Cada jogo tem uma forma diferente de nos cativar. Existem jogos que nos cativam imediatamente. Outros necessitam de um pouco mais de tempo para que os possamos apreciar realmente. Muitas vezes criamos preconceitos, seja pelo aspeto, pela equipa que o fez ou até pelo género do jogo, o que nos faz afastar e ignorar algo que pode ser uma verdadeira pérola.
Quando recebi este jogo para análise, a primeira impressão que tive foi de que não iria gostar. O aspeto era interessante, mas não era o meu estilo. O início da história pareceu demasiado vago e até um pouco confuso. No entanto, forcei-me a passar esse meu preconceito inicial e acabei por descobrir algo fantástico que considero ser um dos meus indies favoritos deste ano.
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Children of Morta é um jogo roguelike hack-and-slash com uma abordagem diferente a nível da história. Enquanto que a maioria dos jogos deste género optam por uma abordagem mais simples e direta, dando os bocados de história conforme se vão passando os níveis, aqui a história está sempre a desenvolver mesmo quando não estamos a conseguir ultrapassar um certo nível.
A história começa quando a família Bergsons verifica que algo está de errado com o monte que estão a proteger, o monte Morta. Descobrem uma força de corrupção que está a criar criaturas maléficas e completamente selvagens que estão a destruir toda a vida. Como seus protetores, é missão dos Bergsons acordar os deuses para descobrir o que está na origem dessa corrupção e a poderem eliminar definitivamente.
Começando a jornada!
Cada nível baseia-se na exploração de um território, enfrentando grupos de criaturas e armadilhas, colecionando tesouros e, no final de cada nível, enfrentar uma poderosa criatura. No entanto, perder é algo que irá acontecer muito mais frequentemente do que vencer, mas isso não é apresentado como o fim do jogo. Quando o personagem fica sem pontos de vida para continuar a sua aventura, o mesmo é transportado para casa onde irá descansar para poder tentar de novo numa próxima vez. Adicionalmente, a história vai-se desenvolvendo independentemente se o nível foi passado com sucesso ou não, retirando a desilusão de se ter perdido após longos minutos de luta e exploração. A história não fica bloqueada até que o nível seja passado com sucesso. A ajudar nessa sensação dinâmica, existe o facto de o mapa ser sempre diferente, nunca sendo uma visita igual à seguinte. No meio dessa aleatoriedade, podem ainda existir no mapa zonas especiais que ajudam a desenvolver pequenos pedaços de história incentivando o jogador a explorar o mapa em vez de o tentar passar o mais depressa possível.
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No entanto, essa aleatoriedade não vem sem custos. Em algumas tentativas o jogador vai-se sentir completamente inútil, sem capacidades de enfrentar nem a primeira onda de monstros enquanto que noutras situações vai-se sentir completamente invencível com a capacidade de vencer o jogo todo naquele momento. Qualquer que seja a situação, é bastante rápido voltar a tentar nunca frustrando o jogador.
Família unida, família que vence
Com o desenvolver da história, os membros da família Bergsons vão ficando disponíveis para o jogador, tendo cada um deles um estilo de combate próprio. O pai da família, John, utiliza uma espada juntamente com um escudo para se proteger dos inimigos. Os seus quatro filhos, Linda, Mark, Kevin e Lucy são, respectivamente, uma arqueira que prefere atacar à distância, um monge que usa as próprias mãos para enfrentar os inimigos, um assassino letal com alta mobilidade e uma pequena feiticeira que usa magia para derrotar os seus inimigos. Joey, um outro membro da família, funciona como um tanque, lento mas com um martelo que desfere um dano enorme nos seus inimigos.
É natural que cada jogador tenha um estilo preferido de jogo, tendo a tentação de pegar no personagem mais próximo do seu estilo e passar o jogo todo com ele. No entanto, se um personagem for usado demasiadas vezes o mesmo será afectado por uma doença de corrupção, que lhe irá tirar capacidades, tornando-o mais fraco e necessitando de descanso, obrigando o jogador a usar outra personagem. Este sistema, mesmo que não seja agradável ao início, acaba por se tornar mais vantajoso que limitativo. Por um lado, incentivar o jogador a utilizar outros estilos de jogo permite que o mesmo descubra outras formas de jogar e, muito possivelmente, o façam descobrir outros personagens favoritos (como aconteceu comigo) que nunca iriam tentar de outra forma. Por outro lado, conforme cada personagem for evoluindo de nível e desbloqueando novas habilidades, alguns dos bónus dessas habilidades afetam toda a família e não só o personagem que a desbloqueou sendo o jogador recompensado por dar oportunidade a cada membro da família.
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Além das habilidades que são desbloqueadas com cada personagem, existem ainda duas formas extra de atribuir bónus aos membros da família Bergsons. O tio Ben tem uma ferraria onde, a troco de algum Morv, a moeda do jogo, ajuda a melhorar características como o ataque, defesa, agilidade, entre outras. Por outro lado, existe o livro de Rea que ajuda a aumentar a duração de boosts, experiência ganha ou até mesmo a quantidade de Morv colecionado.
A arte que apaixona
Inicialmente, o estilo de arte pixilizado era algo que não me estava a cativar. Apesar de bonito, não era o estilo que estava habituado a ver e não me estava a convencer que fosse algo que quisesse passar muito tempo a olhar. Mas conforme fui jogando e ambientando, comecei a aperceber-me o quão elegante e detalhado é. Os cenários estão de tal maneira bem feitos que existem alturas que dão vontade de parar um pouco o jogo e ficar a apreciar todo o detalhe que conseguiram colocar em cada cenário. Além disso, as animações tanto das personagens como das criaturas são incrivelmente detalhadas e fluídas dando uma fantástica sensação orgânica a cada entidade.
O aspeto gráfico é acompanhado de uma banda sonora adequada que consegue transmitir bem as emoções de cada momento da história. No entanto, o ponto mais marcante é sem dúvida o narrador. Este acompanha-nos ao longo da história, narrando os acontecimentos com uma performance de tal maneira que irá cativar qualquer jogador a querer saber mais sobre o que irá acontecer a seguir.
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Sendo o tema deste jogo “a família”, não é de surpreender que tenham implementado um sistema de co-op. Aqui um segundo jogador pode assumir o controlo de um outro membro dos Bergsons tentando passar os níveis em conjunto.
Tendo tido a oportunidade de experimentar este modo, posso garantir que o jogo torna-se ainda mais divertido e interessante sem alterar a dificuldade normal de cada nível. Os dois jogadores podem-se coordenar, criando as estratégias que preferirem, sendo um mais de suporte enquanto o outro segue para as linhas da frente ou avançando os dois com tudo aquilo que tem ao seu dispor.
O destino está nas tuas mãos
Children of Morta pode não cativar logo de início. Comecei com uma primeira impressão (errada) que não iria gostar deste jogo. No entanto, decidi continuar a jogar e apercebi-me que, quanto mais ia avançando na história e conhecendo as personagens, mais afeiçoado ia ficando a elas e mais ia gostando do jogo.
A história bem construída juntamente com uma narração excelente fizeram com que o principal motivo de querer jogar fosse querer saber o que ia acontecer a seguir com os Bergsons e não tanto o tipo de jogo.
Isto aliado a outros pontos positivos como um jogo rápido, mapas sempre diferentes com segredos escondidos e uma história que está sempre a desenvolver independentemente do sucesso da exploração, tornam este jogo ainda melhor.
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No entanto, a versão do jogo que foi analisada tem tempos de carregamentos que tendem um pouco para o longo, engasgando um pouco enquanto apresentam o resumo do final de cada nível. Apesar de não ser algo que destrua a experiência do jogo, é algo notório e que poderá incomodar alguns jogadores.
Mas mesmo com esses pontos, Children of Morta é uma pérola que poderá passar despercebida a muitos jogadores mas que a quem a descobrir e lhe der o tempo suficiente, ficará incrivelmente satisfeito com a experiência única e incrível que será proporcionada.
N.R.: A análise a Children of Morta foi realizada numa PlayStation 4 Pro com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente disponibilizada pela Elvolve PR