O mundo dos MMO’s assentou sempre na sua estrutura de colaboração e de convívio entre perfeitos desconhecidos ou de grupos de amigos que se unem em torno de um objetivo comum. A criação de um avatar surge neste popular tipo de jogos como uma oportunidade de escapar de um mundo real exigente e duro, em que o jogador se reinventa num universo alternativo, podendo ser aquilo que desejar. É nesta premissa algo antagónica de um RPG que simula o ambiente vivido num MMO, apesar de ser uma experiência de apenas um jogador, que torna CrossCode interessante logo à partida.
A Radical Fish Games cria com uma pequena equipa uma enorme homenagem enorme a um mundo dos videojogos que já não volta. Sim, a repetição da palavra “enorme” tem o seu propósito. Com gráficos pixelizados deslumbrantes, música que acompanha os diferentes momentos de jogo, conseguirá esta exigente obra motivar o envolvimento nela por mais de sessenta horas?
Será o entusiasmo com este lançamento totalmente justificado, ou o grinding necessário é menino para nos fazer perder o interesse? Bem-vindos a CrossCode, até que o HP nos separe!
Passado esquecido com olho no futuro
Lea é um avatar sem qualquer memória em Crossworlds, um mundo de um muito jogado MMO, onde os jogadores controlam e vivem as emoções e dores quase de forma física das suas personagens. Aqui começa a ligação óbvia a um qualquer tradicional RPG, onde a amnésia da personagem principal é quase uma constante. Mas as semelhanças não se ficam por aqui, como se falará mais à frente.
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Há sete zonas enormes que têm que ser desbravadas, à medida que Lea reaprende a falar, uma palavra de cada vez, e que as brumas da sua memória se vão dissipando, revelando uma estória bem maior e mais envolvente, onde ela acaba por ser um elemento de extrema importância. Os clichés continuam, mas o verdadeiro fã de RPG’s, mesmo este estando disfarçado de MMO, vai adorar.
Apesar da complexidade da progressão no jogo, a premissa parece ser bastante simples e conhecida: são-nos atribuídas missões principais que terão que ser completadas para que tudo possa avançar mas, como bom RPG que se preze, tem as suas sidequests. E em CrossCode há muitas. Muitas delas andam à volta da temática de apanhar ingredientes para os inúmeros NPC’s que vagueiam neste mundo virtual, sejam como apenas NPC’s ou mesmo como outros jogadores deste MMO a fingir que vemos a toda a hora. Este é um toque que também acrescenta alguma credibilidade à temática MMO em que se baseia o jogo. Preparem-se para andar de área em área, percorrendo e lutando com inúmeros inimigos que se tornam algo genéricos, para conseguir aquele item que já ninguém se lembra quem pediu. Nada de estranho para quem está habituado a este tipo de jogo.
O grinding é boss em terra de pobres NPC’s
CrossCode não é, de todo, um jogo de complexão fácil, onde progredimos de forma descontraída. Mas é claramente um que premeia a estratégia e o risco. O equilíbrio entre estas duas premissas vai definir o vosso sucesso. O desafiante sistema de combate permite-nos incluir no nosso arsenal uma panóplia vasta de golpes ofensivos e defensivos que convém ir atualizando através de pontos de competências que vamos aplicando na complexa árvore de evolução. Mas é aqui que o risco pode levar a melhor: ao derrotarmos um grupo de inimigos, temos um curto limite de tempo onde podemos rapidamente encontrar um novo de grupo e continuar com uma espécie de combo que vai permitir que o nosso nível de combate suba naquele momento. O que se ganha com isso? Acesso a itens raros. Quanto mais alto for o nível atingido através de combates seguidos, melhores recompensas surgirão. Mas cuidado: o nível de dificuldade em CrossCode é sem dúvida desafiante, e podemos dar por nós a querermos almejar algo que o nosso nível de jogador não permite, investindo em áreas cobertas de inimigos bem complicados e rapidamente tudo vai por água abaixo.
Apesar das dificuldades e das frustrações associadas a este sistema de combate bem refinado e desafiante, CrossCode nunca se torna frustrante e mantém o jogador ligado a mais uma progressão, mais uma missão secundária, mais um item que se deseja, mais um inimigo que se pretende aprender as movimentações e ataques padrão. Convém é que se tirem notas de tudo! E que se insista. Este não é um jogo com demasiadas informações, apesar de depois de vinte horas investidas, continuarem a aparecer tutoriais de movimentos ou desafios novos. Não simplifica em nada a missão ao jogador. Aqui, o grinding é real. E não há outra forma de ultrapassar aquele boss bem complicado. Há que repetir lutas constantemente, subir níveis, desbloquear novos ataques… nada de novo para quem conhece bem o género, mas que pode retirar algum do charme a quem vem atrás duma estória e visuais apelativos. CrossCode é imperdoável e nada conivente com erros.
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A beleza do que se vê e ouve
A magia dos 16-bits é bem visível em CrossCode, contrariando as inúmeras obras que hoje em dia assolam o mercado, que parecem querer homenagear essa estética, mas que acabam por falhar redondamente. Mundos cheios de detalhes e cores vibrantes, e no que diz respeito às animações, bem conseguidas e cheias de movimento.
A música anda de mãos dadas com a apresentação visual, acompanhando a beleza. Foi também visível algum desfasamento em momentos no que diz respeito a estes mesmos aspetos elogiados, pois a música chegou a desaparecer por momentos até voltar. E o próprio framerate acusa por vezes a pressão de lidar com múltiplos inimigos na imagem. Os soluços são ocasionais, mas nada que prejudique a experiência.
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Considerações finais
CrossCode é acima de tudo uma ótima experiência de jogo, misturando os visuais e a estória de um MMO, sendo na realidade um RPG e explorando diferentes áreas com ataques diversificados como num jogo de aventura, juntando aí alguns puzzles que resultam e diferenciam ainda mais a experiência. É uma amálgama de géneros que resulta.
De apresentação bem conseguida como homenagem aos melhores dos 16-bits, revela-se também como um verdadeiro desafio, onde o grinding é constante e necessário para avançarmos no mundo de Lea, apresentando por vezes falhas no framerate que podem irritar, mas que não fazem a opinião mudar de que CrossCode é uma obra de amor aos RPG’s dos anos 90, onde a pequena editora Radical Fish Games homenageia uma franja de pequenos adolescentes, tal como eles, que investiam o seu tempo livre de volta de uma consola ranfonha e sobreaquecida, sonhando com combates maiores que a vida e subidas de nível de felicidade.
Clica na imagem para mais informação sobre as nossas classificaçõesComo tudo o que é difícil de conseguir, CrossCode é o sonho do fã inveterado de RPG’s, pois retira-se prazer da sua dureza e complexidade.
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N.R.: A análise a CrossCode foi realizada numa Playstation 4 com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente disponibilizada pela Deck13.