A indústria portuguesa de videojogos está, felizmente, a crescer a olhos vistos. E a Nerd Monkeys tem estado na crista deste movimento, muito graças à excelente receção que Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa teve, aquando do lançamento para PC, em 2014.
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Em 2020 chega finalmente à Nintendo Switch e… cum catano: está na hora de perceber se este é um mistério que valha a pena deslindar.
Point and Click à Portuguesa
Inspector Zé e Robot Palhaço jogam-se como uma nostalgia trip pelos point-and-click do tempo da Sierra e LucasArts. O analógico esquerdo movimenta o Inspector Zé pelos cenários em 2D, ao passo que o analógico direito controla o cursor com o qual podemos interagir o cenário. Se este for o vosso primeiro point-and-click, saibam que a base de jogabilidade é justamente essa: interagir com todos os elementos do cenário para detetar pistas e objetos que vos permitem progredir na história.
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E, como o nome indica, terão um mistério a vosso cargo para resolver. Um homem, que comete suicídio com 14 facadas… nas costas. O local do crime é o Hotel Lisboa e, enquanto Inspector Zé, são desafiados pelo Agente Garcia a tentar resolver o que poderá ter ocorrido. Durante as aproximadamente 8 horas de jogo, precisam de percorrer as várias ruas de uma Lisboa em pixel art, interagindo com as diversas personagens que compõem este cast diverso.
Menos Hercule Poirot, mais Inspector Zé
Se vieram para este jogo à espera de um mistério repleto de curvas e contracurvas, em linha com os melhores clássicos de Poirot, escritos pela Agatha Christie, é melhor baixarem um pouco as expectativas. O jogo desenrola-se mais como um policial do que, propriamente, um murder mystery típico. Todas as pistas que encontramos servem para desbloquear linhas de diálogo com as várias personagens. Mas não só: permite-nos, quando em posse de todos os objetos necessários, entrar no mini-jogo de interrogatório.
Esta é, de resto, a mecânica mais bem conseguida de Inspector Zé e Robot Palhaço. Decorrendo em rondas de perguntas, precisamos de relacionar a questão correta com a pista certa, por forma a conseguir “quebrar” o interrogado e obrigá-lo a confessar tudo.
Para além da escolha correta de objetos e respostas, necessitamos de prestar muita atenção à forma como cada personagem interage com o Inspector ou com o Robot, porque o interrogatório apenas é bem-sucedido se for feito pela personagem com maior afinidade. Este é um ponto extremamente positivo, utilizando a jogabilidade para nos colocar no papel de uma dupla de detetives, usando a nossa astúcia para perceber quem poderá ter mais sucesso num interrogatório.
Porém… é também neste ponto que se sente, de forma mais intensa, o maior problema deste jogo.
Humor sem punchline.
Os point-and-click, fruto da sua natureza mais narrativa que jogável – são várias horas a ler descrições de objetos e ramos de diálogos – necessitam de uma qualidade elevada de escrita, seja ao nível da definição das personagens, seja nos diálogos, que consiga suster o nosso interesse durante o jogo. Vamos ser diretos: esse não é o caso neste Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa.
As personagens, apesar dos designs altamente diferenciados, são na maioria dos casos, iguais. Falam da mesma forma, reagem da mesma forma – e pior, são estereótipos preguiçosos de figuras míticas portuguesas. Apesar do contexto de homenagem aos clássicos do ZX Spectrum, e contando que, certamente, existe aqui muito do espírito do velhinho Café Paradise, o… “humor” em Inspector Zé e Robot Palhaço salta muito entre um episódio dos Malucos do Riso e uma anedota do Fernando Rocha.
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Por aqui, e principalmente quando temos de entrevistar a Sra. Love, mulher da vítima, sentimos muitas vezes vergonha alheia porque a tentativa de humor com o estereótipo português da “mulher brasileira caça-tesouros e oportunista” pareceu mais vindicativo duma opinião, que propriamente crítico e satírico. Até pelo desfecho da narrativa.
Considerações Finais
A linha narrativa do jogo é interessante, sobretudo na última hora de jogo, onde somos agradavelmente surpreendidos pelo rumo da história. Os gráficos e a arte são de fazer as delícias de qualquer fã de pixel art e o ambiente da Lisboa bairrista, de Alfama à Mouraria, está recriada na perfeição. Para isso, ajuda a banda-sonora orquestral, de uma qualidade muito elevada, entrecortada com algumas temas de jazz com Filipe Melo e, também, uma bela versão do clássico do fado “A Caldeirada”.
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Porém, Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa sofre, sobretudo, com a sua escrita juvenil e pouco polida. O que é uma pena, porque a crassa qualidade da mesma obriga-nos a não conseguir recomendar este título, a menos que não se importem de regressar ao passado, também na qualidade da escrita de videojogos.
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N.R.: A análise a Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa foi realizada numa Nintendo Switch com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente cedida pela Nintendo Portugal