Análise Outriders

São raras as produtoras que têm o privilégio de trabalhar em múltiplas propriedades intelectuais, não se limitando a espremer até ao tutano uma única franquia de sucesso. Situada em terras polacas, encontra-se a People Can Fly, um desses poucos estúdios que nos tem brindado com shooters irreverentes como Painkiller e Bulletstorm, tendo também trabalhado em Gears of War Judgment. De mãos dadas com a Square Enix, a produtora apresenta-nos agora Outriders, que embora seja uma nova propriedade intelectual, sente-se como uma mescla de shooters populares focados na recolha de loot como Borderlands, Destiny ou The Division.

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Outriders pode ser descrito como um shooter na terceira pessoa com sistema de cobertura, co-op até três jogadores, poderes sobrenaturais, elementos de RPG e muito looting, tudo isto inserido num palco de ficção científica salpicado de misticismo. Será que o todo é maior que a soma das partes?

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Enoch, um novo lar em colapso

Num futuro distante, uma catástrofe ecológica deixou o planeta Terra num estado irremediável. Esta distopia levou à procura de um novo lar no cosmos. Os últimos sobreviventes, que se apelidam de Outriders, acabam por colonizar Enoch, um planeta que aparentava possuir condições ambientais e meteorológicas semelhantes, mas que esconde segredos ameaçadores. Uma das maiores incógnitas prende-se com o fenómeno Anomaly, tempestades energéticas irascíveis que não só contornam as leis da física e matam tudo por onde passam, como também atribuem poderes dignos de um deus a determinados seres. O protagonista, que pode ser homem ou mulher, é um dos alterados, nome atribuído aos que desenvolveram poderes sobrenaturais e após trinta e um anos de vida suspensa, a sua missão passa por descobrir o que está a provocar a Anomaly ao mesmo tempo que uma guerra permanente colapsa  o mundo.

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Embora o mundo criado e em especial as espécies alienígenas tenham os seus pontos de interesse, a narrativa é movida por personagens desinteressantes, do mais cliché que encontrarão no género. Os seus diálogos não convencem e não há nada que as distinga num mercado relativamente saturado. A história em si, apesar de não ser inovadora, poderia ser interessante com alguns ajustes e uma escrita mais cuidada no que toca às personagens, bem como um trabalho mais refinado nas cutscenes. Se quiserem dar-se ao trabalho de ler os documentos espalhados pelo jogo, encontrarão detalhes curiosos acerca do lore deste universo.

Looting nunca é demais

Outriders é também um título que aposta de forma veemente na costumização. Começam por criar a vossa personagem, definindo o seu sexo e atributos físicos. A decisão mais crucial do jogo é quando necessitam escolher uma das quatro classes, cada uma representando diferentes poderes. Technomancer será a mais indicada para quem prefere tratar dos inimigos à distância ou servir de suporte aos camaradas, caso joguem em co-op. O Trickster foca-se mais no teletransporte e na manipulação do tempo, conseguindo abrandar os inimigos. O Pyromancer foca-se em ataques de fogo e o Devastador é o tanque de serviço, tendo ataques devastadores e defesa sólida. Apesar das claras vantagens estratégicas presentes em cada classe, a produtora fez um bom trabalho no equilíbrio das habilidades ofensivas e defensivas.

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A progressão é inerente a cada aspeto do jogo. Não só a personagem, como cada arma, capacete, luva, armadura ou calçado tem nível e pode ser melhorado ou trocado. Podem e devem fazer crafting nas armas, melhorando as suas estatísticas e até adicionando-lhes mod gears, como adição de explosões às balas, aumento do escudo por cada tiro ou ricochete, entre tantas possíveis combinações. À medida que decimam rondas de inimigos e monstros, vão recolhendo novo e melhor loot. O nível de dificuldade, apelidado de World Tier, vai aumentando, sendo o jogador recompensado com melhor equipamento, isto se preferir um bom desafio. Há também três skill trees, onde podem melhorar a saúde, os danos do armamento ou o escudo e também vão ganhando novos poderes, sendo oito no total em cada classe. Como o vosso inventário é limitado, têm a opção entre desmontar o equipamento que está a mais e ganhar recursos para melhoramento de equipamento ou vendê-lo.

Ação ainda melhor com amigos

No planeta Enoch, podem encontrar criaturas hostis de todo o tipo. Monstros, humanos selvagens e seres com poderes. O seu design é genérico, mas os últimos revelam-se os mais estimulantes, ao utilizarem os seus dotes sobrenaturais para nos tentarem eliminar. Em especial em co-op, é muito satisfatório trabalhar em conjunto,  ao utilizarem-se habilidades específicas para os derrotar. De louvar também o trabalho feito na sensação das armas. Cada caçadeira, metralhadora e sniper causa impacto e a ação frenética prima pela diversão que proporciona. E a ação é realmente delirante, já que para recuperar saúde, a única maneira de o fazer é executar alguém, ao invés de fugir.

Portanto, é este o núcleo de Outriders: níveis lineares que se sentem como arenas constantes, invadidas por todo o tipo de inimigos e recolha de loot. Se esse resumo soa algo formulaico, não é acidental. Ao fim de algum tempo, instala-se uma sensação de cansaço na eliminação de inimigos, mesmo existindo uma variedade saudável de armamento, poderes e adversários.

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Contudo, a jogabilidade funciona bem e se jogarem com amigos, a diversão é ainda maior. Sendo que Outriders apresenta uma campanha densa e um endgame considerável, acabámos por encontrar vários soluços técnicos. Na nossa experiência, houve inimigos que congelaram, o próprio jogo congelou algumas vezes, os servidores levaram uma eternidade e a aplicação do jogo fechou sem motivo prévio. Será também necessária uma conexão à internet constante, mesmo que joguem sozinhos.

O mundo de ficção científica não convence verdadeiramente. A direção artística não possui o requinte ou originalidade necessária para tornar Enoch um planeta memorável, embora perto do final da campanha surjam locais mais bonitos e a sensação de escala seja por vezes impressionante. Algumas cutscenes, como a abertura de uma porta, são desnecessárias e apesar de existirem algumas opções de conversa, o jogador não tem qualquer agência no rumo da história.

Considerações Finais

Se pegarem em vários aspetos de Outriders isoladamente, como a história, as personagens, a direção artística, o design de níveis e os sistemas de RPG, há outras opções no mercado que o fazem muito melhor.

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Surpreendentemente, o momento a momento da jogabilidade é divertido e ganha outra dimensão em co-op, embora lhe falte uma identidade mais vincada e única em tudo o resto. Não reclama qualquer lugar no pódio dos grandes do género, mas é uma boa alternativa que combina poderes sobrenaturais, armamento e muito loot numa receita divertida.


+ A mistura de armas e poderes funciona bem
+ Bom equilíbrio entre dificuldade e recompensa
+ Modo cooperativo estimulante
+ Campanha longa

– Personagens e diálogos de má qualidade
– Falta de polimento a nível técnico
– O núcleo do jogo acaba por cansar
– Necessária ligação online, mesmo a solo

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N.R.: A análise a Outriders foi realizada numa Xbox One X com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente disponibilizada pela Play & Game.

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