“Quem sabe o fim? Aquilo que se ergueu pode-se afundar, assim como aquilo que se afundou, pode muito bem erguer-se. A repulsa aguarda, sonhando nas profundezas e a decadência alastra-se pelas frágeis cidades do Homem.” – H.P. Lovecraft
Estas são as palavras que Howard Phillips Lovecraft usaria para descrever uma cidade que tivesse sido abalada por uma força da natureza invulgar e que trouxesse alguém para procurar nela uma maneira de curar as suas visões de criaturas tão abomináveis que um ser humano jamais consideraria existirem… Ao mesmo tempo que enlouquece.
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Mas elas existem, e não são nada amigáveis. Pode-se dizer que poderão perder a vossa sanidade mental com o jogo que tive para análise. Da autoria da Frogwares Studio (o mesmo estúdio que criou os jogos da série Sherlock Holmes) é possível que a vossa mente não fique sã quando puserem os pés em Oakmont, The Sinking City.
De pista em pista…
Começamos a nossa aventura, conhecendo o nosso herói que iremos controlar ao longo do jogo, um antigo marinheiro que se tornou detetive privado, de seu nome, Charles Reed. Charles tem tido pesadelos recorrentes sobre uma cidade que ficou submersa por causa de uma entidade desconhecida que o chama incessantemente para pôr um fim à sua vida.
Mesmo com tudo isto Reed é chamado para investigar um caso, que corresponde aos seus pesadelos, em Oakmont, Massachusetts. Quando este chega ao seu destino a tragédia acontece! O filho de Robert Throgmorton, o líder da família Throgmorton desaparece. Robert apesar de não gostar muito de Reed reconhece os seus talentos e mete-o logo a trabalhar no caso para saber onde está o seu filho e de quem é a responsabilidade deste misterioso desaparecimento.
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Depois de Reed descobrir a luta entre os Throgmortons e os Innsmouthers, este fica envolvido no meio de tensões entre estes dois grupos. Mas isto não é tudo, Reed vê-se também na presença de um misterioso culto que poderá estar a tentar trazer algo de diabólico e macabro para aquela cidade.
Tal como Reed, o detetive que interpretamos nesta aventura, podemos apreciar o sistema de investigação que foi implementado no jogo, sendo que aqui somos nós que teremos de descobrir as pistas para conseguirmos dar continuidade à nossa passagem por esta Sinking City… Para tal temos que passar a pente fino tudo o que virmos no local onde estamos a fazer a nossa investigação, isto implica um pouco de tudo: Desde ler noticias num jornal até analisar objetos pessoais da vitima ou até mesmo do possível culpado.
Com este método de investigação não sentimos que o jogo nos esteja a segurar a mão para nos guiar até ao próximo ponto. Temos que ser nós a continuar em frente, tirando as nossas próprias conclusões com ajuda das pistas que vamos encontrando, sendo que estas podem levar a múltiplas escolhas na altura de prosseguir com o nosso raciocínio.
A frustração está presente
Para não perdermos as pistas que vamos encontrando, estas vão sendo categorizadas pela ordem ou até pelo tipo de pista. Isto facilita em certos aspetos, como por exemplo descobrir para onde devemos seguir… Até porque durante o decorrer de The Sinking City vão encontrar momentos onde têm de marcar no mapa o sítio onde teremos de ir. Saber para onde ir nem sempre é fácil dado que uma boa parte das ruas do jogo e os prédios espalhados pela cidade são praticamente iguais.
O facto das ruas parecerem todas iguais pode originar momentos de frustração, a cidade está inundada e grande parte das viagens que fazemos de barco acabam por ser lentas e de navegação difícil, até mesmo carregando no botão de andar mais rápido não se nota muito e a cidade sempre igual não mostra muito. Isto acaba por parecer um bocado desinteressante e inadequado para um jogo deste estilo. Durante a jornada teremos de estar atentos a cabines telefónicas que nos servem como pontos de viagem rápida e também como checkpoints se morrermos durante o jogo.
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Ao começarmos o jogo reparamos que existem duas barras: Uma para a nossa vida e outra para a nossa sanidade. Esta segunda barra, a da sanidade, será importante para as nossas pesquisas. Reed tem uma habilidade chamada de Mind’s Eye, mas o que é isto?
Mind’s Eye é um poder que pode ser usado para desvendar pistas que não estejam a olho nu, reconstruir a cena do crime por ordem do que aconteceu ou até mesmo descobrir para onde o culpado poderá ter escapado. Mas cuidado, porque quanto mais tempo usarmos esta habilidade mais a nossa sanidade vai baixar e acabamos por ser afetados por criaturas que aparecem numa espécie de fumo negro ou até mesmo levar a nossa própria personagem a por uma pistola na boca.
Este sistema faz lembrar muito o que Eternal Darkness da Nintendo Gamecube fez com esta jogada da sanidade, o que fez muitos acreditar que teriam simplesmente desaparecido do jogo ou até mesmo perdido o ficheiro do Save de vez. Com Eternal Darkness esta forma de encarar o jogo resultou muito bem e foi deveras impressionante naquela altura dos videojogos já que muitos dos jogos de terror que existiam nunca tinham usado algo assim… The Sinking City voltou a pegar nesta carta e resultou muito bem.
E o combate como é que é?
Mas claro quando funcionalidades são adicionadas há sempre alguma consequência, neste caso isso vê-se no sistema de combate. Ao longo da jornada Reed terá de enfrentar os “Wylebeasts”, um nome que os cidadãos de Oakmont deram a algumas das míticas bestas que Lovecraft criou na sua mitologia, e que existem de todos as formas, feitios e tamanhos (desde pequenas aranhas até sacos de monstros com uma junção de lesmas) por toda a cidade, até mesmo debaixo da água, para tornar a nossa exploração ainda mais “agradável”.
Posso afirmar que lutar com estas bestas é sempre uma dor de cabeça. Uma das dicas que nos dão durante os tempos de loading é se virmos uma criatura destas, a melhor opção é sempre fugir delas… Mas na verdade algumas das vezes teremos de lutar com elas porque aparecem precisamente em sítios que teremos de investigar. Isto faz com que a nossa sanidade seja consumida mais rapidamente… E se pensam que estão seguros na sala ao lado, não estão! Se a criatura estiver por perto a sanidade de Reed vai continuar a ser afetada.
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Muitas das lutas que encontrei foram completamente desnecessárias e incomodativas. Reed não é uma personagem muito rápida, a arma dele parece uma pá que muitas das vezes passava por completo pelo inimigo, até mesmo dos maiores que encontrei. Já o uso de uma pistola era algo que deveria ter sido refinado já que muitas das vezes o jogo não registava os meus tiros. O facto de não registar os tiros ainda se torna mais incomodativo pois também tive que ter cuidado porque neste jogo as munições são usadas como moeda de troca e os recursos são escassos… Deixo o conselho: Tenham cuidado com o vosso inventário.
Lembram-se das cabines de telefónicas que falámos anteriormente? Como disse, para além de se tornarem um ponto de viagem rápido são também usadas como pontos para vocês voltarem atrás caso tenham perdido contra um monstro na cidade ou mesmo debaixo da água… Mas claro, morrer não deve ser fácil. Em The Sinking City não é fácil porque tudo o que gastaram nas lutas não volta depois de terem ressuscitado.
Quando tem que voltar a uma dessas cabines a vida recomeça, mas só um terço e os monstros que derrotaram voltam à vida outra vez o que se torna um pouco frustrante. Durante o decorrer do jogo fui encontrando alguns glitches e bugs, existiu até um caso onde, sem saber como, todo o meu progresso foi apagado. até mesmo um que não consigo explicar que, literalmente, apagou todo o meu progresso e tive de recomeçar do zero. Espero que alguns destes bugs sejam corrigidos em atualização futuras se não o foram já.
Considerações Finais
The Sinking City é um jogo aceitável para os amantes de jogos sobre mistério e amantes de Lovecraft mas infelizmente para uma boa parte dos jogadores este não será o jogo que tanto antecipavam desde que foi anunciado. A Frogware poderia ter utilizado certas mecânicas que usou nos jogos de Sherlock Holmes que fariam com que este título se pudesse destacar no mercado. No fim, nem mesmo com o culto a bater à porta fiquei excitado com o jogo… Mas também não fiquei muito desapontado.
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Há partes que poderiam ter sido melhoradas, deixando o jogo mais apelativo. Só poderei recomendar este jogo aos amantes de Lovecraft e do Cthulhu Mythos criado por este. Esses fãs irão apreciar este jogo mesmo que sejam necessárias grandes doses de paciência para o completar.
“Ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn.” … “In his house at R’lyeh dead Cthulhu waits dreaming.” – The Call of Cthulhu
N.R.: A análise a The Sinking City foi realizada numa PlayStation 4 com acesso a uma chave digital gentilmente cedida pela Upload Distribution