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A crueldade dos números do Android e do iOS

Restam poucas dúvidas de que vivemos num mundo mobile. Mas existem várias dúvidas quanto ao futuro deste mundo. Nas últimas semanas foram revelados valores que mostram cenários quase extremos no que diz respeito aos dois principais sistemas operativos móveis da atualidade: Android e iOS.

Ainda que não sejam diretamente comparáveis nem relacionáveis, como veremos mais à frente, merecem uma atenção especial.




O primeiro destes números foi partilhado pelo diretor executivo da Apple durante o evento de apresentação dos novos MacBook Pro. Tim Cook aproveitou que o mundo estava com os olhos concentrados em si para dar uma alfinetada dura, mas realista, ao sistema operativo Android.

Android iOS
O CEO da Apple mostrava a taxa de atualização das últimas versões dos dois sistemas operativos. #Crédito: Apple

Tim Cook falava da adoção que o iOS 10 já tinha tido desde o seu lançamento, no dia 13 de setembro. Em pouco mais de um mês o sistema operativo já marca presença em 60% dos dispositivos móveis da Apple.

“Em contraste, os outros rapazes (Google/Android) que lançaram antes do iOS 10 ainda não atingiram 1%. E a realidade é que a maior parte dos dispositivos não vai receber este update”, disse o CEO da Apple durante o evento.

Tim Cook é um crítico ‘suspeito’, mas lá no fundo todos sabem que tem razão. A fragmentação continua a ser um dos problemas crónicos do sistema operativo Android.

Fomos comparar os valores apresentados pelo CEO da Apple com aqueles que a Google disponibiliza mensalmente. Ou disponibilizava. A tabela com as quotas de mercado de cada versão do Android não é atualizada desde setembro. Este é um facto de destacar pois a tecnológica sempre manteve os programadores a par das versões mais populares e também das menos usadas no sistema operativo.

Análise Android 7.0 ‘Nougat’: impacto moderado

Neste momento não há por isso números oficiais da Google relativamente à taxa de adoção do Android 7.0 ‘Nougat’. Mas não se adivinha muito muito distante dos valores apresentados pela Apple: LG V20, Pixel e equipamentos Nexus são os únicos que já transitaram oficialmente para o Android 7.0.

Se a fragmentação é o ponto fraco do sistema operativo Android – e este facto depois despoleta outras fraquezas, como os níveis de segurança -, a Google podia fazer deste elemento uma das suas maiores forças.

Nem sempre foi assim, mas agora o sistema operativo Android está lado a lado do iOS em quase todos os aspetos. No hardware alguns dos melhores smartphones do mercado já são Android. No software o sistema operativo da Google é pioneiro em várias funcionalidades que o iOS já adotou posteriormente para si. No ecossistema das aplicações o Android também já tem quase tantas apps como o iOS.

O que distingue maioritariamente os dois sistemas operativos neste ponto é a experiência de utilização – gostos não se discutem – e a questão da fragmentação.

Se a Google resolvesse esta questão, será que conseguia ‘abafar’ ainda mais o iOS e a restante concorrência?

Android, o rei do mundo

A empresa Strategy Analytics revelou o relatório de quota de mercado para sistemas operativos móveis relativo ao terceiro trimestre de 2016 e os números são impressionantes: o sistema operativo Android representou 87,5% das vendas de smartphones a nível mundial.

Significa isto que por cada 10 smartphones vendidos, quase 9 nove têm o sistema operativo móvel da Google.

Nunca o Android teve uma quota de mercado trimestral tão elevada. Sim, isso significa que apesar do largo domínio até aqui demonstrado, este ecossistema continua a conhecer uma tendência de crescimento. A quota de mercado do Android aumentou mais de três pontos percentuais no espaço de um ano.

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Daqui não se pode inferir automaticamente que isso significa que o Android está a roubar clientes ao iOS, ao Windows e ao BlackBerry. As vendas globais de smartphones aumentaram 6% e dentro deste crescimento, o Android foi aquele que teve um melhor aproveitamento.

Estamos por isso a chegar um ponto onde além de parecer que só existem dois sistemas operativos – Android e iOS representaram 99,7% das vendas (!) -, mesmo dentro deste duopólio a Google está a ter um desempenho dominante.

Números sem relação direta

As duas figuras aqui apresentadas – taxas de atualização e quota de mercado – são de extremos. Ainda assim mostram que não há qualquer correlação entre os factos.

Ou seja, apesar de o sistema operativo Android ser muito fraco na questão da atualização do software e da sua fragmentação, os consumidores continuam a olhar muito mais para o sistema operativo da Google. Não é difícil de perceber porquê: por ano são lançados centenas de modelos de smartphone Android, enquanto a Apple lança três modelos novos na melhor das hipóteses; no Android há smartphones para todos os preços, no iOS o mais barato custa 499 euros.

Google e Apple têm as suas estratégias definidas e cada uma à sua maneira, parece estar a resultar. No entanto não deixamos de pensar na mossa ainda maior que o Android conseguiria fazer ao iOS caso tivesse uma política de atualização semelhante à do sistema operativo da Apple.

Por outro lado um cenário no qual o Android é ainda mais tentador para os consumidores também traz os seus ‘quês’: é que atualmente já há falta de diversidade que chegue no segmento mobile.