Os mais recentes dados disponibilizados pela Marktest mostram que 45,62% dos internautas portugueses usam o navegador Google Chrome e 2,7% usam o Microsoft Edge – os dois principais navegadores nos quais não é possível fazer a entrega online do IRS.
Na semana de 21 a 27 de março o Google Chrome era de longe o navegador de Internet em Portugal com mais utilizadores. A segunda posição era ocupada pelo Internet Explorer ao representar 15,62% dos acessos online e em terceiro lugar surge o Chrome Mobile com 10,61% de quota. Apesar de o site da Autoridade Tributária ser responsivo e adaptar-se a diferentes tamanhos de ecrã, por uma questão de usabilidade neste processo não consideraremos os navegadores mobile como ‘elegíveis’.
O preenchimento e entrega da declaração de IRS online, que começou no dia 1 de abril para parte dos contribuintes, deixa assim de fora o browser mais usado em Portugal.
“A entrega eletrónica de declarações de IRS não é possível caso se esteja a utilizar as versões mais recentes do Google Chrome ou o Microsoft Edge”, lê-se numa mensagem da Autoridade Tributária e Aduaneira.
“Em meados 2015, algumas das empresas responsáveis pelos browsers internet anunciaram que iriam deixar de suportar a tecnologia NPAPI. Em consequência disso as versões mais actuais do Google Chrome e o Microsoft Edge não suportam as Java Applets utilizadas nas aplicações de suporte à entrega das declarações fiscais”, acrescenta na mesma informação a AT.
A tecnologia NPAPI é um interface de desenvolvimento de programação que permite a execução de programas ou extensões através dos navegadores de Internet. Ao retirarem o suporte a este sistema a Google e a Microsoft estão também a condicionar sistemas que funcionem com tecnologias como o Java da Oracle.
Mas há um razão que explica esta decisão: a arquitetura NPAPI foi originalmente introduzida no mercado em 1995, pensada para uma Web mais básica, menos populada e não tão desenvolvida. Já em 2009 a Google avançou com uma proposta mais moderna e mais segura: a PPAPI.
A nível de segurança há ainda a considerar que a própria tecnologia Java da Oracle, usada pela AT, tem nos últimos anos sido bastante explorada por piratas informáticos que de forma recorrente vão encontrando novos exploits neste sistema.
Do lado da Autoridade Tributária e Aduaneira é dada a indicação que está a ser desenvolvida uma solução que suportará os principais browsers de Internet, mas devido à complexidade do trabalho o sistema alternativo não ficou completo. E para não condicionar a entrega de declarações relativas ao ano de 2015, a recomendação de outro browser é uma das soluções apresentadas.
“A aplicação de recolha do IRS é uma aplicação com um elevado grau de complexidade, decorrente dos seus vários impressos, extensas regras de preenchimento e é aquela que se destina a um público mais numeroso, correspondendo à entrega de mais de 5 milhões de declarações. Atendendo a este contexto, à maturidade da nova tecnologia e à experiência existente na AT no momento do início do desenvolvimento da aplicação de recolha do IRS, não foi possível promover a adoção de uma nova solução tecnológica a tempo de ser utilizada na recolha de declarações de rendimento do IRS em 2016, porque existiam sérios riscos para todo o processo de recolha e processamento das declarações”, esclarece a AT.
Além da troca de browser os contribuintes portugueses podem ainda descarregar um ficheiro que permite o preenchimento da declaração ‘offline’. Mais tarde terá de submeter este ficheiro online, mas para isso já pode usar qualquer browser.
E entregar o IRS através do TOR?
O TOR Browser pelas suas características de anonimato e privacidade é muitas vezes associado à dark web, uma parte da chamada ‘Internet profunda’, aquela que não é indexada por motores de busca como o Google, o Bing, o Yahoo ou o Yandex.
Sim, o TOR é usado por muitos criminosos que tentam manter os seus rastos o mais tapados possíveis, mas sim, o TOR também pode ser usado por pessoas comuns para tarefas ‘normais’ de navegação online.
Na nossa tentativa de submeter o IRS através deste browser deparamo-nos sobretudo com um problema: lentidão. Como a rede TOR faz a informação viajar por caminhos mais longos na Internet para manter a privacidade nos níveis máximos, percebe-se que a comunicação entre o computador e os servidores do Estado seja mais lenta.
De resto o TOR suporta a tecnologia Java e o site da Autoridade Tributária não retribui a mesma mensagem que dá no Google Chrome ou no Microsoft Edge. Por isso terá aqui mais uma alternativa para preencher e submter o IRS – quem sabe até mais segura.
Testámos ainda outro navegador conhecido e que figura na tabela de browsers mais usados em Portugal. O Opera, com 0,51% de quota de mercado, também não pode ser usado para preencher e entregar o IRS online. Como usa como motor de renderização a tecnologia Blink, baseada no Chromium que dá vida ao Google Chrome, o resultado é o mesmo: não é possível fazer o preenchimento e submissão online do IRS.