Chama-se FF 91 e é o novo carro da Faraday Future. Este é o primeiro carro da empresa norte-americana, com dinheiro chinês, e, promete a própria Faraday Future, o veículo vai “reformatar o futuro da mobilidade”.
Se no CES 2016 a Faraday Future apresentou o FFZERO1, um conceito de carro elétrico, a empresa aproveitou a edição de 2017 da conhecida feira tecnológica para apresentar o seu primeiro carro de produção. O FF 91 (lê-se ‘nine one’), diz a Faraday Future, representa “uma nova raça arrojada de mobilidade elétrica que combina a performance de um supercarro, manuseio preciso, o conforto de um veículo de passageiros ultraluxuoso e a coleção única de funcionalidade inteligentes de internet”.
A empresa que é conhecida por ser a ‘rival da Tesla’, tem sido alvo de alguma desconfiança sobretudo por causa do seu principal investidor, Jia Yueting, o CEO da LeEco que, em novembro, anunciou que a empresa chinesa tinha crescido acima das possibilidades e que não tinha dinheiro para aguentar a sua expansão. Mesmo contra os relatos mais recentes, a Faraday Future apresentou um veículo que promete muito. O que salta mais à vista são, sem dúvida, a autonomia e a velocidade.
Em termos de autonomia, o FF 91 tem uma bateria de 130 kWh e será capaz de fazer entre 600 a 700 quilómetros com um único carregamento. Em comparação, o Model S P100D da Tesla é capaz de fazer entre 500 e os 600 quilómetros com um só carregamento. Esta autonomia, diz a empresa em comunicado, é fruto da parceria com a LG Chem, que criou a bateria com maior densidade de energia do mundo.
Um dos atuais entraves à compra de um carro elétrico é, a par da autonomia, a capacidade para carregar o veículo. Também neste aspeto a Faraday Future promete muito para o FF 91: “a velocidade de carregamento mais rápido atualmente disponível”. Diz a empresa que o carro será capaz de carregar o equivalente a 800 quilómetros por hora. Já num carregador de casa, será capaz de carregar dos 50 aos 100% em menos de quatro horas e meia, a 240V.
As comparações com a Tesla serão sempre inevitáveis e se a empresa de Elon Musk tinha apresentado o carro de produção mais rápido do mundo, atingindo dos 0 aos 100 Km/H em 2,5 segundos, quando os modelos P100D foram introduzidos, o FF 91 promete ‘destruir’ esse recorde: 2,39 segundos. Sim. 2,39 segundos para fazer dos 0 aos 100 Km/H. O auge do poder do motor é de 783 kW, equivalente a 1050 cavalos.
A conectividade do FF 91
Os carros, mesmo aqueles que não são elétricos, são cada vez mais tecnológicos. Mais uma vez, a Faraday Future deixa muitas promessas para o FF 91. Uma delas, e talvez a mais simples, é o FF EcoSystem, criado através da parceria estratégica com a LeEco. Neste ecossistema, é integrado a vida digital do utilizador, dando acesso a aplicações e conteúdos, ao mesmo tempo que conhece as preferências do utilizador. Com uma conta FFID, os veículos vão conhecer as preferências pessoais do condutor e, como tal, mesmo que um determinado utilizador mude de carro, esse carro já saberá a posição do banco correto, por exemplo.
Mais interessante é a tecnologia avançada de reconhecimento facial, ou Arrival Interface. Esta tecnologia, introduzida pela Faraday Future, permite abrir o carro sem chave. Há uma câmara instalada entre os bancos da frente e de trás que identifica o utilizador e permite abrir as portas do carro. Ao mesmo tempo, promete a empresa, há câmaras no interior do FF 91 para reconhecer os passageiros e ajustar-se automaticamente às preferências de cada um.
Também interessante é a possibilidade do FF 91 não só reconhecer os passageiros, mas também as suas expressões faciais e, como tal, diz a empresa, “ajustar a música, temperatura, cheiro, conteúdo” ao humor do passageiro.
A Faraday Future também quer tornar a chave num elemento do passado. Tanto que, promete a empresa, o FF 91 será o primeiro carro do mundo a não precisar de chave. O veículo reconhece o condutor, abre a porta e ajusta as definições do interior do carro às suas preferências. Dentro do FF 91, é possível ter relatórios em tempo real do carro e controlar toda a experiência de utilização.
E condução autónoma? Claro que não podia faltar. “O FF 91 possuiu significativamente mais sensores comparado com qualquer outro veículo”. O carro terá sensores 3D Lidar retráteis, que faz parte de um sistema de sensores que incluem “dez câmaras de alta definição, 13 radares de longo e curto alcance e 12 sensores ultrassónicos”.
O espelho retrovisor também foi reinventado, por mais estranho que pareça. Na verdade, deixou de existir e foi substituído por um ecrã de alta definição que junta as imagens dos espelhos laterais com a câmara traseira numa única imagem, tendo, assim, uma melhor imagem de tudo o que está à volta do veículo.
Uma das funcionalidades mais interessantes prende-se com a possibilidade de o carro estacionar sozinho. A tecnologia em si já foi inventada e já é usada por quase todos os novos veículos, mas o Driverless Valet, assim se chama a funcionalidade, permite que o FF 91 estacione sozinho depois do condutor sair do carro. Do mesmo modo, e mais uma vez, tal como a Tesla, através da aplicação é possível chamar o carro ou marcar uma hora para o carro ir buscar o condutor.
“My other car is a reservation”
A frase “my other car is a reservation” foi muito utilizada por aqueles que encomendaram o Tesla Model 3. Como é sabido, foram reservados centenas de milhares de Model 3, ainda que a produção só estivesse prevista para começar a meio de 2017.
E o que faz a Faraday Future? Reservas. A partir de hoje é possível reservar o FF 91 por cinco mil dólares, totalmente reembolsáveis. Numa resposta a um comentário no Facebook da empresa, a Faraday Future disse que “o veículo topo de gama não será menos do que 30 mil dólares” (o equivalente a 28.750 euros). Os primeiros 300 a fazer a sua encomenda terão a oportunidade de atualizar a sua reserva para uma edição exclusiva, a Alliance Edition, em que uma parte das vendas será doada a um fundo ambiental.
Para quando começa a produção? Deverá começar em 2018. Mas o problema começa aqui. Se todos desconfiaram da Tesla e da sua capacidade para produzir o Model 3, com toda a legitimidade, não será de estranhar que as mesmas dúvidas existam em relação à Faraday Future e ao seu FF 91. Tecnicamente, a Faraday Future ainda não vendeu nada e, como tal, é desconhecida a capacidade para construir um carro e com que rapidez o consegue fazer (no caso da Tesla sabemos que esse processo é relativamente lento).
A Tesla ainda tem uma fábrica para construir carros; para já, a Faraday Future ainda não, Relembre-se que, por causa da falta de dinheiro, a construção da fábrica no Nevada, nos Estados Unidos, foi parada para “ajustar a agenda” e retomar a construção no início de 2017. Depois, é preciso não esquecer os problemas de dinheiro que afetam a LeEco e, ‘indireta-diretamente’, a Faraday Future; os problemas financeiros da empresa chinesa vão ter um grande impacto na Faraday Future.
No papel o FF 91 aparenta ser um ótimo carro. Aliar a autonomia à velocidade num carro elétrico não é fácil e a Faraday Future afirma que o conseguiu e todas as tecnologias apresentadas no veículo são interessantes. No entanto, para já fica apenas a promessa.