Silent Hill 2 Remake

Silent Hill 2 Remake – Análise

No longínquo ano de 1999, a Konami lançou Silent Hill, um thriller psicológico que me marcou imenso pela tensão que transmitia e que era completamente diferente do jogo da moda da altura, Resident Evil da Capcom.

A sequela, Silent Hill 2, lançado em 2001 já melhorava a fórmula e capitalizava no sucesso do anterior principalmente em continuar o seu reinado como um dos jogos mais estranhos e perturbadores da PlayStation 2 e da sua geração.

Alguns remakes têm tido muito sucesso, a Capcom provou isso com Resident Evil, e agora foi a vez desta série adormecida da Konami ter a sua vez pela mão da Bloober Team.

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Havia algum receio que esta equipa não transmitisse o espírito do original, já que os seus últimos jogos, The Medium e Observer não foram bem recebidos pela crítica, mas os amantes da série e do género podem estar descansados, Silent Hill 2 Remake é um sucesso em recriar o original.

Este novo e melhorado jogo é muito maior que os fãs do original possam pensar. Os pontos principais estão lá como o original, mas as localizações estão maiores, com mais puzzles para resolver e inimigos para combater. Existe um foco maior no combate, mas nada que desvirtue a alma do jogo, Silent Hill 2 Remake nunca chega a ser um jogo de ação. Existem estas mudanças, mas a atenção ao pormenor e fidelidade à série é incrível e os novos jogadores vão ter a mesma experiência que eu tive há muitos muitos anos atrás.

No meio do nevoeiro

James Sunderland recebeu uma carta de Mary, sua esposa, que faleceu três anos antes, de doença degenerativa. Na carta, ela refere que está em Silent Hill e James não perde tempo em investigar este mistério. Apesar de avisos de Angela, outra personagem que encontra a caminho da vila, James ignora-a e mantém-se focado em descobrir realmente o que se está a passar.

Considero Silent Hill mais um personagem deste jogo que um lugar, uma localização onde algo acontece. Silent Hill fala connosco sem palavras, transmite medo, tensão, arrepios sem dizer nada, mas com o seu denso nevoeiro, locais pouco iluminados, som e silêncio. A inquietude nunca nos deixa estar propriamente confortáveis e se o fizer, esse sentimento rapidamente cai por terra.

O grafismo realmente ajuda, com excelentes modelos de personagens e bem animados, mas principalmente os inimigos, que são macabros, assustadores e que nos faz querer virar costas e fugir dali para fora.

Os ambientes sujos e decrépitos transparecem o abandono da vila e em muitas vezes as localizações são foto realistas, claro que com o bom uso de alguns filtros, mas que resulta bem lá isso resulta. Em todas as localizações sentimos a ansiedade do desconhecido, seja de andar em corredores escuros ou por a mão num buraco na parede.

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A nível sonoro, disse anteriormente que até o silêncio é inquietante. O primeiro item que obtemos no jogo é um rádio, e a sua estática agudiza-se ao nos aproximarmos de uma criatura. Há exceções claro, mas o som do rádio é stressante quando está tudo escuro, sem música e não sabemos o que estará ao virar do corredor. As vozes dos personagens fazem bem o seu papel, especialmente a voz de James e das criaturas podem esperar os sons mais estranhos e arrepiantes que podem esperar. Com um dos melhores inimigos da série, o Pyramid Head, podem ouvir o arrastamento da sua lâmina gigante e acreditem que mete muito respeito.

Joguei Silent Hill 2 Remake em dificuldade normal tanto em combate e em puzzles, sim porque podemos escolher a dificuldade de ambos independentemente, o que significa que podemos jogar como quisermos e à nossa conveniência. Nunca me senti frustrado com os desafios à minha frente graças aos pontos de gravação estarem bem espalhados (mas preferia auto saves ou opção de como o fazer) e aos mapas que recolhemos das diversas localizações.

James vai anotando informação de maneira que seja fácil a perceção do caminho a tomar. Faz-nos pensar também, mas é uma maneira interessante de ter a informação presente sem consultar diários ou outros apontamentos. Houve uma ou outra vez que fiquei confundido com os puzzles, mas parando um pouco e retroceder os meus passos aos quartos onde passei, há sempre alguma coisa que tinha falhado.

Com corredores e habitações para explorar, claro que vamos encontrar alguns monstros, cada um mais aterrador que o outro e James tem de arregaçar as mangas e com os seus parcos recursos ultrapassar as investidas dos inimigos.

O combate é muito simples, mas adiciona muito ao contexto do jogo, já que James não é um militar, não tem recursos como munição ilimitada e muito jeito para artes marciais. Os nossos encontros são muito corpo a corpo e a intensidade é aumentada por o nosso protagonista ser assim desajeitado. A primeira arma que obtemos é uma tábua com pregos e logo aí sentimos que é matar ou ser morto pelas deambulantes criaturas demoníacas.

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Existem também armas no jogo, mas ao bom estilo do género, munições são extremamente limitadas. Aliás, munição e itens de cura são limitados o que acrescenta mais tensão e foco na abordagem ao combate. James consegue-se esquivar e se lermos bem o adversário, é a mecânica mais importante do jogo, alternando entre arma de fogo e arma branca de modo a poupar recursos.


Nem a lanterna ajuda

Sabemos que o objetivo de jogos de survival horror não é agarrar-nos na mão e facilitar o progresso, mas também não é preciso dificultar. Um dos meus pontos negativos em Silent Hill 2 Remake é que dificulta a experiência do jogador por ser extremamente escuro. E atenção, joguei os originais todos e sei que é uma das características da série. Mas o jogo em certas alturas, nem com a lanterna e nem com a ajuste de claridade nas opções conseguimos ver nada de jeito. Nem para onde temos de ir, nem que o foco esteja apontado na direção certa.

O pormenor gráfico é tão bom, que em muitas das vezes não vemos o trabalho feito pela Bloober Team.

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O jogo ser consideravelmente maior também não ajuda, mas por falta de variedade. Claro que os puzzles são sempre diferentes, mas não há grande diversidade de inimigos e depois de corrermos de corredor em corredor, chega a ser repetitivo, porque há constante backtracking (voltar para trás e para diante) devido à exploração e resolução dos enigmas.

Por isso é que jogos desta natureza têm uma história mais concisa e são mais curtos, ou têm de ter bastante mais variedade em localizações e mecânicas. Mas obviamente não nos podemos esquecer que é um jogo com vinte e três anos.

Considerações finais

A Bloober Team fez um excelente trabalho com este remake e isso quer dizer muito se tivermos em conta os seus últimos trabalhos. Silent Hill 2 Remake tem toda a atmosfera do original, é maior, tem puzzles mais interessantes e traduz para o presente uma série que estava perdida no éter em que as últimas entradas eram insípidas e sem o caráter dos primeiros três títulos, jogos do género impressionantes para a época.

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Excelente para novatos e nostálgico para os mais experienciados, senti de novo num jogo aquele momento nope, de desligar a consola uns momentos até criar coragem para voltar a pegar no comando.

nota 4

Se a Bloober Team mantiver o nível de Silent Hill 2 Remake, têm todo o apoio para refazer os outros grandes títulos da série.


+ toda a atmosfera do original
+ o som e sua ausência assustam
+ puzzles imaginativos

– áreas demasiado escuras
– backtracking entediante

N.R.: A análise a Silent Hill 2 Remake foi realizada numa PlayStation 5 com uma cópia do jogo cedida pela Play & Game.