A Samsung é a marca que mais smartphones vende em Portugal. Isto significa que é uma marca que tem um bom desempenho comercial em quase todos os segmentos de mercado onde opera. Por muito bons que sejam os seus modelos topo de gama, como o Galaxy S8, num mercado que ainda se rege muito pelo preço é necessário apresentar propostas interessantes em diferentes segmentos de preço.
As linhas Galaxy A e Galaxy J têm ajudado a construir esta popularidade. Sempre foram propostas equilibradas no que diz respeito ao preço, às especificações e à experiência de utilização. Acontece que nos últimos anos o mercado dos smartphones de gama média ficou muito concorrido.
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Marcas como a BQ, a Wiko, a Huawei, a Xiaomi e a Asus têm dado bastante luta no segmento de gama média, pois conseguem apresentar equipamentos com uma boa relação qualidade-preço. Depois há elementos nestas marcas que no papel superam as propostas da Samsung – a Xiaomi consegue ter preços mais reduzidos, a BQ tem uma experiência do Android quase pura e a Asus tem um bom desempenho na fotografia.
Resumindo: existem dezenas de propostas tentadoras que desviam os consumidores daquele que é um dos mais importantes mercados para a Samsung.
Mas a tecnológica sul-coreana não está parada no tempo. Todos os anos renova as suas principais linhas de equipamentos e recentemente testámos o novo Galaxy J7. Podemos dizer que neste caso o ‘J’ é de jeitoso, pois o dispositivo revelou-se uma boa surpresa tanto no seu desempenho, como na qualidade de construção.
A Samsung não tentou capitalizar em demasia a sua marca neste equipamento – os 300 euros que paga pelo smartphone são perfeitamente justificados pela experiência que ele garante.
Aprender com os melhores
É uma estratégia que a Samsung já usa há vários anos e que ainda não ficou ‘velha’: pegar em algumas características dos seus modelos topo de gama e aplicá-las a modelos de gamas inferiores.
No Samsung Galaxy J7 isto é acima de tudo notório não tanto no hardware, mas sim no software. Este smartphone ostenta a mesma versão do Android 7.0 que a tecnológica sul-coreana utiliza no seu topo de gama Galaxy S8. A experiência de utilização do interface Samsung Experience está toda lá, à exceção do assistente digital Bixby.
Por exemplo, temos funcionalidades como o Always on Display – informações básicas sempre disponíveis no ecrã – e como o filtro de luz azul que é ideal para a utilização do smartphone durante a noite. Não sendo características que tornem o equipamento numa compra obrigatória, são mais-valias para a experiência geral com o smartphone e acabam por dar um sentimento de novidade e frescura ao Galaxy J7.
A utilização de interface Samsung Experience no J7 também faz com que o smartphone tenha um bom desempenho no quotidiano. A gigante asiática tem vindo a aprimorar cada vez mais o seu software, fazendo com que o mesmo seja menos exigente para o hardware. Isso é acima de tudo notório nos modelos que não são topo de gama.
As nossas duas semanas de utilização com o Galaxy J7 revelaram um equipamento que é bastante fluído em todas as suas tarefas, incluindo na troca rápida entre aplicações. Também experimentámos a utilização de duas aplicações em simultâneo, em modo de ecrã dividido, e nem aqui o equipamento vacilou.
Se o dispositivo mantiver este desempenho a médio prazo, então em termos de experiência de utilização a Samsung tem aqui uma proposta forte. As especificações que o telemóvel ostenta – os 3GB de memória RAM e o processador octa-core a 1,6Ghz – em teoria deveriam ser suficientes para garantir um ciclo de vida com qualidade no desempenho.
Dizemos em teoria, pois acabámos por ficar de pé atrás no que diz respeito ao desempenho gráfico do equipamento. Jogos como Football Strike, Space Frontier, Flippy Knife e Rider são todos executados de forma positiva no Samsung Galaxy J7, mas um jogo mais exigente como Last Day on Earth já faz com que a experiência de jogo não seja totalmente fluída e traduza-se em alguns ‘engasgos’.
Isto não é chocante visto que o mercado está a ficar cada vez mais dividido – o fosso entre equipamentos topo de gama e equipamentos de gama média é cada vez maior, pois os smartphones de gama média têm sempre de respeitar uma linha de preço e nos modelos topos de gama essa linha de preço tem crescido de forma constante.
Isto para dizer que há estúdios de desenvolvimento que estão a criar jogos e aplicações que tiram o máximo proveito das capacidades dos smartphones topo de gama, capacidades essas que não existem em equipamentos de segmentos inferiores.
Tirando este ponto específico, nada mais a apontar relativamente à experiência de software e de utilização do Galaxy J7. Um último destaque para a autonomia da bateria que revelou-se uma boa surpresa: o utilizador vai conseguir uma média de utilização que ronda um dia e meio numa utilização sem poupanças, querendo isto dizer que se fizer uma gestão dos consumos poderá conseguir dois dias sem necessitar do carregador.
Interessante, não deslumbrante
Em termos de hardware o Samsung Galaxy J7 é um smartphone bem conseguido. Tem um design ergonómico, isto é, aposta sobretudo em linhas arredondadas que o tornam menos icónico em termos de imagem, mas que acabam por contribuir para um manuseio mais simples do equipamento. Não sendo deslumbrante, também não é um dispositivo feio.
Em termos de design o smartphone acaba por ser inspirado nas linhas do Samsung Galaxy S7: retém o botão frontal e os botões capacitivos e o ecrã definitivamente não é um Infinity Display. Teria sido interessante ver a Samsung pelo menos assumir um ecrã com um rácio de 18:2 no Galaxy J7 para lhe dar um maior sentido de modernidade – basta lembrar que as rivais LG e Wiko já o fazem em equipamentos de gama média.
O facto de reter o botão físico na parte frontal faz com que o Galaxy J7 evite aquele que é um dos maiores erros do Galaxy S8 – um leitor de impressões digitais mal posicionado na parte traseira. O sensor biométrico do J7 é de qualidade, sendo rápido no reconhecimento e apresentando uma taxa quase nula de tentativas de reconhecimento falhadas. Partilha no entanto o mesmo pecado capital de muitos outros sensores – basta o dedo estar um pouco húmido que o reconhecimento da impressão digital torna-se logo deficitário.
Apesar de a Samsung falar num acabamento em metal para o Galaxy J7, este acaba por não ser um acabamento tão luxuoso como existe noutros smartphones de gama média. O alumínio utilizado é discreto e ganha pelo facto de ser colorido – testámos a versão azul do smartphone, mas existem outras cores peculiares como dourado e rosa que dão uma personalidade própria a esta linha de dispositivos.
Dependendo da cor que escolher pode ou não ter problemas com marcas de impressões digitais. Teoricamente todos os smartphones são iguais, portanto todos são autênticos ímanes de impressões digitais. A questão é que nos modelos de cores escuras isso é muito mais notório do que nos modelos de cores claras.
Em termos de design não gostamos particularmente das linhas das antenas em cor diferente. Destoam um pouco da restante linguagem simplista do equipamento e já vimos soluções muito mais engenhosas de integração das antenas de comunicação.
Este é mais um ponto de análise onde o equipamento acaba por apresentar uma relação justa entre a qualidade e o preço. Mesmo não sendo um smartphone deslumbrante e que faz as outras pessoas perguntarem ‘uau, que smartphone é esse?’, também não é um smartphone desprovido de qualquer sentido estético.
Boas capacidades multimédia
A par do desempenho bastante fluído na sua utilização durante o quotidiano, a área da fotografia é outro ponto bastante positivo que o Samsung Galaxy J7 tem para dar aos utilizadores.
O primeiro destaque vai para os disparos rápidos que o smartphone permite executar. Esta começa a ser cada vez mais uma imagem de marca da Samsung nos seus equipamentos e é algo que ajuda a criar alguma pressão para a concorrência mais direta – disparos lentos, como aqueles que registamos no BQ Aquaris X Pro, já não são aceitáveis nesta altura do campeonato e nestes níveis de preço.
O Galaxy J7 integra um sensor de imagem que permite captar fotografias de 13 megapíxeis e o seu ponto forte está nas capacidades de contraste que imprime às fotos. A câmara do dispositivo consegue produzir imagens com bons jogos de luzes, destacando claramente os elementos que estão bem iluminados e dando também um bom sentido de textura e profundidade às fotos.
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No geral as fotografias são de qualidade e apresentam uma boa definição. A área onde a câmara fotográfica do Galaxy J7 parece sofrer um pouco é na reprodução de cores. Se casos houve em que conseguiu captar as cores com realismo, foram bem mais os casos em que acabamos com uma imagem ‘deslavada’ e pouco vibrante.
Há um modo HDR para compensar esta parte, mas nem todos os utilizadores gostam de captar fotografias neste formato justamente pelo motivo oposto – costuma exagerar as cores das fotos, o que acaba por não ser indicado para algumas situações.
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Em ambientes de fraca luminosidade o smartphone até consegue captar imagens com uma iluminação decente, o que ajuda a perceber bem quais os elementos que constituem a foto, mas o ruído nas fotografias acaba sempre por marcar presença. Não é uma desgraça em low light, mas também não faz muito para se destacar da concorrência neste aspeto.
Já em termos de câmara frontal ficamos satisfeitos com os resultados obtidos pelo sensor de oito megapíxeis – consegue captar bons níveis de luz e nos momentos em que a iluminação natural não é abundante, existe um flash frontal para compensar. Mais uma vez: dificilmente é um elemento que faça pender a balança a seu favor no ato de compra, é no entanto mais um pormenor positivo e que ajuda a criar uma ideia mais positiva do equipamento.
Outro elemento que faz parte da componente multimédia do smartphone é o ecrã. No caso do Samsung Galaxy J7 temos um ecrã de 5,5 polegadas com uma resolução Full HD, o que nos garante uma resolução que ronda os 400 píxeis por polegada.
Isto na prática significa que este é um ecrã de qualidade muito aceitável, reproduzindo os conteúdos com uma boa definição e também com um bom recorte dos elementos. Os ângulos de visualização são bons, não perfeitos, e destaca-se a vivacidade das cores reproduzidas pelo equipamento.
Para isto contribui também o facto de este ser um ecrã Super AMOLED, ou seja, foi criado justamente para reproduzir cores mais saturadas e para reproduzir níveis de preto que dão maior profundidade aos conteúdos.
Referência final para o sistema de som do telemóvel. Em vez de apostar numa coluna que está colocada na parte inferior do equipamento, a Samsung optou por colocar o altifalante na lateral direita do Galaxy J7. É uma escolha que faz sentido – quantas vezes as pessoas não tapam o som quando estão a ver um vídeo em modo horizontal? -, mas foi uma escolha que estranhamos. A direcionalidade do som é um pouco esquisita e apesar de atingir bons níveis de volume, é mais um sistema de som que sofre com a falta de graves.
Considerações finais
O Galaxy J7 na sua versão 2017 é um equipamento que mostra que a Samsung não desistiu de lutar pela sua posição no mercado de gama média. A tecnológica criou uma mistura entre o Galaxy S7 – no design – e o Galaxy S8 – no software – e apresentou um equipamento que é justo no preço.
O smartphone tem uma boa ergonomia, um equilíbrio aceitável entre design e construção, garante uma boa experiência de utilização, uma experiência mediana de fotografia, tem um bom ecrã e uma autonomia que acabou por ser uma surpresa positiva. E não há propriamente grandes defeitos que possam ser apontados ao Galaxy J7 2017.
Em resumo: é uma proposta forte e coesa por parte da Samsung.
Apenas dois apontamentos finais sobre o dispositivo: é Duos, querendo isto dizer que suporta dois cartões SIM. Não sendo algo que todos os consumidores procurem, pelo menos é uma vantagem da qual pode tirar proveito se um dia necessitar.
O aspeto mais negativo de todos é talvez o facto de o equipamento ter demasiadas aplicações pré-instaladas. Além das típicas aplicações da Google, temos aplicações nativas da Samsung e também da Microsoft – em alguns casos são aplicações que repetem-se em finalidade. E como é óbvio, estas aplicações não podem ser eliminadas do equipamento.
Isto acaba por ser um problema se comprar a versão de 16GB do smartphone. Ao fim de alguns meses vai provavelmente ficar com o armazenamento interno cheio e vai ter de investir num cartão de memória externo. Há opções acessíveis no mercado, mas quem paga 300 euros por um smartphone não devia ter estas preocupações.
Foi uma batalha para que os modelos topo de gama largassem os 16GB definitivamente, agora está na hora desta luta chegar também à gama média.