A definição de livro foi mudando desde os primórdios da escrita. Longe vão os tempos do papiro e da caligrafia a tinta e pena. Passando centenas de anos em fast-forward, a introdução das histórias no mundo dos videojogos continua a ser um mercado de nicho, pois há quem não entenda o porquê da sua existência num mundo que vive quase em exclusivo para estimular os olhos e os ouvidos. Root Double é um belo exemplo de uma saga que foi crescendo ao longo dos anos e que foi conquistando cada vez mais seguidores com as suas tramas emocionantes cheias de escolhas que semeiam a dúvida no mais conhecedor dos jogadores, juntando a esta fórmula os ingredientes da ficção científica e da animação.
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Chega-nos Root Double -Before Crime * After Days- Xtend Edition, que pretende conquistar com esta sua obra de há cinco anos um núcleo de seguidores na pequena consola japonesa. E em boa hora que apareceu para a Nintendo Switch.
Penso, logo faço.
2030, Japão. O físico e emocional foram definitivamente substituídos pelo psíquico, tendo sido desenvolvidas habilidades que parecem substituir a forma como se vive e interage. O jogador pode acompanhar nove personagens, todas com uma amplitude de personalidades e formas de lidar com este admirável mundo novo bem distintas, enriquecendo a experiência desta novela gráfica traçada com conteúdo de animação japonesa de ficção científica.
Todas estas personagens e as suas diferentes histórias convergem num só mesmo acontecimento: uma explosão no LABO, laboratório onde tudo acontece e de onde tudo deriva, a que todos têm uma ligação bem pronunciada desde o início e outros que é preciso deslindá-la.
Conseguimos ter acesso de imediato a dois caminhos apelidados de roots, que nos permitem acompanhar os morosos acontecimentos de diferentes grupos de personagens: o primeiro, aquele que mais tempo vai pedir ao jogador (são longas e longas horas de texto), em que acompanhamos os intervenientes mais crescidos desta panóplia de caminhos entrelaçados entre sobreviventes do dito acidente no laboratório que está no epicentro de tudo. Já a segunda história dentro da história envolve os elementos mais jovens, acompanhando com diálogo bem traduzido e sem qualquer tipo de gralha (trabalho que deve ser enaltecido tal não é a quantidade de texto envolvido) o desenvolvimento das suas relações voláteis, com o foco numa das personagens que tenta fugir à dita explosão.
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Há mais caminhos para desbravar, mais raízes escondidas para ler e reler, tomar opções e ligarmo-nos às personagens bem conseguidas. Esta novela gráfica não será certamente o tipo de experiência que agradará a todos, mas os fãs do género têm aqui algo para os entreter nas longas noites de natal que se aproximam… E também as noites de natal do próximo ano.
SSS
Em Root Double não há puzzles nem grandes escolhas para onde ir. Os caminhos são longos e estão de certa forma já traçados. A forma como se percorrem é que cabe ao jogador decidir. Não há escolhas através dos textos como é comum neste tipo de aventuras. A grande novidade, que é também uma das formas mais intensas sobre o qual foi feito o marketing para vender o jogo, anda à volta de algo denominado como SSS (Senses Simpathy System). Ao progredir na história e deparando-se com algumas cenas, o jogador terá um pequeno gráfico que aparecerá no ecrã de jogo, a que se segue o pressionar do botão das opções e é aqui que mecânica se inicia. A intenção é bem inovadora: podemos decidir qual é a nossa relação com os NPC’s que se encontram, qual o nível de ligação que se tem com eles. A forma como decidirmos ligar-nos a essas personagens em detrimento de nos ligarmos mais a nós próprios vai desencadear reações com multiplicidade de fins, uns mais agradáveis que outros, alguns causando mesmo a morte e o recomeço num dos habituais pontos de salvamento.
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A ideia é muito boa, levando a um raciocínio de como irão as personagens reagir para o jogador ser muitas vezes surpreendido como acontece na vida real. Mas tomar a opção que se quer foge muitas vezes do dedo do jogador, o que pode levar a eternas repetições das mesmas secções que não podem ser “saltadas” e que pode ser algo que aborreça o menos paciente dos leitores/jogadores… E quando alguém morre, uma das personagens ou a própria personagem principal, o recomeço do save é certinho. Um exemplo de uma boa ideia mal concretizada, mas com potencial para ser introduzida até noutros tipos de jogos.
A beleza também tem letras
Root Double não tem apenas as fontes mais bonitas. Apesar da “ação” consistir muito nas leituras que temos de fazer para seguir os devaneios de algumas personagens, a arte apresentada não tão ocasionalmente como se podia esperar é mesmo bem conseguida, seja em modo portátil ou numa televisão. Há sangue, corpos caídos, pequenos amores envergonhados e cenas de ação muito bem representadas e que ajudam a dar um colorido à mais infértil das mentes.
Considerações finais
Root Double -Before Crime * After Days- Xtend Edition é bem mais do que um livro digital de proporções quase bíblicas. Todas os seus diferentes caminhos têm as suas personagens e acabam por se ligar no fim, criando aquela satisfação que só uma história envolvente e bem composta pode dar. As opções tomadas têm de facto consequências no término de cada subaventura.
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A grande inovação (a mecânica SSS) acaba por não resultar totalmente e torna tudo mais confuso e difícil de interpretar os tão desejados fins. Este é daquelas obras que convém jogar com caderninho ao lado, apontando as decisões.
Clica na imagem para mais informação sobre as nossas classificaçõesRoot Double -Before Crime * After Days- Xtend Edition é um triunvirato em bom que conjuga animação, ficção científica e muitos carregamentos de bateria para aguentar a sua história incrível.
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N.R.: A análise a Root Double foi realizada numa Nintendo Switch com uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela PR Hound.