Desta vez a história não se repete. Quando a Xbox One original foi lançada a 22 de novembro de 2013, chegou apenas a 13 países em todo o mundo. Portugal não constou desse lote de primeiros mercados brindados com o novo sistema de jogo da Microsoft. Aliás, só chegaria ao mercado português passados nove meses. Foi uma espera longa que muitos fãs da Xbox 360 não assimilaram da melhor forma e que ainda hoje dá que pensar.
Numa luta de consolas que se esperava ser taco a taco – já vimos que não é assim que vai o mercado -, perder nove meses de terreno para a rival PlayStation 4 e logo num mercado como o português, onde a consola da Sony tem uma quota de mercado forte – cerca de 80% no final de 2015 – , foi uma jogada perigosa.
Mas o mercado das consolas não é um sprint, é uma maratona bem longa e qualquer mudança pode ser importante para o desfecho desta geração. Ou melhor, gerações, visto que pela primeira vez vamos ter hardware atualizado a meio de um ciclo de vida. A PlayStation 4 Neo deve chegar ainda este ano e a Xbox Scorpio só no final de 2017.
Para suavizar a espera a Microsoft decidiu criar uma nova versão baseada na Xbox One original, a Xbox One S. Hoje, 2 de agosto, chega a Portugal. Estamos entre os que vão receber a consola na primeira fornada.
“A Xbox é feita para os gamers e a Xbox One S é o resultado do feedback dos fãs. Queremos fazer da Xbox a melhor plataforma de gaming independentemente do dispositivo em que se jogue. Estamos constantemente a pensar no próximo passo para a nossa plataforma e de que forma podemos melhorar a experiência dos nossos fãs”, explicou a gestora da divisão Xbox da Microsoft Portugal, Joana Barros, em resposta enviada por email ao FUTURE BEHIND.
Tentámos saber números de pré-vendas no mercado português, mas esse é sempre um detalhe difícil de arrancar às marcas. “As pré-vendas da Xbox One S estão muito alinhadas com a nossa expetativa. Esta consola vai trazer uma nova imagem e uma série de funcionalidades novas que são valorizadas pelo consumidor, e isso verificou-se nas reservas do novo modelo”, acrescentou Joana Barros.
Ultra HD, mas não nos jogos
Já tínhamos falado da Xbox One S quando foi revelada em junho na E3 2016. O ‘S’ é de slim já que a nova máquina de jogo tem um tamanho 40% inferior ao da consola original. Há suporte para conteúdos em HDR [High Dynamic Range], o que deverá corresponder a uma melhor reprodução de cores em jogos e vídeos. A consola também suporta agora vídeo em Ultra HD e discos Blu-Ray.
Cuidado para não confundir estas funcionalidades com suporte de videojogos em Ultra HD – jogos nativos em 4K só na próxima consola, nesta apenas existe capacidade de upscalling de resolução. Apesar de haver uma ligeira melhoria ao nível de hardware na Xbox One S, a mesma está destinada ao processamento do maior número de informação dos conteúdos HDR.
Estima-se que a Xbox One já tenha vendido mais de 20 milhões de unidades
A Portugal chega agora o modelo com capacidade de armazenamento de 2 terabytes – vai custar 399 euros. Quanto às datas de lançamento dos outros dois modelos – de 1 terabyte e de 500GB -, essas, ainda estão fechadas a sete chaves. Nos EUA começam a ser comercializadas a 23 de agosto.
“Neste momento ainda não podemos revelar as datas de lançamento de todas as consolas, mas em breve haverá novidades para as versões de 1TB e 500GB. Os preços estarão alinhados com aquilo que foi apresentado na E3 e com o restante mercado, refletindo a recente baixa de preço que anunciámos”, sublinhou a responsável da Microsoft Portugal.
Se relativamente às novas Xbox One S ainda não há novidades sobre os seus valores, fica a certeza de que também em Portugal, semelhante ao que aconteceu nos EUA, a Xbox One original vai ter uma redução no preço. Algo que vai estender-se aos bundles nos próximos meses.
“Recentemente, na E3, anunciámos uma baixa de preço significativa em todas as consolas Xbox One, que se vai estender desde logo no lançamento da Xbox One S. Ao longo dos próximos meses estamos a preparar algumas campanhas especiais para a Xbox One e bundles já lançados, antes da chegada das novas consolas em força ao mercado”.
É por isso de esperar um final de ano competitivo por parte da Microsoft. Com um alinhamento de novas consolas e com a consola antiga, não menos poderosa no que diz respeito aos videojogos, ainda mais barata, a Sony e a Nintendo vão ter de manter esforços para não perderem a atenção dos consumidores.
A Microsoft faz assim uma jogada de ‘muitas fichas’ no campo do hardware, já que no segmento do software a Xbox One tem recebido várias atualizações e bastante pertinentes. Ainda esta semana a versão Windows 10 para a consola recebeu uma atualização que trouxe integração com a Cortana – não disponível em Portugal -, possibilidade de ouvir música em segundo plano enquanto joga e ainda uma maior unificação através da Windows Store.
Reforço para uma nova etapa do campeonato
Já aqui dissemos que o facto de a Microsoft ter anunciado duas novas consolas no mesmo evento foi um momento raro e talvez confuso para alguns consumidores. Mas a verdade é que a Microsoft precisa desta consola, isto é, precisava de trazer algo fresco ao mercado que despertar novamente a atenção dos consumidores.
Caso não o fizesse seria como se um treinador de futebol visse a sua equipa a perder para o adversário e nada fizesse. Ao contrário do futebol esta não é uma substituição direta pois a Xbox One vai continuar ‘em campo’. A Xbox One S é um reforço no mais puro sentido da palavra.
O facto de a Microsoft ter-se adiantado à concorrência mais direta da PlayStation 4 ‘Neo’ acarreta sempre os seus perigos pois a Sony conseguirá ajustar nas próximas semanas alguns pormenores por forma a tornar o seu sistema de jogo mais competitivo. No entanto a Microsoft parece ter aqui boas propostas de valor.
A Microsoft tem 49 milhões de subscritores do Xbox Live, mais 33% do que há um ano. Mas as receitas oriundas da consola baixaram 33% devido à baixa de preços.
Da Forbes chega a confirmação de que a Xbox One S de 500GB com dois jogos vai custar 300 dólares e que a de 1TB com dois jogos Halo ou o Madden NHL 2017 vai custar 350 dólares. É de esperar uma conversão direta de preço para Portugal – 300 e 350 euros respetivamente -, pelo que são valores bastante interessantes para as especificações que a consola apresenta.
Por 300 euros compra uma consola de última geração de videojogos, um leitor de Blu-Ray 4K e ainda um sistema que suporta nativamente conteúdos em Ultra HD HDR. Parece-nos um preço bastante competitivo, mas só será possível verificar o verdadeiro potencial da consola quando tivermos a oportunidade de a testar.
A questão é que entre as grandes novas funcionalidades da consola, as mais importantes estão relacionadas com o consumo de conteúdos de vídeo e não tanto com os videojogos em si. Há quem considere que a Microsoft preocupa-se demais ao tentar transformar a Xbox num centro multimédia quando devia estar focada nos videojogos.
Por um lado estes críticos têm razão – uma consola é para jogar e é aí que deve estar todo o seu potencial -, mas por outro as máquinas de jogo estão a evoluir. No design, nas capacidades e na forma como se adaptam aos consumidores. Os próprios jogadores estão diferentes. Fazem muito mais do que jogar, também são consumidores de Netflix e YouTube por exemplo. A consola de videojogos como equipamento tem um grande potencial para ser o centro da casa inteligente do futuro. Com o Windows 10 a Microsoft pode muito bem conseguir atingir este objetivo, ao contrário da Sony que teria muito mais dificuldade.
Não nos espanta que a Xbox esteja a posicionar-se de forma vincada do lado dos conteúdos. Agora a divisão de videojogos da Microsoft precisa é de perceber se tal como alguns treinadores de futebol, não está a ser demasiado teimosa ao apostar na tática errada. A Xbox One S pode ser o seu argumento final nesta discussão. E na área do gaming ninguém gosta de perder.