Se nunca ouviu falar de RAGE não se admire. Foi um jogo que saiu em 2010 para iOS, e mais tarde, em outubro de 2011, foi feita uma portabilidade para Windows, Xbox 360 e PlayStation 3. Ora, passado menos de um mês deste jogo ser publicado pela Bethesda, esta mesma editora publica também um jogo que marcou uma geração. Um sucesso de vendas em todas as plataformas, falamos pois claro de The Elder Scrolls V: Skyrim. Apesar de uma pequena comunidade, RAGE nem teve hipótese de prosperar, vivendo sempre na sombra de Skyrim.
Passado quase 10 anos desde que RAGE chegou ao público, chega então o seu segundo volume. O primeiro título foi desenvolvido por um estúdio que não necessita de qualquer introdução, id Software. Este estúdio é responsável por nos trazer Wolfenstein, Doom e Quake. Uma referência internacional no que toca a bons jogos First Person Shooter onde o foco é a diversão. Em nenhum destes títulos o estúdio tenta levar o jogo a sério, o foco é diversão e isto nota-se quando o nosso herói consegue pegar numa caçadeira e limpar centenas e inimigos sem largar uma gota de suor.
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A saga RAGE passa-se num cenário pós-apocalíptico onde o nosso herói possui superpoderes e armas incrivelmente poderosas. Mas ao contrário dos outros títulos, esta saga tem a particularidade de ser open world. É dado ao jogador todo um mundo que ele pode explorar, descobrir atividades secundárias e conhecer diferentes biomas. Ao contrário do primeiro título, RAGE 2 é criado com uma colaboração de dois developers estabelecidos. Não é por acaso que o estúdio Avalanche Studios foi escolhido para esta parceria com a id Software. Com o conhecimento que obteve no desenvolvimento de Mad Max, um jogo open world num cenário pós-apocalíptico precisamente, ajuda a trazer RAGE 2 para outro patamar.
Um mundo pós-pós-apocalíptico
RAGE é título onde a premissa base se pode resumir em poucas palavras. Um asteroide colidiu com a terra, varrendo a Humanidade. Ficaram apenas alguns sobreviventes que tinham sido colocados em hibernação dentro de bunkers. O jogador dá vida à personagem Nicholas Raine, um Ranger que faz parte da Resistance, e vai fazer frente à The Authority, uma fação inimiga que tem as piores intenções.
O segundo volume desta saga reconhece as suas origens, mas passa-se num futuro distante, uma era pós-(pós-apocalipse). Nesta era o planeta já começa a recuperar as suas características e já começamos a ver vegetação rasteira, árvores, e até mesmo pequenas florestas. Estes fatores tornam RAGE 2 um jogo muito mais agradável visualmente pois o jogador tem a noção que passa por diferentes biomas. Desta forma combatem uma das grandes críticas do primeiro jogo é que “era muito castanho”. Ou seja, as zonas de devastação desertas, cheias de areia e rocha eram uma constante em todo lado, e criava ao jogador a sensação que só via castanho.
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Em RAGE 2 nosso jogador assume a pela de Walter, o último Ranger. O grande vilão General Cross está de volta com planos para conquistar o mundo, mas Walter com a ajuda de outros personagens vão tentar impedi-lo. Para o conseguirem fazer vão ter de completar o denominado Project Dagger. De uma forma geral a campanha do jogo resume-se a isto, e se tivéssemos de escolher uma palavra para a descrever, seria básica.
“So much room for activities…”
Quando pensamos em jogos open world, particularmente First Person Shooters, como por exemplo FarCry, imediatamente pensamos em um jogo com alguma longevidade onde iremos ter de deixar várias dezenas de horas para conseguir acabar a história. RAGE 2 distingue-se por conseguir trazer para o mercado um jogo AAA, onde a campanha terá entre umas 6 a 8 horas. Esta campanha consiste em fazer missões introdutórias para cada uma das três personagens que nos vai ajudar. Depois de completar esta missão para cada personagem, temos de chegar a nível de 5 de reputação com ela. Para tal temos de fazer algumas missões secundárias dessa determinada personagem. Repetindo este processo três vezes, desbloqueamos novas missões para cada personagem onde vamos começar a preparar o ataque final com a conclusão do tal Project Dagger. Uma vez acabando estas três missões fica apenas a faltar a última missão.
Sendo RAGE 2 um jogo vindo de developers renomeados e referências internacionais, esperávamos muito mais. Esta campanha soube a pouco não só pela sua longevidade mas por possuir uma história tão desinteressante que nem consegue captar a atenção do jogador durante os cinematics.
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Um dos aspetos mais positivos de RAGE 2 é o mundo que criaram. Com a adição de vegetação e zonas de floresta e pântanos torna o mundo bastante mais interessante comparando com o primeiro título. A fidelidade gráfica está a par de um jogo desta categoria, e ajuda a criar paisagens memoráveis que dão vontade de tirar uma fotografia. Este mundo está repleto de atividades secundárias que o jogador vai encontrando, existindo diferentes tipos, mas não muitos. Frequentemente damos por nós a repetir a mesma atividade várias vezes mas simplesmente só num sítio diferente.
Uma das atividades secundárias mais importantes são as Ark. Arks são os tais bunkers usados pela Humanidade para preservar a espécie, e vários anos depois destes terem emergido no mundo, encontram-se agora disponíveis para serem saqueados. Ao fazer estas atividades, vamos ganhar acesso ao tal Ark, onde por sua vez vamos conseguir desbloquear uma habilidade especial ou uma arma. Ao que conseguimos perceber existem 14 Arks espalhados pelo mundo, e o unlock que cada um fornece é fixo. Desta forma se o jogador quiser desbloquear algum poder ou arma em específico, pode consultar a Internet à procura da localização.
Comando TS Warrior Player feito para o lançamento de Rage 2
Anarquia completa
Estas habilidades e armas são o ponto mais positivo deste jogo. É o ponto-chave que faz o jogador quer continuar a jogar, realizar atividades repetitivas até não haver mais. É aqui que se nota que estamos na praia da id Software, um FPS de uma brutalidade incrível mas que consegue dar horas de diversão e satisfação ao jogador. As Ark abilities dão ao jogador a possibilidade deslizar rapidamente para qualquer direção, o já clássico “double-jump”, mas não fica por aí. Conseguimos usar poderes telecinéticos para projetar um inimigo e retirar as peças de armadura, e até criar um vortex que suga os inimigos deixando-os vulneráveis. A cereja em cima do bolo vem numa habilidade chamada Overdrive, que deixa o nosso herói num estado incontrolável de poder, aumentando todas as características necessárias para limpar várias dezenas de inimigos facilmente.
Mas a diversão não fica por aqui, todas estas habilidades, combinadas com um arsenal de armas únicas, tornam o combate de RAGE 2 uma experiência incrivelmente divertida. Este arsenal não é imenso, mas as poucas armas a que temos acesso conseguem dar ao jogador tudo o que precisa para se sentir um verdadeiro Rambo. Em RAGE 2 as armas tem a particularidade de ter dois modos diferentes de disparo, o que torna todo o combate fluido e variado. A satisfação de andar de caçadeira a explodir miolos em combate de curto alcance, e rapidamente usar o segundo modo de disparo para intersetar um inimigo a uma maior distância é algo que só um jogo da id Software conseguia criar. Neste título podemos contar as armas clássicas como pistola, armas automáticas e caçadeiras. No entanto as armas mais poderosas são armas que parecem vir de um filme sci-fi , canhões que disparam pulsos de energia até armas que usam a gravidade a nosso favor.
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Para nos movimentarmos neste grande mapa temos a possibilidade de fazer Fast Travel para os grandes campos, de resto temos sempre de navegar pelos nossos próprios meios. Aqui chega uma das componentes mais agridoce deste título. Os veículos disponíveis ao jogador são completamente memoráveis. Desde veículos que simplesmente são proezas da tecnologia avançada do ano 2165 até veículos que são autênticas relíquias de ferro-velho de um mundo pós-apocalíptico. É de louvar o detalhe e humor aplicados ao desenho destes veículos, especialmente quando conseguem misturar estes dois conceitos. Quem não quer conduzir uma carrinha de ferro-velho com um motor de uma avião jato para nos dar propulsão ?
A condução destes veículos é também muito divertida, como todos os veículos possuem a habilidade de usar um boost é hilariante andar a fazer rally-cross num carro que parece que está a ser segurado com cola, e a derrapar em todas as curvas usando o boost para recuperar a velocidade. Falamos de veículos pois temos bastante variedade no tipo, de motas chopper a buggys ou de tanques que parecem o batmobile até motas voadoras.
Mas afinal porque é que esta experiência é agridoce? Tudo isto aqui seria excelente se todos estes veículos de suspensão alta não fossem quase impossíveis de conduzir off-track. Num jogo onde todo o ambiente é feito à volta de um cenário pós-apocalíptico, onde a palavra que reina é Anarquia, é um pouco ridículo que o jogador se sinta obrigado a andar constantemente nas estradas, ou caminhos desenhados na terra batida. Assim que o nosso carro sai das “estradas” começamos a ter montes de rochas e terreno irregular onde o carro fica literalmente preso. Torna-se muito difícil de controlar qualquer veículo, perdendo-se a sensação de liberdade. A somar a isto não deixamos de reparar que todos os encontros que tivemos em estrada com carros inimigos são completamente pacíficos. O bando de fora-da-lei nem um tiro dispara na nossa direção. O primeiro impacto quando vamos na nossa vida, e vemos 4 carros a andar em formação na nossa direção é engolir a seco, e vamos lá a isto. Para nossa desilusão, os 4 carros passaram por nós e continuaram a andar em frente como se não tivéssemos ali. Estas falhas tornam algo que podia ser excelente em algo que… sabe a pouco.
Considerações finais
RAGE 2 é um jogo que não se tenta levar a sério, do humor parvo que nos deixa com um sorriso na cara, ao combate incrivelmente irrealista que nos deixa com uma sensação de satisfação. O foco é claro, diversão, tudo é feito para quem está a jogar esteja a desfrutar da melhor parte do seu dia naquele momento. Estar a dizimar dezenas e dezenas de inimigos enquanto usamos podemos telecinéticos, e tudo isto ao som de boas bandas sonoras hard-rock, parece um final de dia relaxante.
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No entanto, toda esta felicidade instantânea não é suficiente para trazer RAGE 2 a bom porto. O jogo tem o potencial de ser muito mais do que é, mas a realidade é que não o é. Hoje em dia, um jogo AAA como RAGE 2, que pede ao consumidor um valor de aquisição de um AAA, tem que cumprir com a responsabilidade. Desta forma não podemos deixamos passar, e olhar para o lado, ignorando todas as pequenas falhas que tornam RAGE 2 um jogo mediano. Uma campanha curta e desinteressante, falta de missões secundárias com história, atividades secundárias repetitivas e pequenas falhas de aspectos chaves de jogabilidade são os pontos que prejudicam o que podia ser um jogo de topo.
RAGE 2, está disponível para Microsoft Windows, PlayStation 4 e Xbox One.
N.R.: A análise de RAGE 2 foi realizada com acesso a uma cópia da versão final do jogo, para Windows PC, cedida pela EcoPlay