Há muito que a BQ deixou de ser apenas uma marca de dispositivos móveis. A primeira grande prova foi dada no segmento da impressão 3D, mas depois continuou pela área da eletrónica. Agora quem visitar o site da empresa espanhola encontra vários kits de desenvolvimento e unidades robóticas. Uma das peças deste grupo é o Zowi.
É pequeno, de aspeto amigável e para um robô também podemos considerar que é acessível no preço – 99,90 euros. Mas o grande valor do Zowi está nas possibilidades que dá aos utilizadores de o manipularem, tanto fisicamente como a nível de software.
Apesar de ser um robô ‘chave na mão’, isto é, o produto que vem na caixa já permite algumas brincadeiras como movimentos de dança e reconhecimento de obstáculos, para desbloquear o verdadeiro poder do Zowi vai precisar de meter as mãos na massa. Mesmo sendo um projeto claramente mais direcionado para os mais novos, os adultos devem fazer sempre um acompanhamento – e no final também poderão aprender com este ‘ET’ azul.
Há duas formas de controlar o Zowi: através de uma aplicação dedicada para smartphone que a BQ disponibiliza; ou através da plataforma online Bitbloqs, também da BQ, que permite carregar comandos definidos pelo utilizador para o robô. O mais interessante é que estes dois modelos de interação estão pensados para graus diferentes de utilização e aprendizagem.
Devemos começar sempre pela aplicação móvel pois é a mais fácil de assimilar. Nota de parabéns para a BQ por ter construído uma aplicação muito intuitiva, bastante fluída e que de facto os mais novos não deverão ter grande dificuldade em dominar.
Através da aplicação podemos usar, via Bluetooth, o smartphone como um comando remoto para o Zowi, podemos personalizar os LEDs que criam expressões no robô e também podemos brincar através de alguns jogos.
A app apresenta um equilíbrio certo na quantidade de funções que permite executar com o robô – mais funções e podia tornar o sistema demasiado confuso, menos aplicações e então teríamos uma app bem desenhada, mas subaproveitada nas capacidades.
E esta acaba por ser a parte lúdica. Quem quiser aprender de facto com o Zowi – e aqui é que está o seu grande valor – então deve recorrer à Bitbloqs. Esta plataforma da BQ permite que os utilizadores possam aprender conceitos de programação através de uma linguagem de utilização fácil de assimilar.
Basta selecionar ações, arrastando comandos e criando ligações entre eles, alterar algumas variáveis – tempo em que o robô está parado, quantos passos deve dar, que emoção deve expressar – e depois exportar o resultado final para o robô.
Esta plataforma não é tão direta na aprendizagem como a aplicação móvel e mesmo depois do período de testes ficamos com a certeza de que ‘arranhámos’ apenas a superfície. Os que quiserem dedicar-se de facto à programação do Zowi conseguem encontrar na internet vários tutoriais, tanto da BQ como da comunidade de utilizadores, que ajudarão a tirar um maior partido do brinquedo educativo.
O conceito de comunidade é outro dos pontos fortes do Zowi. Caso não queira estar a construir de raiz os seus próprios comandos para o brinquedo, pode pesquisar na página do projeto por ações predefinidas que têm sido carregadas por outros utilizadores. Em Espanha o Zowi está disponível desde o final de 2015, a Portugal chegou apenas no final de abril.
O Zowi foi revelado em outubro de 2015 num evento em Madrid, Espanha
É de destacar também que os mais criativos podem ainda personalizar fisicamente o robô. Esta personalização tanto pode passar por algo simples como aplicar uns autocolantes ou aplicar máscaras de papel, como os que tiverem uma impressora 3D acessível – em casa ou na escola – podem experimentar criar peças específicas para o robô. Online já estão disponíveis alguns modelos de cabeças que pode ir trocando no robô.
A análise do Zowi acaba por ser diferente – e daí o sistema de pontuação diferente – pois ao contrário de outros segmentos – smartphones, portáteis, câmaras fotográficas – não faz sentido ser muito taxativo nas capacidades do próprio hardware. É no conceito geral do projeto que está o seu valor. E no Zowi reconhecemos um grande potencial e um projeto bem executado por parte da BQ.
É acessível, é open source, é lúdico, é divertido, é desafiante e é diferente. Podemos dizer que talvez é um pouco pesado para um brinquedo, algo que se deve à sua construção robusta. E quando pensamos que tem quatro motores, uma placa Arduino, dois sensores que reconhecem obstáculos, um microfone e um altifalante, então talvez não seja assim tanto peso afinal. Ver esta ‘carcaça’ eletrónica é tão simples como pegar no acessório que vem na caixa do robô, aplicar um pouco de pressão e et voilà.
Os mais novos que gostam de tecnologias vão certamente identificar-se rapidamente com o Zowi. O boneco até tem um humor próprio – se o deixar muito tempo parado ele vai mexer-se e mostrar-se aborrecido, por exemplo.
Uma das poucas críticas que se pode apontar ao projeto é o facto de não ter a aplicação Zowi disponível para o sistema operativo iOS – só existe para Android – pois acaba por ser um segmento com uma grande expressão no mercado. Há casas onde certamente só existem dispositivo Apple e este não deve ser um motivo para que essas crianças não tenham acesso ao Zowi sem terem de investir num smartphone ou tablet extra.
Também gostávamos de ver mais dois botões no Zowi para a execução rápida de ações pré-programadas – ter apenas três programas disponíveis de cada vez pode obrigar a estar a ligar constantemente o robô ao computador. E numa próxima versão do Zowi incluir capacidade de reconhecimento de comandos de voz seria a cereja no topo do bolo.
O Zowi pesa 461 gramas e tem uma autonomia suficiente para oito horas de funcionamento constante
Mas no fundo este talvez seja o objetivo: cultivar ao máximo o interesse pelo ‘faça você mesmo‘, pelo ‘programe você mesmo‘ e pelo ‘imagine você mesmo‘.
Em Espanha o Zowi terá sempre uma maior força do que em Portugal pois a BQ conseguiu uma parceria com os canais estatais de televisão para criar uma série em torno do robô e das suas capacidades de aprendizagem.
Mas com a ajuda da internet atualmente as barreiras são menores e com a ajuda dos pais, também as crianças portuguesas podem aproveitar este maior entusiasmo que existe relativamente ao robô do outro lado da fronteira. Talvez um dia o Zowi ganhe uma localização para português ou seja lançamento um projeto semelhante dedicado para Portugal. Até lá está muito bem como é.