Análise Strikers Edge: Bruxas, ninjas e vikings em batalhas medievais

Em 2014 nascia a ideia e em 2016, com a Fun Punch Games a arrecadar a vitória nos Prémios PlayStation, essa ideia ganhava um novo ímpeto. A partir daí Strikers Edge deixou de ser um jogo criado em part-time, como muitas vezes acontece em Portugal, para passar a ser uma das principais bandeiras dos videojogos desenvolvidos em Portugal.

O jogo passou pela Electronic Entertainment Expo (E3), South by Southwest (SXSW) e PAX South, três eventos nos EUA, passou pela Gamescom, na Alemanha, e também pelo EGX, no Reino Unido. Quatro anos e 60 mil euros depois, Strikers Edge chega finalmente amanhã, 30 de janeiro, à PlayStation 4 e aos computadores através do Steam.

O jogo chega numa altura em que o grafismo dos videojogos está mais avançado do que nunca, mas também chega numa altura em que os jogos indie já mostraram que o aspeto não é tudo. Em Portugal já temos outros exemplos de videojogos com direções artísticas que apostam num grafismo retro, como Quest of Dungeons ou Greedy Guns. Mas será que o público está pronto para aceitar mais um título com um estilo de arte tão próprio, como é o caso de Strikers Edge? 

 

Olá arcade, como estás?

Strikers Edge pode ser visto como uma interpretação medieval do tão conhecido ‘jogo do mata’, no qual o objetivo passa por derrotar os adversários que se encontram do outro lado da arena, arremessando-lhes as nossas armas até que, por fim, caiam derrotados. Um jogo de aprendizagem rápida, mas que pode levar algum tempo até ser controlado de forma mais audaz.

As teclas são fáceis de memorizar: analógico esquerdo para mover o Striker pela arena; analógico direito para controlar a direção da nossa arma; L1 e L2 para a defesa e R1 e R2 para o ataque. O grande problema está em conseguir mestria suficiente para controlar as teclas de forma a conseguir mover-se na arena enquanto faz mira e ainda se preocupa em bloquear ou desviar de um ataque… A certo momento fez-nos lembrar das máquinas de arcade e dos bons momentos que garantiam.

É fácil de perceber que a Fun Punch Games foi buscar alguma inspiração aí mesmo, ao lado mais saudosita e competitivo dos jogos de arcada. Dizemos isto não só pelos menus simples e pelo aspeto gráfico do jogo, mas também por todo o ambiente criado em torno das personagens e das arenas de combate.

Tudo isto, em conjunto com uma banda sonora bastante característica (caso se torne cansativa tem a opção de reduzir ou mesmo remover a música), facilmente nos transporta para um salão de videojogos das décadas passadas – carregada de emoção, sons fortes e muita animação facilmente e onde as horas passavam sem que ninguém desse por elas. É esta também a essência da experiência que nos dá Strikers Edge.  

Strikers diferentes, histórias sem igual

Em termos de modos de jogo Strikers Edge foi feito para agradar a gregos e a troianos: há um modo campanha, para quando estiver sozinho ou quiser aprimorar as suas capacidades de luta, e um modo online para quando quiser mostrar ao mundo os seus arremessos.

O modo campanha leva-nos a conhecer a história de cada um dos heróis medievais. No total existem oito Strikers, cada um com as suas próprias características e com uma história diferente em que só um elemento pode ser considerado comum – todos encontraram um Espírito que inicialmente estava presente num cristal chamado Godsblood. Este cristal foi formado há muitos séculos numa batalha entre deuses e o sangue aí derramado caiu na cidade de Gea e cristalizou.

Depois de muito tempo esquecidos, os cristais começaram a ser encontrados pelos Strikers, dando-lhes habilidades especiais e aumentando as suas próprias personalidades a um extremo quem nem sempre é benéfico.

O modo campanha passa-se em Gea, onde vamos combater contra outros Strikers na luta pelo nosso objetivo. Como não lhe queremos estragar a trama do jogo, vamos apenas dar-lhe a conhecer um pouco da história de cada um dos Strikers para lhe abrir o apetite e para que se possam lançar à aventura.

Eir – Uma destemida Valkyria que em tempos não passou de uma criança fraca. Constantemente cercada de injustiças, muitas vezes tentou enfrentá-las, mas sem ajuda não havia muito que pudesse fazer… Até que encontrou um cristal Godsblood que a transformou na guerreira lendária que é hoje em dia. Eir, possuída pelo Espírito de Justiça presente no cristal, viajou por Gea à procura de injustiças para combater e criatura malvadas para castigar. A sua arma é uma lança que com a habilidade especial cria um rasto que mais tarde pode fazer arder, provocando assim dano aos inimigos.

Argalus – Um Espartano que outrora foi deixado a morrer depois de, juntamente com o seu exército, ter sido apanhado numa armadilha enquanto procuravam por Gnaeus, um traidor que tinha escapado ao emperador. Depois de encontrar o cristal, cego pela raiva, tornou-se o vassalo do Espírito da Vingança. Argalus viaja por Gea na esperança de encontrar o traidor Gnaeus. A arma de eleição é também a lança, mas com o auxílio de um escudo que pode ser arremessado ao adversário.

Urgül – Um poderoso chefe tribal até ao dia que foi desafiado por um homem chamado Ursus. Este homem estava possuído pelo Espírito da Força, mas Urgül conseguiu derrotá-lo. No calor da batalha o bárbaro aceitou que o Espírito o possuísse, vagueando agora por Gea em busca de adversários poderosos que possam saciar a sua sede por batalhas. A sua arma são as adagas, mas não pense que são umas meras fac – com a sua habilidade especial este Stricker pode lançar uma corrente com um gancho que permite puxar o inimigo e baixar as suas defesas por alguns momentos.

Laël – Desde jovem que Laël teve noção do poder destrutivo que o homem tinha sobre a natureza. Um dia, foi testemunha da vingança… Um urso, possuído pelo Espírito da Natureza, atacou e matou um conjunto de lenhadores ficando mortalmente ferido durante o combate. Laël testemunhou também a morte do urso aceitando depois o papel de protetora da natureza. Agora, passa o tempo a proteger a vida selvagem com o seu arco e flecha. A sua habilidade especial faz com que dispare uma flecha em chamas que enquanto vai em voo pode ainda ser dividida em duas e direcionada em sentidos opostos.

Galad – Devido a um acidente à nascença, Galad sempre teve que lutar mais do que os outros para ser aceite. A dor transformou-se em orgulho e depois de quase derrotado durante um torneio, Galad aceitou o Espírito do Orgulho e usou o seu poder para matar o irmão do cavaleiro que quase o derrotou. Forçado a fugir, é agora um mercenário que vagueia pelo mundo à procura de quem esteja disposto a pagar pelos seus serviços. Galad usa uma espada em lança que quando usada com a sua habilidade especial pode pregar os inimigos às paredes, dando assim a oportunidade de mais ataques sem hipótese de fuga.

Bjërg – Perdeu a família enquanto assaltava uma aldeia. A dor e o luto quase que o levaram a loucura, mesmo depois de matar os trolls responsáveis. O destino interveio e Bjërg encontrou um dos cristais, descobrindo depois que existem poderes na cume da montanha Skydream que podem trazer a sua família de volta. Sem quaisquer remorsos pelas consequências causadas pela sua cruzada aceitou ser guiado pelo Espírito da Dor. Bjërg usa dois machados que quando combinados com a sua habilidade conseguem criar uma curva e colidir no meio da arena apanhando o inimigo desprevenido.

Tamsin – Uma feiticeira que quando assustada com a ideia de morte procurou nos livros de magia negra uma forma de se livrar de tal destino. Ao pensar ter encontrado a solução, invocou um demónio que se mostrou demasiado poderoso e a fez perder o controlo. Forçada a teletransportar-se para uma ilha vulcânica, encontrou um cristal com um espírito que lhe contou sobre o poder escondido por debaixo da montanha Skydream, poder esse que podia ser usado para derrotar o demónio e conseguir assim a vida eterna. Para as suas batalhas, Tamsin usa o seu poder para invocar os elementos do fogo e da água, lançando fogo e gelo na direção dos seus inimigos.

Haru – Um ninja vítima de um amor proíbido viu-se preso entre a honra e a vergonha depois de ser descoberto. A morte era a única saída, mas o suicídio não lhe trazia a honra pretendida e para não trazer mais desonra à sua família, Haru deixou para trás a sua casa e vagueou pelo mundo. Com o passar do tempo encontrou o Espírito da Vergonha. O espírito contou-lhe sobre o ser que vivia debaixo da montanha Skydream, ser esse que o iria derrotar e trazer-lhe o que mais queria… Uma forma de morrer com honra. Haru usa Shuriken e Kunai como armas, estrelas e facas ninja, nas suas batalhas.

Multijogador, um universo a explorar 

Antes de entrar em qualquer um dos modos de jogo é importante que faça o tutorial disponível no menu principal, é aqui que vai aprender as teclas de que lhe falámos, mas também é aqui que vai perceber como controlar a resistência do Striker com que está a jogar. Em cada batalha terá por cima do seu Striker duas barras, a barra com o nível de vida e a barra com a resistência da sua personagem. A resistência é muito importante, pois sem ela não consegue atacar ou mesmo esquivar-se de um ataque adversário.

Porque é que só falamos disto agora? Simples: porque é aqui, no modo multijogador, que Strikers Edge cresce e onde realmente vai ser necessário ter em atenção, mais do que nunca, o aspeto estratégico do jogo. Deixa de ser só atacar e defender, e passa a ter que planear também, estudar os movimentos do adversário para conseguir perceber quando atacar e para onde direcionar a sua arma de forma a atingir o adversário o máximo de vezes.

No multijogador temos dois modos, o 1vs1 e o 2vs2, ambos disponíveis online e offline. O modo de campanha em dificuldade normal é agora uma miragem e os ataques são cada vez mais rápidos e precisos, principalmente se jogar contra adversários que já controlam os comandos e as habilidades dos Strikers com naturalidade.

Como dissemos, os ataques são cada vez mais rápidos, o que significa que a defesa também tem de ser feita com uma maior destreza, quase que deixa de existir tempo para pestanejar… Caso o faça arrisca-se a ser atingido sem piedade.

Aproveitando o lado frenético das lutas online, a Fun Punch Games mostra também estar atenta ao crescimento dos eSports e das comunidades de jogadores que se juntam em serviços de livestream. Com estes conceitos em mente e focados no crescimento de Strikers Edge, o modo online permite uma ligação entre o título e a conta Twitch do jogador. Este ‘modo streamer’ faz com que o jogador deixe a sua audiência online representar a audiência presente em cada uma das arenas e com isto influenciar o decorrer de cada batalha, seja com algumas ajudas ou mesmo com algumas tentativas de estragar o combate. Este modo está disponível apenas para jogadores de PC, mas esperamos que no futuro possamos ver este modo também na PlayStation 4.

Considerações finais

Strikers Edge aparenta ser um título simples de jogar, mas à medida que vamos tendo mais horas de jogo percebemos que se trata de um título cheio de grandes desafios. As histórias estão bem criadas, o que nos faz querer experimentar cada uma das oito campanhas disponíveis, mas o que nos faz ficar agarrados a este título da Fun Punch Games é o ritmo avassalador a que se joga uma partida multijogador… Espadas, flechas, facas e até machados a voar pela arena vão fazer com que os níveis de adrenalina subam e que queiramos jogar “só mais uma partida”.

A Fun Punch Games tem em mãos um título cheio de potencial, com tudo o que é preciso para amadurecer e crescer no cada vez mais competitivo mundo dos videojogos. Não estranharíamos de todo se dentro de alguns meses Strikers Edge apresentasse já uma comunidade de jogadores dinâmica e ‘certinha’, no sentido em que terá sempre aqueles ‘clientes’ prontos para uma batalha. Se assim for, não fique espantado se daqui a algum tempo começar a ouvir falar de torneios online dedicados a esta produção portuguesa.

Strikers Edge acaba por ser uma lufada de ar fresco para a indústria dos videojogos, em Portugal e não só. Um título divertido, com a dose necessária de ação e com a capacidade única de deixar o jogador em frente ao ecrã por horas a fio. Será este um momento de viragem para a indústria do gaming em Portugal? Não sabemos, mas até lá…

… Encontramo-nos em Gea!

 

N.R.: Strikers Edge foi analisado com uma cópia do jogo disponibilizada pela Sony Interactive Entertainment Portugal

Strikers Edge
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Modo multijogador
Efeitos Sonoros
Jogo cativante
Sem possibilidade de alterar sensibilidade dos controlos
Música acaba por se tornar cansativa
'Modo Streamer' apenas disponível em PC
9
EM 10
André Oliveira Santos: Licenciado em comunicação, a trabalhar em fotografia. Sempre tive um gosto especial e uma grande paixão por gadgets, videojogos e novas tecnologias no geral.
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