Análise BQ Aquaris V: Para quem gosta de simplicidade

Vivemos uma fase muito positiva no mercado de smartphones. Depois de alguns anos em que os equipamentos pareciam todos iguais, estamos a ver novamente grandes movimentações por parte dos fabricantes na tentativa de convencerem os utilizadores de que a inovação ainda não está esgotada.

iPhone X, Samsung Galaxy Note 8 e Huawei Mate 10 Pro são três exemplos de equipamentos que continuam a elevar a fasquia daquilo que podemos fazer com um smartphone. Realidade aumentada, métodos alternativos de interação e inteligência artificial são elementos que estão a ser aperfeiçoados para que cada um possa ter exatamente aquilo que quer de um dispositivo móvel.

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Aqueles que são os equipamentos mais avançados do mercado também são os mais caros e isso faz com que não estejam acessíveis para a maioria dos consumidores.

Para uma boa parte dos consumidores o grande desafio não é arranjar o melhor smartphone do mercado, mas sim arranjar o melhor smartphone que se ajuste ao seu perfil de utilizador – muitos procuram um smartphone acessível no preço e que não cause aquela estranha sensação de ‘tenho smartphone a mais para aquilo que faço com ele‘.

São utilizadores menos exigentes em termos de extras, mas não menos exigentes naquilo em que um smartphone deve ser bom – na experiência quotidiana.

A mais recente proposta da BQ, o Aquaris V, é um smartphone para este perfil de utilizadores: é um dispositivo simples, funcional e que é bastante cumpridor nas suas tarefas do dia a dia. Foi o nosso equipamento de quotidiano durante três semanas e cumpriu bem o seu papel.

Sobriedade em demasia?

Pela forma como foi concebido, tentando apresentar a melhor relação qualidade-preço possível, não há um elemento no Aquaris V que se destaque por ser muito bom, mas também não há um que se destaque por ser muito mau. Se tivéssemos de escolher a maior arma deste equipamento seria provavelmente a harmonia que existe entre todas as suas características e que resulta num dispositivo que custa 240 euros, um preço que nos parece justo para aquilo que entrega.

Por exemplo, o ecrã de 5,2 polegadas mesmo só tendo resolução HD, é aquilo que chamaríamos de um ‘típico’ ecrã da BQ: tem boa definição, uma boa reprodução de cores e níveis de brilho muito bons. É um ecrã que cumpre bem a sua tarefa de ‘janela’ multimédia, seja em fotografias, em vídeos ou em jogos.

Por vezes uma maior saturação das cores seria bem vinda, justamente para trazer mais vida a alguns conteúdos multimédia, mas não sentimos que o Aquaris V fique a perder para equipamentos da mesma gama.

Não sendo um ecrã gigante, também não é um ecrã minúsculo e isso permite que em termos gerais o Aquaris V seja um equipamento com boa ergonomia e um peso aceitável. O design arredondado faz com que seja mais fácil de manusear apenas com uma mão e não sendo um dispositivo com toques de luxo, também não é mal construído.

 

O equipamento tem um vidro 2,5D na parte frontal, um friso curvo metálico na parte lateral que expande para a traseira do smartphone e funciona como tampa não removível. Nas extremidades superior e inferior da parte traseira temos dois frisos em policarbonato. O modelo que testámos era cinzento escuro, o que confere ao equipamento um aspeto sóbrio, mas que acaba por torná-lo num pesadelo em termos de marcas de dedos na parte traseira.

É ainda na parte de trás do Aquaris V que encontramos a câmara fotográfica com uma saliência e o leitor de impressões digitais arredondado.

Resumindo, também no aspeto o novo smartphone da marca espanhola é simples, o que por um lado pode ser positivo para quem procura de facto algo mais sóbrio, mas que pode não ser suficiente para cativar os utilizadores que gostam de ver alguns traços de personalidade nos seus equipamentos, independentemente do preço. Basta lembrar aqui como exemplo o Alcatel Shine Lite.

O único elemento mais próprio que o smartphone tem são os três botões capacitivos na parte frontal, com o botão do meio a albergar o logotipo da BQ. Mas à medida que os ecrãs dos smartphones começam a ficar ‘infinitos’, assumindo uma proporção de 18:9, a margem para botões capacitivos está a ficar cada vez mais reduzida.

No final fica a sensação de que a BQ precisa de fazer algo nos seus equipamentos mais acessíveis para torná-los mais apelativos. Gostámos daquilo que a marca fez nos seus smartphones mais caros, como o aspeto cristalino do Aquaris X Pro, e gostávamos de ver a empresa a assumir uma maior diferenciação noutros níveis de preço.

O desempenho necessário

As especificações técnicas do BQ Aquaris V são bastante comuns: processador Snapdragon 435 de oito núcleos a 1,4 GHz, 3GB de memória RAM e 32GB de armazenamento interno. Por menos 30 euros é possível levar uma versão com 2GB de RAM e 16GB de armazenamento, mas o modelo que testámos parece-nos ser aquele que apresenta a melhor relação qualidade-preço.

Os consumidores também devem considerar que existe uma versão Plus do Aquaris V, em que a grande diferença está no ecrã de 5,5 polegadas com uma resolução Full HD, custando mais 30 euros – total de 260 euros – para os mesmos 3GB de RAM e 32GB de armazenamento interno.

À exceção do ecrã, o desempenho deverá ser o mesmo do Aquaris V testado pelo FUTURE BEHIND. Ao longo das semanas de teste foi um smartphone que se mostrou sempre fluído na execução de tarefas, ainda que seja notório que não é tão rápido como modelos de um patamar superior, como o Samsung Galaxy J7.

Reparámos nisto sobretudo na inicialização das aplicações, em especial dos jogos, mas não são mais dois ou três segundos na abertura de um jogo que vão fazer a diferença para o perfil de consumidor que identificámos no início do texto.

Relativamente aos jogos testámos Skillander e Badminton League, por exemplo, e foram jogos executados sem qualquer problema. Outros jogos graficamente mais exigentes, como Ghosts of Memories e The Trail, já causaram alguns engasgos, mas nada que afete muito a jogabilidade – são jogos que o smartphone também consegue executar.

O Aquaris V vem equipado com o sistema operativo Android 7.1 no seu estado mais puro, mas o ideal seria vir de origem com o Android 8.0 ‘Oreo’, estando prometida esta atualização. O software acaba por ser a grande imagem de marca da BQ e um dos motivos pelos quais os equipamentos conseguem apresentar um desempenho diário bastante razoável mesmo não tendo especificações técnicas de encher o olho.

O que também acaba por ser razoável é o sensor fotográfico de 12 megapíxeis. Neste nível de preço não esperamos uma das melhores câmaras do mercado, mas também não esperamos algo que desiluda – é justamente neste meio termo que está o Aquaris V.

Detalhe aceitável, uma reprodução de cores que não sendo sempre a mais certeira, consegue produzir imagens com boas tonalidades e também temos uma capacidade de deteção de contraste que já permite explorar fotografias mais criativas. Mesmo em ambientes de iluminação artificial e de baixa luminosidade, o smartphone da marca espanhola conseguiu aguentar-se razoavelmente bem.

Aqueles que procuram um maior controlo têm à sua disposição um modo manual, possibilidade de guardar as fotografias em formato RAW e podem ainda de captar cores mais intensas e contrastes mais dramáticos com o modo HDR.

Veja as fotografias na sua resolução original: 1; 2; 3; 4; 5.

Como já tínhamos dito a propósito do Aquaris X, o interface da câmara fotográfica é que precisa de levar uma valente melhoria. Não é graficamente apelativo e é pesado em termos de desempenho, daí que os smartphones da BQ sejam daqueles que mais tempo demoram a fazer um disparo fotográfico. O ano está a acabar e em 2018 esperamos ver cumprida a ideia de ‘ano novo, aplicação de câmara nova’.

Em termos fotográficos há ainda a destacar a integração de um flash LED dedicado na câmara frontal – equipada com um sensor de oito megapíxeis -, o que pode ser um elemento positivo para aqueles que gostam de tirar selfies em todas as ocasiões possíveis e imaginárias.

Alguns pontos extra e outros pontos a melhorar

A autonomia do Aquaris V é sem dúvida um dos melhores elementos do telemóvel. Em utilização normal vai conseguir sensivelmente um dia e meio de utilização, o que é bastante bom tendo em conta que há equipamentos muito mais caros e que neste ponto de análise têm desempenhos bem inferiores.

O que a BQ já podia ter feito nesta sua nova geração de equipamentos era render-se ao USB-C para permitir uma tecnologia de QuickCharge ainda mais eficiente, assim não só teríamos um equipamento com boa autonomia, como um carregamento de 15 minutos provavelmente ‘salvar-nos-ia’ para o resto do dia. Nesta fase do mercado apostar no formato microUSB é apostar no passado.

A integração de um leitor de impressões digitais no smartphone também é um extra positivo, mas a eficácia do sensor biométrico não foi de 100%. Por mais do que uma vez foi necessário fazer mais do que um reconhecimento. Ainda assim não foi o pior dos leitores de impressões digitais que já experimentámos e é uma opção válida para quem procura maior segurança – apenas terá de saber viver com o facto de, volta e meia, precisar de algumas tentativas para desbloquear o equipamento.

O smartphone suporta ainda dois cartões nano-SIM e cartões microSD que permitem adicionar até 256GB de armazenamento, elementos que são sempre bem-vindos.

Considerações finais

Ao longo desta análise fomos escrevendo várias vezes que não sendo estonteante, o dispositivo também não foi uma desilusão. Para o leitor pode parecer pura repetição, mas é uma ideia que queremos deixar bem clara – quem comprar o Aquaris V não estará a comprar um smartphone acima de média em nenhuma das suas características, mas também não estará a investir o seu dinheiro num equipamento que não vai dar retorno.

O Aquaris V devolve exatamente aquilo que pagamos por ele. Tem um ecrã razoável, um sensor fotográfico razoável e um desempenho que também é razoável para o dia a dia. Se procura um smartphone simples, discreto e não quer gastar muito dinheiro, esta é uma das opções que deve considerar.

Agora falta saber exatamente qual é o seu perfil de consumidor. Se gosta de pelo menos um rasgo de qualidade no equipamento ou prefere que ele tenha algum tipo de afirmação visual, então torna-se mais difícil recomendar o Aquaris V, independentemente do seu desempenho coeso.

Um dos melhores consolos deste smartphone é saber que vai receber o Android 8.0, algo que a esmagadora maioria dos smartphones do mercado não vai poder dizer, mesmo em níveis de preço bem superiores. Pode não parecer um elemento crítico, mas se gosta de fazer investimentos a médio prazo então pode de facto ser um elemento que vai desequilibrar na sua decisão final.

Por fim uma nota sobre o portfólio da BQ. A marca atingiu este ano um momento positivo com o lançamento dos Aquaris X e X Pro, estabelecendo esses dois equipamentos como dispositivos muitos fortes ao nível da relação qualidade-preço. No caso do Aquaris X e por apenas mais 50 euros em comparação com o Aquaris V, o consumidor leva para casa um dispositivo com melhor construção, melhor design, melhor ecrã, melhor processador e melhor câmara.

É melhor em tantos pontos que os 50 euros a mais justificam-se plenamente. Claro que existem aqueles consumidores que definem um orçamento – 250 euros, por exemplo – e são completamente inflexíveis a este nível, o que os obriga a procurar algo que esteja sempre dentro desse valor.

A questão que estamos aqui a tentar salientar é a BQ precisa de ter cuidado. Além de ter uma concorrência muito forte na China – os consumidores que ligam às especificações conseguem comprar dispositivos Xiaomi com melhores características técnicas e por preços mais baixos -, a empresa está a criar um portfólio onde parece estar a fazer concorrência a si própria.

Por muito interessante que seja o Aquaris V, por exemplo, o Aquaris X é sempre uma melhor compra – e isto é tudo aquilo que uma marca não deveria querer ler sobre o seu mais recente smartphone.

BQ Aquaris V
Design e construção
7
Ecrã
7
Fotografia
7
Performance
7
Autonomia
8
Software
8
Reader Rating2 Votes
9.3
Desempenho fluído
Ecrã cumpridor
Vai receber Android 8.0
Não tem USB-C
Design muito generalista
Interface da câmara fotográfica
7.3
EM 10
Rui da Rocha Ferreira: Fã incondicional do Movimento 37 do AlphaGo.
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