mapa. E se por ventura ficarmos com carga a mais, é possível destruir ou enviar para o nosso baú no acampamento.

As categorias do nosso equipamento são common, fine, exceptional, superb e legendary e as de melhor categoria já trazem vantagens adicionais como 10% extra de dano elemental por exemplo, entre muitos outros, dependendo do equipamento.

Estes loadouts aliados aos ataques por habilidades, tanto nossos como da nossa equipa, opções não nos faltam em combate.

Há muitas habilidades por onde escolher, mas ainda bem que não existem aquelas listas gigantes como noutros rpg, que ficamos assoberbados e não sabemos para onde nos virar. Como tenho frisado, a escolha é nossa e conseguimos desbloquear capacidades de todas as classes, neste caso Fighter, focando-se no ataque corpo a corpo, Ranger (ataque à distância) e Wizard (ataques focados em magia) e são habilidades tanto ativas como passivas e existem entre quinze a vinte por onde escolher e com pelo menos três níveis de melhoramentos.

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Não vou esconder, ao início não gostei muito do combate, demorei um pouco a habituar-me ao movimento e ao alcance das nossas armas brancas, mas acho que é normal num jogo em primeira pessoa (a minha maneira preferida de jogar, mas dá para alterar para a visão em terceira pessoa).

E, ao testar novas armas, aumentar a destreza e sentir o ritmo dos combates, tudo melhora e considero que dentro do género, a Obsidian conseguiu gerir muito bem todas as escolhas que o jogador pode fazer a nível de builds, tornando tudo muito competitivo e apelativo de modo a eu dar comigo a procurar lutas e desafiar-me. Existem até missões Bounty, que temos de caçar inimigos mais fortes, dão um estímulo extra e alguns obrigam-nos a ter atenção extra ao que estamos a fazer.

Considerações finais

A maneira mais fácil de explicar Avowed é dizer que é um The Outer Worlds num mundo de fantasia. Claro que é mais que isso, mas é essa a base.

Como disse no início não esperava este jogo quando vi as primeiras apresentações de Avowed, acho que a Microsoft não tive o melhor marketing e explicar o que seria o produto final, mas claro que é um rpg com marca Obsidian.

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Após jogar um par de horas e ver o mundo que estava à minha frente, percebi que era um jogo à minha imagem, mesmo que não seja o maior fã do género fantasia. Avowed tem em conta o nosso passado, a nossa postura perante os problemas dos vários povos e a nossa posição perante as decisões para o futuro das Living Lands, já que o ponto inicial da história (o aparecimento da Dream Scourge), é o mínimo que nos temos de preocupar.

Avowed é o jogo que esperávamos quando se soube da aquisição da Obsidian pela Microsoft e é o impulso que a Xbox precisava para voltar aos grandes lançamentos.

nota 5 recomendado

+ Criação de um mundo de fantasia
+ Excelente escrita entre diálogos e missões
+ Personalização de habilidades e loadouts
+ As nossas decisões têm realmente peso

– Podia ter momentos mais épicos

N.R.: A análise a Avowed foi realizada numa Xbox Series S com uma cópia do jogo cedida pela Xbox Portugal.