A singularidade que a Nihon Falcom insiste em manter na produção dos seus jogos, especialmente ao persistir em manter uma equipa de trabalhadores de tamanho relativamente modesta, mas de grande talento, foi e ainda é, para qualquer apreciador ocidental das suas séries, um autêntico suplício e de prova de paciência louvável. Embora nos últimos anos os processos de localização tenham vindo a ser cada vez menos demorados e o aumento de títulos a receberem luz verde para o mercado Ocidental ter aumentado de forma considerável, a série The Legend of Heroes foi altamente penalizada durante vários anos e alguns títulos ainda permanecem exclusivos do Japão.
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Para os jogadores que nunca se cruzaram com nenhum título da série The Legend of Heroes, é bem provável que assim que comecem a fazer as primeiras pesquisas fiquem desde logo de pé atrás com receio de se meterem numa série altamente extensa, com várias ramificações, e ainda por cima, com jogos distribuídos por várias plataformas. Felizmente, a Nihon Falcom tem vindo a determinar um padrão neste processo, e hoje já é bem mais acessível de ter acesso a uma grande quantidade de jogos sem se perder algo verdadeiramente fundamental na construção da narrativa. Também com o abandono das consolas portáteis da Sony, a Falcom começou a olhar para a Nintendo, e mais propriamente para Nintendo Switch de outra forma, lançando primeiramente Ys VIII: Lacrimosa of Dana e agora The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III.
O futuro das sequelas para a híbrida com as devidas localizações também já estão asseguradas, nomeadamente os sucessores de ambos – Ys IX: Monstrum Nox e The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV… nesse sentido 2021 promete imenso.
Uma chegada inesperada
De uma forma meia bizarra, The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III chega à Nintendo Switch sem antes a série ter recebido os outros dois jogos. Embora seja altamente polémico, e obviamente lógico, para se ter uma maior perceção da magnitude da história, o ideal será jogar através de uma sequência direta os primeiros jogos da série, pois ao contrário de outras séries de JRPGs, The Legend of Heroes vive imenso das várias ramificações e essencialmente das sequelas. A forte construção da narrativa através de quantidades absurdas de personagens, do mundo que se vai moldando conforme o tempo vai passando, de todo o enredo que vai crescendo com as figuras e amadurecendo com elas, sendo estes alguns dos grandes trunfos da série The Legend of Heroes. Posto isto, não será exagerado referir que se trata de um requisito quase obrigatório antes de entrar na série, ir de encontro primeiro com os jogos anteriores para se ter uma maior perceção da grandeza do mundo, e não cair de paraquedas no terceiro capítulo. Contudo, é bom referir que The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III vem com tudo e pronto a receber de braços abertos tanto jogadores estreantes como os já veteranos na série.
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The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III oferece um conjunto geral de resumos de tudo o que aconteceu nos títulos anteriores, com introdução do mundo, informações relevantes de cada território e mais um conjunto alargado de outros extras. Ainda dentro da vasta informação disponível para consulta, há várias informações do amplo leque de personagens dos títulos anteriores. E, apesar de se tratar do terceiro título e de ser uma sequela direta, a história de Trails of Cold Steel III inicia um novo rumo da personagem principal, apresentando tudo de uma forma lenta, bem esclarecedora e bastante convidativa. Não é por acaso que o próprio presidente da Falcom e co-criador da série, Toshihiro Kondo em entrevista disse que o terceiro jogo poderia ser um jogo ótimo para receber novos jogadores. Independentemente da decisão a tomar, os jogadores que se estrearem no terceiro jogo só ganhariam em fortalecer os conhecimentos com os jogos anteriores, experienciando por eles o elenco rico, as histórias fortes e as batalhas épicas dos títulos antecedentes.
Para os fãs, será como mais um bom regresso a casa
The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III traz a continuação da aventura de Rean Schwarzer, quase um ano e meio desde a guerra civil da Erebon, desta vez não como aluno, mas sim como instrutor onde vai ensinar um grupo de três novos heróis da Class VII – operações especiais. Lidando com a diferença e com a rebeldia dos alunos, Rean vê-se novamente numa jornada de altos e baixos, da luta do bem contra o mal, com reviravoltas numa história extensa de guerra que se vai complementando ainda mais com personagens das aventuras passadas. A forte ligação emocional que Trails of Cold Steel III vai criando com o jogador é muito forte, mas a quantidade absurda de personagens e a história extensa e volumosa, por vezes possui um ritmo mal balanceado. Ainda assim, a sensação de ambiente escolar e o espírito de turma é bem presente. O terceiro capítulo oferece mais do mesmo que já se tinha assistido nos dois títulos anteriores, portanto quem jogou os dois primeiros jogos, ou até mesmo outros títulos da série The Legend of Heroes, não vai estranhar e vai sentir que tudo é completamente familiar. A fórmula é a mesma.
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Muito semelhante está também o sistema de combate que já era conhecido dos outros títulos. Ligeiramente mais refinado, com uma inteligência artificial mais aprumada, The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III volta com os combates por turnos, com várias formas de explorar não só as tradicionais fraquezas dos inimigos, como também com as Brave Orders que fazem aumentar significativamente a velocidade dos embates. Disponíveis estão também cinco diferentes tipos de dificuldades, de forma a agradar a praticamente todo o tipo de jogadores, desde o modo muito fácil até ao pesadelo. Embora as batalhas façam parte de toda a experiência, a narrativa é claramente o aspeto central da série, mas para os jogadores que gostam de elevar a dificuldade, o desafio também está disponível. Trails of Cold Steel III segue também as mesmas pisadas dos títulos anteriores, com uma exploração limitada, mas acessível, que passa essencialmente por vaguear pelas cidades e pelo recinto da escola. Embora ritmado pelas missões principais, o jogo dá ainda espaço para alguns pedidos facultativos que acabam por fortalecer a ligação com as personagens secundárias.
The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III não faz muito por inovar em tudo o que foi feito até ao momento na série e traz tudo de forma mais madura, fortalecida e refinada. As masmorras, cheias de inimigos e de quebra-cabeças, tendem a ser simples e por vezes longas e repetitivas. Os visuais e as animações também continuam a não ser de encher o olho, mas a série The Legend of Heroes não vive desses elementos, apesar de manter um desempenho bastante consistente nos momentos mais intensos de ação. Visualmente Trails of Cold Steel III não oferece uma grande evolução comparativamente com os títulos anteriores e mantém algumas animações estranhas e por vezes bastante pobres. Aliás, como vem sendo hábito em títulos da Falcom, os visuais apesar de não serem péssimos, graficamente nunca vão além do razoável para os dias de hoje na indústria. Já a banda sonora, apesar de continuar a manter a qualidade apresentada nos títulos anteriores da série, os valores das obras são outros. As melodias variadas e viciantes, com grande probabilidade de ficarem rapidamente no ouvido, continuam a ser feitas de forma rigorosa e colocadas em cada fragmento de forma perfeita.
Considerações Finais
The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III é a sequela perfeita dos títulos anteriores. De corpo e alma, é justamente mais um jogo que vai agradar a todos os fãs que acompanham e alicerçam a comunidade da saga. Apesar de ser, de forma isolada, um título que pode dar as boas-vindas a novos jogadores, e de ter uma quantidade absurda de informações dos títulos passados, a história avança de uma forma leve e vagarosa de modo a não ser totalmente intenso em conteúdo para os jogadores recém-chegados, porém, para se ter uma experiência completa e apanhar várias referências passadas, é altamente recomendado que já se tenha bagagem dos jogos anteriores.
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Trails of Cold Steel III é apesar de tudo um título de visuais banais para os dias de hoje, mas de grande importância narrativa, possuindo um enredo muito bem construído. O sistema de combate por turnos apesar de também não voltar a revolucionar o género continua a ser bastante divertido, dinâmico e desafiante conforme a dificuldade selecionada, o que ajuda a aprofundar ainda mais toda a experiência.
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N.R.: A análise a The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III foi realizada numa Nintendo Switch com acesso a uma cópia do jogo, gentilmente disponibilizada pela NIS America