Criar uma nova marca de produtos nem sempre é fácil, mesmo quando essa decisão é tomada por algumas das maiores tecnológicas do mundo. No caso da submarca Legion, da Lenovo, a tarefa ficava ainda mais dificultada pelo facto de já existirem muitas submarcas de computadores ligadas ao gaming, algumas delas com uma longa tradição no mercado.
A resposta dos consumidores portugueses não podia ter sido mais esclarecedora: a Lenovo passou de quotas de 8% na área dos portáteis de gaming para quotas na casa dos 20% nos primeiros meses após o anúncio das primeiras máquinas Legion.
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Em certa medida é fácil de entender parte desta resposta: apesar daquilo que já existia no mercado, a Lenovo é uma empresa que consegue ser agressiva na conjugação qualidade-preço. É uma característica que de certa forma caracteriza a maior parte do seu portfólio de produtos e esta mesma ideia foi implementada na linha Legion.
Junte-se a isto o facto de o gaming estar em clara expansão, muito graças ao fenómeno dos eSports, e temos certamente uma franja significativa de utilizadores que procura um portátil de gaming e não pode comprar o melhor dos melhores. Tentam por isso garantir um investimento que lhes dê poder de fogo no curto prazo e que lhes dê garantias de boa jogabilidade a médio prazo.
Quisemos descobrir se é de facto isto que garante o Lenovo Legion Y520, o modelo de entrada de gama da tecnológica chinesa. O modelo testado pelo FUTURE BEHIND é o que custa 1.200 euros e vem equipado com um processador Intel Core i7-7700HQ, gráfica GTX1050 Ti, 8GB de memória RAM e 256GB de armazenamento SSD.
Aspeto que precisa de afinação
Ao retirarmos o Legion Y520 da caixa sentimos de imediato que este é um computador bastante robusto, sobretudo pela sua espessura considerável. Esta é uma característica transversal a quase todos os computadores de gaming, assim como o peso acentuado – no caso do computador da Lenovo estamos a falar de quase 2,5 quilogramas, algo que se sente acima de tudo quando o transportamos às costas.
Há no entanto um elemento que ajuda a contrastar com este seu lado mais pesado. O Legion Y520 é construído em plástico e isso acaba por dar uma sensação de que o equipamento é em certa medida um pouco mais leve do que realmente é.
Em termos de exterior esta máquina acaba por ter um aspeto bastante generalista. Estamos a falar de um bloco de plástico cinzento escuro que é ‘salpicado’ com três linhas salientes na sua tampa e por duas grelhas laterais, na área da dobradiça. Visto assim o Lenovo Legion Y520 não é de facto o portátil de gaming mais inspirado e bonito do mundo.
Não que a abertura da tampa melhore dramaticamente esta situação, mas sempre já encontramos mais alguns traços de personalidade própria e também da típica personalidade de um computador de gaming.
Quando está aberto, o formato angular tanto do ecrã como da base acabam por nos dar um computador que transmite uma imagem de máquina forte, que não saíria do sítio independentemente do que acontecesse. Esta característica é depois reforçada com um teclado de letras vermelhas, retroiluminado também a vermelho e que dá ênfase às teclas WASD.
O trackpad está delimitado por uma linha vermelha, criando assim uma coesão visual entre toda a base do computador e ajudando a criar uma melhor sensação de máquina de gaming. Não consideramos que um computador de gaming tem de ter luzes LED e corres berrantes em todos os seus elementos, mas estas são características já há muito exploradas e que portanto vemos com agrado também neste Legion Y520.
Ao nível do design e também da qualidade de construção a Lenovo podia e devia ter sido muito mais ambiciosa. A unidade de testes que chegou ao FUTURE BEHIND – tendo já passado pelas mãos de mais pessoas -, chegou com parte do caixilho do ecrã já solto, o que de certa forma nos faz questionar a durabilidade deste equipamento no tempo.
Se por um lado percebemos que na versão mais básica este computador custa mil euros, preço que pagamos pelas suas especificações e não pela ‘caixa’, há um modelo deste mesmo Legion Y520 que chega aos 1.600 euros – pedia-se por isso algo mais visualmente trabalhado e aprimorado.
Este é sem dúvida um aspeto que a Lenovo precisa de trabalhar em gerações futuras das suas máquinas de gaming, mas não é algo que nos surpreenda de todo. Apesar da experiência a criar computadores, esta é apenas a primeira geração de computadores Legion, pelo que os produtos acabam por apresentar sempre uma grande margem de melhoria futura.
Boas bases para o gaming
Antes de avançarmos para a parte em que falamos dos níveis de desempenho deste computador, há quatro elementos que merecem destaque por constituírem a base daquela que é uma boa experiência de gaming: referimo-nos ao ecrã, ao teclado, ao sistema de som e ao sistema de refrigeração.
Relativamente ao ecrã podemos dizer que ficamos satisfeitos com o painel que é usado no Lenovo Legion Y520. É um ecrã de 15,6 polegadas com resolução Full HD e criado para não ser reflexivo. É de facto um ecrã que apresenta uma boa resolução, com os elementos multimédia a mostrarem-se bem definidos e também bem recortados.
As cores neste ecrã são bem representadas, ainda que um pouco de mais vivacidade não lhe fizesse mal. No final de contas, estamos a falar de um computador que foi concebido para o consumo de conteúdos multimédia, portanto seria importante garantir a ‘vivacidade’ destes conteúdos perante os olhos dos jogadores.
Outro aspeto no qual a Lenovo devia ter ido mais além é no nível de brilho. Sobretudo durante o dia e muito por causa do ecrã anti-glare, o painel do Legion Y520 não parecia brilhante o suficiente. À partida este não deverá ser um grande problema, pois não costumamos ver pessoas a jogar em PC de gaming nos jardins e nas esplanadas. Apesar disso, um maior brilho é algo que ajuda a reforçar a qualidade geral de imagem do computador, portanto fica outra nota para futuras versões.
Já relativamente ao teclado podemos dizer sem rodeios que a Lenovo acertou em cheio nesta sua primeira tentativa. As teclas têm uma boa distribuição na base do computador, não estando muito distantes umas das outras, e têm um bom espaço de viagem que permite cliques sólidos e rápidos.
O feedback das teclas também é muito satisfatório, pelo que neste aspeto o Lenovo Legion Y520 apresenta-se cheio de qualidade. Podemos reclamar do facto de o teclado ser retroiluminado apenas a uma cor – seria mais interessante ter outras tonalidades, nem que fosse o simples RGB -, mas isso não apaga a boa experiência que vai dar aos utilizadores.
Num aspeto menos positivo está o layout menos comum de algumas teclas – caso da tecla Enter, que é mais pequena do que é normal. Isto faz com que nos primeiros tempos seja necessário alguma habituação a este layout, pois os dedos vão ter tendência para fugir para o local errado.
Esta parece ter sido no entanto uma escolha deliberada para acondicionar de forma decente o teclado numérico do lado direito. Por vezes o teclado número é incluído e as teclas são muito pequenas ou estreitas, o que acaba por inutilizar estas teclas extra e que podiam ser mapeadas como atalhos em diferentes jogos – algo que não acontece neste portátil. Já as teclas direcionais, que ficam logo abaixo dos números, também são bastante generosas.
É preciso também falar do sistema de som deste computador. Segundo a folha de especificações o Legion Y520 tem duas colunas Harman e certificadas para Dolby Audio. Dito assim pode parecer de imediato que estamos perante um sistema premium de som, o que não é bem verdade.
Falta alguma intensidade e também algum corpo aos sons que som emitidos por este computador da Lenovo. Os graves são mais satisfatórios do que na maior parte dos computadores, mas não são suficientes para evitar a ideia de que o som por vezes sai demasiado ‘abafado’.
As duas grelhas que estão situadas nas extremidades do computador foram o local escolhido para albergar o sistema de som e o facto de estarem dentro de um casulo que também tem efeitos estéticos pode ajudar a explicar parte do problema.
Por falar em problema, o som das ventoinhas do sistema de refrigeração também pode ser um. O Lenovo Legion Y520 é tudo menos um portátil silencioso e ao mínimo esforço o sistema de dissipação de calor dispara imediatamente. Boas notícias? O sistema é eficaz e o computador nunca apresentou grandes níveis de aquecimento. Más notícias? Para quem não gosta de jogar de headphones este pode ser um elemento que com o tempo se torna irritante.
Destacamos ainda o facto de a Lenovo ter incluído uma opção de software que permite elevar ainda mais o nível de rotação das ventoinhas, algo que pode ser útil para o caso de estar num ambiente fechado demasiado quente e que não consiga assegurar uma boa refrigeração do computador.
Mesmo não atingindo nota máxima em todos estes pontos de análise, o Lenovo Legion Y520 dá aos jogadores bases sólidas daquilo que devem esperar de uma boa máquina de gaming. Se é verdade que tirando o teclado não há nenhuma característica exímia, também é verdade que nenhuma delas pode ser classificada como má.
Eficácia gráfica
A primeira tarefa que fizemos com o Legion Y520 foi perceber se é compatível com sistemas de realidade virtual. Em primeiro lugar porque este é um aspeto importante para quem gosta de experiências de gaming diversificadas ou está a ponderar um portátil como uma alternativa a uma torre dedicada. Em segundo lugar porque os testes para os sistemas de realidade virtual são também bons indicadores, ainda que não completos, do que podemos esperar do computador.
Também aqui temos boas e más notícias. A boa notícia é que sim, este computador portátil é compatível com experiências de realidade virtual dos Oculus Rift, correspondendo a todos os requisitos mínimos para este dispositivo. A má notícia é que os mesmos requisitos não são suficientes para garantir a melhor experiência com os HTC Vive.
Não temos os óculos para experimentar, mas o único elemento ‘não cumpridor’ para os Vive é a placa gráfica Nvidia GTX 1050 Ti. Segundo a informação do software oficial, este gráfica pode não funcionar corretamente com os Vive – uma pesquisa online deu-nos a perceber que em jogos menos exigentes esta gráfica deverá ser suficiente, mas que noutros títulos o jogador poderá ter más experiências de jogo.
Este primeiro teste pode ajudar desde já os consumidores a decidirem se este é um bom investimento em função dos óculos VR que têm ou tencionam comprar.
No que diz respeito a jogos mais ‘tradicionais’, por assim dizer, o Legion Y520 mostrou um desempenho sólido. Experimentámos o jogo Rise of the Tomb Raider e nas configurações máximas conseguimos obter cerca de 40 frames por segundo. Não sendo um resultado fulgurante, é um resultado razoável tendo em conta o valor pedido por este portátil.
Isto significa na prática que a maior parte dos jogos modernos, nas suas configurações máximas [sem contar com o Ultra HD], deverão apresentar um desempenho semelhante a este nível. Se quiser espremer mais frames por segundo então apenas tem de fazer alguns ajustes, não muitos, nas opções gráficas de cada jogo.
Respondendo àquela análise inicial, parece de facto que este computador garante um bom poder de fogo para a atualidade e deverá dar suporte mesmo para os videojogos mais recentes durantes o próximo ano e meio, dois anos talvez – ainda que não nas configurações mais elevadas. Para jogar tudo ao máximo de qualidade possível daqui a dois anos seria necessário investir num portátil que tivesse uma gráfica GTX 1080, o que significaria investir num nível de preço muito, muito superior.
Se é amante de jogos de eSports então esta também é uma escolha a considerar, tendo em conta que esses são jogos de gráficos não muito exigentes e que privilegiam mais os tempos de resposta. Hearthstone e League of Legends são dois exemplos que não representam ‘desafio’ para o Legion Y520.
Edição de fotografia e de vídeo são outros dois cenários onde o computador da Lenovo consegue cumprir com qualidade, mas se o objetivo já passa pela produção de conteúdos gráficos ao estilo After Effects, então talvez o melhor seja considerar um equipamento de gama superior. Nota final ainda para a reprodução de conteúdos de vídeo em Ultra HD, uma tarefa com a qual o Legion Y520 também lida sem grande dificuldade.
Criação e edição de documentos, navegação web, videoconferência e outras tarefas de computação mais simples são tudo tarefas com as quais o portátil lida bastante bem. Isto deve-se em parte à conjugação entre o processador veloz e o disco SSD também ele rápido.
Claro que para ter este nível de eficácia neste nível de preço há algum ponto no qual o portátil não pode corresponder às expectativas. Se um dos aspetos já foi referido – qualidade de construção e design -, o outro está relacionado com a autonomia.
Mesmo quando estamos perante tarefas mais simples, como navegar na internet ou a editar um documento, conseguimos sentir o desgaste que isso provoca na autonomia do computador. Numa utilização normal o portátil não vai chegar às três horas de autonomia e se tiver a jogar deverá conseguir pouco mais de 60 minutos com este portátil.
É certo que os portáteis de gaming são quase todos eles assim – nenhum oferece uma boa autonomia e se nos dedicarmos aos jogos, então a bateria ‘voa’ por completo. Mas isto não deixa de criar aqui alguma ansiedade, pois um portátil é sempre um portátil e garantir apenas uma hora de jogo não é muito positivo.
Considerações finais
Há outros três aspetos, menores, mas que devem ser referidos antes de uma tomada de decisão. O primeiro está relacionado com o facto de a construção em plástico do portátil ser um verdadeiro paraíso para ficar com marcas de impressões digitais. Pessoalmente não gosto de ter um portátil sujo e o Legion Y520 era difícil de manter limpo.
O segundo aspeto está relacionado com o trackpad. A área é relativamente generosa e também responsiva, mas os botões físicos, apesar do tamanho grande, acabam por não ter um feedback excelente. São botões duros e que por este motivo acabam por não ser totalmente precisos.
O terceiro diz respeito às entradas multimédia. Temos uma porta HDMI, duas USB 3.0, uma USB 2.0, uma USB-C, leitor de cartões SD e também entrada Ethernet. Parece-nos mais do que suficiente e não há críticas a apontar relativamente ao seu posicionamento.
Estes três elementos ajudam a cimentar ainda mais a ideia com que ficámos do Legion Y520: está longe de ser a máquina perfeita, mas é um computador com uma relação qualidade-preço interessante. O que nos convenceu mais foi de facto o seu poder gráfico e de processamento para um portátil que nos modelos mais baratos ronda entre os mil e os 1.200 euros.
Todas as tarefas são realizadas a grande velocidade neste Lenovo, pois é como se ele não tivesse tolerância para engasgos. Todos sabemos no entanto que o mundo do gaming evolui a uma velocidade impressionante – a questão que se coloca é se este é um bom investimento a médio prazo.
A resposta é ‘pode ser’. Não é muito assertiva, é um facto, mas tudo dependerá do perfil de cada um. Atualmente este computador garante uma boa experiência em jogos recentes, mas no futuro será preciso abrir mão dessa experiência para não abrir mão da consistência. Se procura absolutamente a melhor experiência no tempo de vida útil do computador, então vai precisar de procurar noutro lado.
Mas desde o primeiro momento que este foi um portátil feito para os que não têm tanto poder de compra e ainda assim gostavam de ter uma máquina fiável. Se é este o caso, então o Legion Y520 pode ser justamente o guerreiro que procura.