Nos tempos que vivemos há poucos prazeres melhores do que um livro, uma boa série e um jogo que nos cative. Essa procura pelo encantamento pode dar-se por diversas razões quando se fala de amor por um videojogo. Por vezes são aqueles pormenores que se tornam “pormaiores”, aquelas referências mais intricadas e menos óbvias que tornam o mais banal dos jogos numa obra de arte icónica. Nesse aspeto Scott Pilgrim vs. The World: The Game pode não apresentar a premissa mais interessante, mas o que será que acabou por tornar esta obra já com uma década num objeto de culto, tal como a banda desenhada de onde origina? Será que envelheceu mal, como por vezes acontece a elementos tão marcantes duma época?
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Estará Scott e a sua demanda pelo amor completamente ultrapassada, ou vencerá o amor novamente, dez anos depois?
As saudades que eu já tinha…
Os beat’em ups sempre foram um género que atraíram um sem número de jogadores ao longo das diferentes gerações de consolas. Golden Axe, Streets of Rage e Final Fight, para nomear apenas alguns, sempre apelaram aos golpeadores de botões dentro dos jogadores. Primeiro nos salões de arcadas que derreteram corações e mesadas em quantias iguais por esse mundo, e depois no conforto das casas cheios de amigos, com os quais se criavam estratégias para chegar ao seu final, passando por inimigos diversos e batalhas de bosses épicas.
O género parece ter caído numa espécie de marasmo, encoberto por memórias de juventudes que já não voltam. Em 2010, uma pequena equipa da Ubisoft trazia para a ribalta Scott Pligrim Vs. The World, que parecia combinar este mundo estético e a jogabilidade que todos amaram em certa altura da sua idade de jogador, combinado com a banda desenhada de culto de Bryan Lee O’Malley que trazia para a ribalta a cidade puramente geek de Toronto, bem como uma série de problemáticas amorosas combinadas com um estória completamente louca e com música sempre a bombar. Depois de uns anos fora de todas as plataformas, eis que voltam à carga com este Scott Pilgrim vs. The World: The Game numa multitude de plataformas, com o mesmo desejo de recordar ao mundo que ainda há bons beat’em ups sem terem que limpar o pó aos cartuchos 16-bits. E em boa hora que o regresso se deu.
O amor em 16-bits
Todos os que experimentaram um dos mais variados jogos deste género vão sentir-se imediatamente em casa. Há ruas para percorrer, cheios de mauzões prontos para acabar mais cedo a viagem de vingança de Scott. A cada fim de rua, há um boss para defrontar, um ex-namorado de Ramona Flowers, o seu amor de sempre e para sempre, com quem sonhou mil e uma vezes, cada um mais desvairado que o outro, tornando cada um destes combates diferenciados e sendo até a certa altura de proporções épicas, devido às transformações loucas que cada um deles vai apresentando por forma de golpes completamente desmesurados ao longo das batalhas. Super divertido. Podia ser uma fórmula desgastada pela idade e pelo número de títulos que a usaram, mas estes toques de nostalgia são boa parte da incrível experiència que este jogo com dez anos apresenta.
O geek em nós
Há Super Mario, há Street Fighter, há tudo nesta mescla de boas vibrações que Scott Pilgrim vs. The World: The Game transmite. Há referências rebuscadas a jogos menos conhecidos, há evoluções de personagens com laivos de RPG num videoclube, onde todos os cêntimos contam para conseguirmos equipar aquela t-shirt da nossa banda favorita ou aquele livro de receitas veganas que vai ser essencial para evoluir a nossa personagem, com o desbloqueio de um novo golpe poderoso ou simplesmente para melhorar a nossa capacidade de absorção de golpes. Tudo é feito de forma ligeira e divertida, mas esta evolução é realmente importante: à moda de muitos outros beat’em ups da altura, o jogo pode ser intransigente e exigente. Há empenho e suor nos dedos associados a esta festa de cor, luz e som de início de milénio.
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Há até neste regresso de Scott, Ramona e companhia acesso a um modo Battle Royale que promete mudar o paradigma da luta até agora centrada na luta romântica de Scott, podendo ser partilhada com mais três amigos e tornar o jogo agora numa luta todos contra todos, que pode ser bastante divertida. Existem ainda mais três minijogos, mas que acabam por ser relativamente interessantes: Dodgeball, com bolas a voar por todo o lado (sabe-se que o jogo do mata é levado bem a sério no Ocidente, sendo mais uma referência ao mundo dos liceus norte americanos), Boss Rush, para os obcecados com um nível de dificuldade acentuado e ainda Survival Horror, juntando zombies à festa.
Considerações finais
Scott Pilgrim vs. The World: The Game é ainda tudo aquilo a que nos habituou há dez anos atrás. Um frenesim de lutas com ursos de peluche, homens vampiros e ex-namorados com golpes loucos. Tudo isto bem regado com uma banda sonora com ritmo alucinante e uma beleza 16-bits que faz o jogador voltar a tempos mais simples.
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Esta obra exige reflexos rápidos e algum conhecimento das inúmeras referências a videojogos que se espalham pelos níveis, pelos menus… Um regalo para os olhos do geek no meio de nós.
Scott Pilgrim Vs. The World: The Game tem a estória romantizada, tem a música super bem conseguida, tem os visuais com sprites de fazer babar qualquer jogador adulto de décadas anteriores. Bem-vindo sejas de novo, Scott, seu nerd mai bom!
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N.R.: A análise a Scott Pligrim Vs. The World: The Game foi realizada no Google Stadia com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Google.