Enquanto a Apple e a Samsung têm feito jogadas mais seguras nos seus smartphones topo de gama, a LG tem feito justamente o oposto e até é possível falar em alguma dose de loucura por parte dos engenheiros e designers da gigante sul-coreana. Numa altura em que a LG precisa de vender mais smartphones – a divisão mobile registou uma quebra no último trimestre -, a empresa continua a fazer chegar ao mercado equipamentos com conceitos experimentais.
Primeiro foi o LG V10 em outubro do ano passado que trouxe dois ecrãs e dois sensores fotográficos na parte frontal. Este ano foi a vez do LG G5, o primeiro smartphone modular a chegar ao mercado e a ser pensado para uma venda massificada.
Podemos analisar o LG G5 de duas perspetivas: como um smartphone normal e aqui dá ‘água pela barba’ aos seus concorrentes mais diretos, apresentando-se com grande qualidade em quase todos os componentes; e pelo prisma da modularidade, onde podemos louvar a vontade de inovação, mas apontar defeitos à capacidade de execução.
Comecemos pelo conceito de smartphone tradicional. Neste campo o LG G5 é atualmente um dos equipamentos líderes. O ecrã de 5,3 polegadas apresenta um detalhe muito bom, cores bastante vivas e ângulos de visualização ‘sem falhas’. A LG mantém assim a tradição a que já habituou os consumidores de ter grandes e bons ecrãs nos seus smartphones topo de gama.
A questão é que estes ecrãs têm evoluído. Mesmo apresentando uma resolução semelhante ao do LG G3 – 2.560×1.440 píxeis – é notória uma evolução nesta área.
Onde a LG também evoluiu e bem com o G5 foi na construção do equipamento. Finalmente temos um smartphone todo construído em metal, com um design arredondado e bastante amigável em termos de utilização. Fiquei com uma sensação diferente – mas positiva – quando agarrei o smartphone pela primeira vez, pois aparentava não ter uma qualidade de construção tão boa como a da concorrência.
Isso não se verifica, mas admito que alguns consumidores possam colocar esta ideia em causa. O smartphone parece oco, mais vazio e menos consistente do que os concorrentes, mas isso deve-se às suas capacidades modulares, isto é, é necessário haver espaço dentro do smartphone para que a bateria e a base possam ser removidas e até trocadas. É uma contrapartida que aceito sem grande dificuldade.
O terceiro elemento em grande destaque no LG G5 é o duplo sensor fotográfico na parte traseira. Capta fotografias de alta qualidade, com recortes bem delimitados, boa reprodução de cores e disparo rapidíssimo. O segundo sensor ‘extra’ permite abrir o ângulo da captação até aos 135º, criando um efeito semelhante ao da GoPro. Se bem usado pode resultar em imagens muito originais e sem comprometer a qualidade geral da composição.
Num mano-a-mano com o Galaxy S7 diria que o LG G5 tem um melhor ecrã, mas fica uns furos abaixo na qualidade fotográfica.
De resto o smartphone comporta-se como um verdadeiro topo de gama – desempenho fluído, grande capacidade multitarefa, última versão do Android, leitor super-rápido e eficaz de impressões digitais e grande capacidade para lidar com jogos móveis.
Mas esta parte já a maior parte dos consumidores desconfiavam que seria assim. E não estivéssemos a falar do sucessor de alguns dos melhores smartphones dos últimos anos e de um equipamento que tem de justificar o seu preço de 700 euros no mercado livre.
O que coloca o LG G5 um passo à frente da concorrência é o seu conceito modular. Isto significa que é possível usar diferentes módulos, pensados para diferentes tarefas, mas sem alterar as especificações basilares do smartphone.
O segredo está na base do equipamento – pode ser removida. Basta carregar num botão que existe na parte inferior esquerda para ver a base do G5 separar-se do restante chassis. Esta base pode ser substituída por outras duas, as únicas que estão disponíveis até ao momento.
Uma delas foi feita pela própria LG e torna o smartphone numa câmara fotográfica mais dedicada – existem botões próprios para o disparo e também para fazer zoom de forma mais conveniente. Já o segundo módulo foi construído pela Bang & Olufsen e traz para o equipamento uma melhor reprodução de áudio, conferindo ao som mais ‘corpo’ e mais graves.
Já falámos no FUTURE BEHIND sobre a guerra dos smartphones modulares e no que os consumidores devem realmente esperar deste conceito. Uma dessas expectativas é sem dúvida a possibilidade de trazer mais e melhores capacidades ao smartphone – neste ponto os módulos da LG cumprem, ainda que me pareça difícil de justificar o preço de 99 e 150 euros pelas peças.
Por outro lado parece difícil de compreender a decisão de usabilidade que a LG escolheu ao obrigar que o utilizador precise de reiniciar sempre o smartphone quando quer trocar de módulo. Isto é tudo menos um modo de utilização amigável. É certo que é necessário existir alguma contrapartida para ter acesso à modularidade, mas não devia nem precisava de ser esta.
A LG devia ter integrado uma pequena bateria no chassis do smartphone que lhe permitisse aguentar 60 segundos sem a base e sem a bateria principal. É todo o tempo que precisa para trocar de módulo. Ainda que o smartphone seja rápido a reiniciar, é sempre uma barreira que quebra o ritmo e que é um ponto negativo a destacar.
Portanto sim, a modularidade do LG G5 é um grande passo em frente para os smartphones no geral e funciona muito bem para uma primeira iteração, mas há um erro capital na sua execução.
Eu gosto da proposta da LG e até gabo a engenharia inventada pela tecnológica para criar um método modular que não é visualmente agressivo – por exemplo, o do Moto Z não obriga a desligar o smartphone, mas tem um impacto mais negativo no design geral do equipamento.
O caminho da inovação é uma estrada com alguns perigos. Além de poder não ser bem recebido por alguns consumidores que preferem equipamentos mais sólidos e mais tradicionais, na prática o LG G5 está a obrigar a marca asiática a apresentar um segundo smartphone modular. Se os módulos do LG G5 nunca puderem ser usados noutro smartphone, então essa será uma grande derrota para a empresa.
Se por outro lado este for o início da construção de um ecossistema mais vasto de equipamentos, então mais um ponto para a LG.
Agora está nas mãos da empresa dar um legado a este conceito e melhorá-lo. Uma ideia é certa: a LG conseguiu uma vez mais fazer um smartphone de grande qualidade e ao mesmo tempo deixar uma porta entreaberta que parece levar a um futuro promissor. Mas desta vez o melhor será deixar as invenções para o LG V20 e assumir de vez com o sucessor do LG G5 um smartphone capaz de ser o melhor do mercado.