A série Yakuza é hoje um dos nomes mais fortes da SEGA, porém esse estatuto não foi conquistado de imediato. Todo o processo de maturação da série foi sendo feito a pulso, apesar de ser um nome que já conta com vários anos de mercado, a verdade é que a série Yakuza ainda se encontra a desbravar caminho no Ocidente, tentando alcançar novos públicos, moldando-se e adaptando-se, apesar de já possuir uma comunidade fiel que segue religiosamente cada lançamento da saga. As fortes raízes que o estúdio Ryu Ga Gotoku conseguiu desenvolver jogo após jogo, começaram da ideia base de Shenmue – a série onde a SEGA quis ser pioneira, investido recursos humanos e depositando dinheiro como ninguém, numa série que parecia estar uma década à frente do seu tempo, mas que infelizmente não singrou como esperado.
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Toshihiro Nagoshi, criador da série Yakuza, que esteve também ele ligado no desenvolvimento de Shenmue, aproveitou parte da essência da obra de Yu Suzuki, porém dando-lhe um toque diferente, sendo mais direto e com mais ação, não tão rústico e mecanizado, nem tão focado numa só demanda. A cada saída de um título Yakuza, foram-se consolidando ideias, não só na construção do mundo particular e detalhado com carimbo de reconhecimento, mas com singularidades que fazem ser uma série única atualmente no mercado, como se tratasse da sua imagem de marca.
Yakuza: Like a Dragon é o oitavo título da série principal de Yakuza, sendo, contudo, classificado no Japão como o sétimo jogo. No Ocidente, a Sega resolveu dar-lhe uma abordagem diferente no mercado para não confundir o público distante da série, até porque o sexto jogo encerra a história do protagonista Kazuma Kiryu, de uma jornada de sete jogos (a contar com Yakuza 0). A série Yakuza pode ser hoje jogada por completo na Playstation 4 (e Playstation 5), tendo a Sega feito um ótimo trabalho para quem gosta de ter tudo numa só máquina, tendo ainda revitalizando a série com dois remakes dos dois primeiros jogos, e ainda remasterizado os três jogos seguintes. Yakuza: Like a Dragon, é, contudo, um jogo independente, sendo, portanto, o jogo perfeito para ser jogado como ponto de partida para o universo das ruas dominadas pela máfia japonesa.
15 anos depois, a mudança arrojada
Esta longa introdução serve de princípio para sensibilizar do peso firme de uma saga com 15 anos estabelecida no mercado, que foi refinando o seu característico estilo de combate do estilo beat ‘em up, mas que agora se transformou num combate de batalhas por turnos, como se de um RPG de estratégia dinâmico se tratasse e com 19 profissões à escolha. Na verdade, Yakuza sempre teve elementos de RPG, num estilo de ação frenético, mas a novidade e a grande reviravolta está na descarta de um modelo que já pouco tinha a ser aperfeiçoado. Este novo estilo de combate, é divertido, ativo, diversificado e altamente consistente, oferecenso ainda a possibilidade de ser combinado de várias formas, dando ao jogador várias formas de abordar um combate que se vai abrindo conforme o progresso do jogo vai sendo feito. A mudança, ao fim de 15 anos, é afinal bem-vinda, e esse tão aperfeiçoado estilo beat ‘em up pode continuar noutras sagas, como tão bem resultou em Judgment.
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Em Yakuza: Like a Dragon o comando do papel principal passa para Ichiban Kasuga, depois de 7 jogos sob o comando de Kazuma Kiryu. Ichiban é um membro ainda em ascensão de uma pequena família Yakuza de Tóquio que se vê determinado a assumir um crime que não cometeu, tudo em prol da sobrevivência da sua família, um compromisso que tem como princípio uma questão de honra e de gratidão. 18 anos cumpridos de cadeia, Ichiban vê que tudo na sociedade mudou e que a sua família Yakuza deixou de existir de uma forma inexplicável, sabendo apenas que a origem dessa decisão partiu do seu chefe, o responsável máximo do clã Arakawa.
Um enredo forte com um novo protagonista ao comando
Ichiban Kasuga, desiludo com os eventos que se sucederam, sobretudo pela traição da pessoa que mais confiava após a saída da prisão decide, Ichiban mudar o rumo da sua vida e embarca numa aventura juntamente com um grupo de mais três falhados da sociedade, sendo eles: Adachi, um ex-polícia, Nanba um ex-enfermeiro, e Saeko, a número um de um espaço noturno. Juntos, começam a perceber que Yokohama se vê cercada por um conjunto de situações que aos poucos vai afundando a cidade para as profundezas do crime obscuro organizado.
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Yakuza: Like a Dragon é um jogo que possui um enredo forte, onde aborda temas sensíveis como os problemas sociais do quotidiano, como a desigualdade, a prostituição ilegal ou até mesmo a eutanásia, assim como também aprofunda o quão pode ser obscuro o crime organizado das máfias, não só japonesa, mas também a chinesa e coreana. Dentro deste lote, a saga Yakuza é também conhecida pela forte presença de personagens marcantes, detalhadamente escolhidas a dedo, que fazem o jogador acompanhar os seus altos e baixos, sem oferecer uma narrativa cliché e previsível. Em Like a Dragon estas qualidades permanecem, Ichiban sucede muito bem o papel de protagonista, depois de vários anos alocado a Kiryu, o que parecia a princípio uma tarefa duríssima.
Demora a abrir, mas a diversão surgirá garantidamente
Yakuza: Like a Dragon tem um ritmo de jogo lento e a liberdade demora a surgir. A decisão do estúdio Ryu Ga Gotoku é previsível, pois o motivo foi abraçar os novos jogadores, introduzi-os de uma forma acolhedora para um universo próprio, mas ainda assim, algumas das sequências poderiam ter sido feitas com animações mais curtas, com possibilidade de libertar o jogador de imediato para outras escolhas. Há também um mau balanceamento de gravação de jogo, principalmente em dungeons, onde a limitação de salvar o jogo é agora presente.
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Em contrapartida, as aventuras paralelas entre combates sangrentos, os minijogos nas máquinas de arcadas ou os jogos como dardos, as partidas de karts (uma novidade), ou os passatempos lunáticos e as ocupações para todos os gostos e feitios, continuam diversificados e bastante divertidos. O sentido de humor também não desapareceu e é claramente hiperbolizado por vezes de uma forma completamente desmesurável, mas sempre de uma forma contextualizada, encaixando-se dentro da fórmula ímpar da série. Em Like a Dragon em particular, para os fãs de RPGs, as referências a outros títulos que marcaram este género de jogo, são aos magotes, entre eles o clássico Dragon Quest, em que Ichiban é um admirador assumido.
Graficamente Yakuza: Like a Dragon não muda muito do que foi o seu antecessor, onde o Dragon Engine volta a fazer maravilhas visuais, embora por vezes apareçam algumas animações um pouco bizarras durante as batalhas ou até mesmo em espaços mais curtos durante a exploração. Ainda assim, as ruas são vivas, detalhadas, e os momentos de cenas de ação são de uma beleza de ser referido. A banda sonora é também um dos pontos fortes não só deste Like a Dragon mas também de qualquer jogo da saga. As inúmeras músicas de karaoke estão de volta, onde os adeptos de jogos musicais poderão pôr à prova as suas habilidades em acompanhar com o comando as músicas sem estragar o ritmo de cada uma delas.
Considerações Finais
Yakuza: Like a Dragon abre caminho para uma nova fórmula que convence de imediato. O novo protagonista consegue, de uma forma subtil, encarregar-se de oferecer uma história forte tal como vem sendo hábito na série Yakuza. O novo estilo de combate é fresco e incrivelmente bem equilibrado, podendo ser dinâmico se o jogador assim o entender, dando instruções automáticas, tornando tudo ainda mais fluido.
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O progresso do jogo é, porém, um pouco mais lento do que foi costume então noutros jogos da série, o que, pode ser compreensível visto que serve de enquadramento para os novos jogadores, mas ainda assim poderia ter sido melhor. Like a Dragon consegue ser divertido, emotivo, longo, e diversificado, a entrada perfeita para os novos jogadores, e uma casa segura para os jogadores veteranos.
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N.R.: A análise a Yakuza: Like a Dragon foi realizada numa Playstation 4 com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente disponibilizada pela EcoPlay