Para o meu pai,
Olá. Sou a tua Aurora, a tua pequena e doce filha. Entretanto cresci, sou uma mulher com dezanove. Mas continuo a ser por dentro aquela pequena menina que não esqueceu o pai. Nunca te esquecerei. E vou continuar sem aceitar que o teu desaparecimento foi obra do acaso. Há quatro anos atrás (1908) desapareceste enquanto investigavas os destroços daquela nave que caiu no nosso planeta, chamada curiosamente Eureka. Nunca deixei de te procurar.
Pai, muito mudou e os humanos já não vivem sozinhos. Os seres que agora coabitam connosco no nosso planeta, os Robotos, são inteligentes e nada mais desejam do que sentirem-se integrados e parte de um bem maior. Sabes, tenho como minha uma destas criaturas adoráveis, o Lackey, É meio trapalhão e tem um péssimo sentido de moda, pois anda sempre só de cuecas, mas é o meu maior companheiro desde que desapareceste. E é com ele e com os amigos que tenho conhecido nesta grande aventura que vou conseguir recuperar-te, trazer-te de novo de volta para mim. Tens ainda muito para me ensinar…
Sabes, apareceram também coisas menos boas com o despenhar da Eureka: os Brainless, robôs com defeito sem consciência que estão sempre no caminho de te encontrar.
Mas nada me parará nesta minha jornada para te ter do meu lado outra vez. Palavra de Aurora.
Aurora’s Journey and the Pitiful Lackey nasce da interatividade da Sony e do estúdio The Not So Great com uma experiência de jogo que pretende tocar em vários subgéneros: disparar, guiar e pensar. E nestas várias vertentes há simplesmente coisas satisfatórias, outras divertidas e outras que não resultam. Mas já lá vamos.
A viagem de Aurora’s Journey and the Pitiful Lackey
Donde esta mi tiempo perdido?
Todos os eventos que providenciam o tão necessário contexto de estória são bastante limitados ou até omissos. Fica difícil de perceber de quem foge Aurora no início, o porquê do seu companheiro de cuecas se afeiçoar a ela e porque são estes Robots os maus da fita. Tudo acontece e ficamos sem perceber o porquê. Mas pronto, ‘bora ajudar a Aurora!
Comecemos então pelo disparar. Apontamos às hordes infindáveis de Robots de três tamanhos distintos usando o analógico direito e disparando com o R2 com movimentos nada confortáveis. Esta combinação parece não resultar. Convém ser rápido no seu extermínio, pois eles multiplicam-se. Alguns têm ainda escudos que nos fazer ter que usar um ataque mais forte, como por exemplo atirar literalmente o Lackey contra os inimigos. Isto resulta geralmente muito bem, mas há uma barra que tem de se encher para poder voltar a fazer voar o nosso amigo em cuecas.
Aurora’s Journey and the Pitiful Lackey tenta ser demasiada coisa ao mesmo tempo, falhando retumbantemente em quase tudo.
Por tudo o que já disse, o combate não é mesmo o melhor deste jogo. A repetição ad nuseum dos inimigos, o apontar desconfortável que parece ter sido mais otimizado para a utilização de um rato do que um controlador de consola e até o ponto de visão de Aurora não facilita a nossa missão, pois fica muito limitado e não vemos muitas das vezes os inimigos que nos assoberbam com ataques que imprimem bastante dano. Pior ainda quando estamos em terrenos desnivelados, pois só os vemos estando demasiado perto de nós; assim somos obrigados a recuar, mas agora começam também os ataques de quem aparece por trás de nós… Uma confusão pegada.
Pensar: Quando investigamos o passado na demanda de saber mais sobre o desaparecimento do pai de Aurora, dirigimo-nos aos destroços da nave de onde vieram todos estes novos habitantes. Temos (mais) combate, mas existem alguns puzzles para superar, que envolvem quase sempre o posicionamento de Lackey num sítio específico, seja por arremesso (talvez uma nova modalidade olímpica, lançamento do Lackey?) ou ao ficar num sítio específico. Há aqui algum desafio, mas tudo parece muito forçado e alguns dos puzzles fazem-nos perder a localização do nosso ajudante, o que nos faz ter que recuar e recomeçar.
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No que diz respeito ao guiar, tem a ver com a entrega de alguns caixotes para ganhar a moeda do jogo que nos permite comprar itens e melhoramentos para a nossa arma, conduzindo uma velha carrinha de caixa aberta com um motor de um qualquer modelo da Maseratti, o que torna a condução quase impossível. Mais: quando perdemos a carga numa destas conduções, temos que voltar ao início, resgatando um novo caixote. Se esta atividade fosse opcional, conseguia perdoar tantas falhas, mas sendo a única forma de obter essa moeda tão importante, foi um suplício ultrapassar esta fase do jogo.
Guapo pero perezoso
No aspeto visual, destacam-se as vibrações mediterrânicas na apresentação dos sítios que visitamos. As personagens têm boas animações, com sombras dinâmicas, principalmente nos “bosses”, embora simplistas. O ambiente entre combates tem muito daqueles vilarejos junto ao mar, com cores vibrantes e música que convida à exploração. Pena isso não ser possível, pois nenhuma porta se abre e pouca interação temos com quem parece por lá viver. É como se tivéssemos descoberto que toda aquela beleza não passava de um cenário de um qualquer filme espanhol. Pena mesmo.
Considerações finais
Aurora’s Journey and the Pitiful Lackey tenta ser demasiada coisa ao mesmo tempo, falhando retumbantemente em quase tudo. Tudo é meio forçado, pouco polido, os visuais e a herança espanhola escapam, mas tudo é pouco desenvolvido e sem grande enquadramento.
As grandes secções de tiros são um suplício, devido à confusão que instaura. Puzzles razoavelmente conseguidos, mas com a dinâmica com a personagem Lackey acabam por obrigar a alguma sorte na sua colocação.
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Essencialmente, é um jogo que parece concebido para funcionar num PC, e que esbarra em todas as barreiras que fazer funcionar um jogo numa consola assim obriga.
Espero sinceramente que a Aurora encontre o seu pai rapidamente. Sem a minha ajuda. E Lackey, veste umas calças, homem.
Aurora’s Journey and the Pitiful Lackey é uma tentativa falhada de meter demasiadas coisas numa paelha jogável e que vai obrigar o jogador a rapidamente meter o prato de lado.
N.R.: A análise a Aurora’s Journey and the Pitiful Lackey 3 foi realizada numa PlayStation 5 com uma cópia do jogo cedida pela Gammera Nest.