Há muita coisa boa a ser feita em Portugal, já aqui o mostramos, principalmente durante outras edições do Feito em Portugal, mas quão fácil é produzir algo em Portugal? Quão fácil é apresentar um novo produto ao mercado português e que é que faz mover os criadores portugueses?
Hoje, dia 4 de março de 2020, marca o início da campanha indiegogo do estúdio português Cereal Games onde procuram financiamento dos fãs para o Action RPG que estão a desenvolver – Pecaminosa. Mas o que é Pecaminosa? O que é que traz de novo e quais os pontos fortes do título que parte, à conquista do mundo, da ilha de São Miguel nos Açores.
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No início do mês passado escrevíamos que Pecaminosa “não só dá o nome ao jogo mas também à cidade e ao casino presentes no título e segundo o estúdio “o ambiente do jogo tem lugar no final da década de 40 em Pecaminosa, uma cidade imaginária, erguida na fronteira entre os Estados Unidos da América e do México, na qual o deboche e a corrupção fixaram residência permanente”. Hoje estamos aqui para vos mostrar, em conversa com os criadores deste mundo, como é que é desenvolver este tipo de histórias e o que é que podem esperar deste Action RPG feito em Portugal.
Pelas imagens que tem vindo as ser disponibilizadas nas redes sociais do jogo, e mesmo no trailer de apresentação do mesmo, percebemos que Pecaminosa apresenta-se como um jogo com um bom ritmo, lutas interessantes com bosses com o triplo do nosso tamanho e que a interação com os NPCs é uma constante durante o decorrer da narrativa.
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Percebemos ainda que a narrativa é um dos fatores mais importantes no jogo da Cereal Games e que a personagem principal, John Souza, poderá crescer de várias formas ao longo deste RPG, mas nunca terá a vida facilitada.
Fácil de ouvir é a banda-sonora de Pecaminosa, apresentado-se assim mais um elemento único no título nacional… uma banda sonora feita à medida do policial noir que Pecaminosa é.
A entrevista com a Cereal Games
Future Behind [FB] – Pecaminosa, crime, pecado, diversão, álcool… quais as semelhanças entre a cidade de Pecaminosa e São Miguel? Agora a sério, e que tal uma tour pela cidade de Pecaminosa?
Cereal Games [CG] – Pecaminosa é uma antítese de S.Miguel ;), que é uma ilha verde, pacífica e acolhedora. Pecaminosa é a junção entre uma Chicago violenta e uma Las Vegas amargurada. Quisemos captar toda a tensão da época numa cidade fictícia, e a melhor ficção é aquela que acolhe alguns elementos reais. Tem os bairros mais violentos, como tem as zonas mais nobres onde se situam os casinos. Tão nobres quanto uma cidade como Pecaminosa pode ser. Ah, e têm esgotos. Todos os RPG’s têm de ter um nível de esgotos. É obrigatório, vem no manual do desenvolvimento de RPG’s.
FB – Este pedido de tour foi uma forma de vos ajudar a treinar para aquele tier da campanha do indiegogo, qual de vocês será o melhor para dar a tour de São Miguel aos “executive producers” de Pecaminosa?
CG – Tecnicamente, o backer que quiser o perk “Find Azores and bring a Friend“, não é executive producer, vêm com o nome destacado logo abaixo dos executive producers. Felizmente há uma série de colaboradores da Cereal Games que podem efetivamente ser cicerones nesta aventura. Micaelenses de gema que conhecem bem, e têm orgulho na sua ilha.
FB – Falem-nos da campanha de indiegogo – Quando é que chega, qual o objetivo e esperam chegar além-fronteiras com a campanha?
CG – O grande objetivo é precisamente chegar além fronteiras, pois pretendemos aumentar a nossa comunidade de jogadores. Temos tido um bom feedback nacional e internacional, mas sinto que é ainda um grupo muito pequeno, aquele que já ouviu falar de Pecaminosa.
A campanha vai para o ar dia 4 de março, a quem estiver minimamente interessado, aconselho que passem pela página de campanha e vejam com mais calma tudo o que temos para oferecer. Há boas recompensas a preços acessíveis. Nem na cidade de Pecaminosa podemos encontrar preços destes.
And the "Best laugh in a videogame" award goes to… https://t.co/dp7ck6JWUG
— Future Behind (@futurebehind) February 17, 2020
FB – Lançam uma campanha indiegogo que será, certamente, uma parte bastante importante do financiamento de Pecaminosa. Como devs portugueses, quais são as principais dificuldades de criar jogos em Portugal?
CG – Existem várias, desde o estigma (e esta parte é talvez mais açoriana do que em Portugal em geral) à escala da produção. Existem muitos projetos, e bons, muito bons, feitos em Portugal, mas não deixa de ser umas quantas pessoas, muitas vezes em contexto de “desenvolvimento na cave com pizzas e coca-colas”. Falta efetivamente uma industria sólida. Já li e ouvi por ai falar em industria de videojogos em Portugal. Isso é um mito. Se não fosse, quem tira licenciaturas em Desenvolvimento de Jogos, não teria dificuldade em arranjar trabalho na área.
O que é pena, pois os Portugueses são bons nisso. Tem de haver mais crença.
FB – E vantagens, existem?
CG – Sim, e neste capítulo vou falar num registo mais regionalista: S. Miguel tem um excelente nível de vida. Atenção quando digo excelente, não deixa de ser território português, que isso aqui não é o Havaí :P. Mas tem um bom ritmo de vida, sem engarrafamentos de 2 horas, com muito baixa, quase inexistente taxa de criminalidade.
Existem excelentes infraestruturas e apoios para fixar recursos na região. De resto, é aproveitar e trabalhar para fazer contar toda essa ajuda. Mas lá está, isto de fazer jogos ao fim do dia é um trabalho como os outros. É preciso ser focado e disciplinado, se calhar até mais do que noutras atividades.
FB – Sobre o lançamento do projeto: em que plataformas podemos esperar ver Pecaminosa no seu lançamento?
CG – Nesta fase apesar de não ser público, não posso esconder que não seja um objetivo colocar Pecaminosa em várias plataformas. Umas mais interessantes do que outras para este tipo de jogo, mas enquanto isso não é certo, e para nos protegermos, a resposta oficial é PC, Mac e Linux.
FB – E existem planos para trazer o jogo a plataformas como a Nintendo Switch? Perguntamos isto porque a plataforma da Nintendo tem-se tornado bastante apetecível para os estúdios indie.
CG – Sim, como respondi anteriormente, há esse desejo secreto. E sim, de todas as plataformas para além do computador, a Switch é a que nos seduz mais, precisamente pelos motivos que evidenciaram.
FB – Pecaminosa é um Action RPG com uma componente de história muito forte, mas qual é a história de John Souza, o protagonista?
CG – Apesar de estarmos a receber grandes elogios pelo grafismo e pela banda sonora original, eu diria que o prato forte de Pecaminosa é mesmo a sua história. É normal o feedback nos outros elementos, pois, é o que tem chegado às pessoas. Quanto à história… só mesmo jogando! Começa com uma série de clichês do gênero, como o ex-detetive caído em desgraça, a femme fatale, o polícia corrupto, etc, mas há um grande twist narrativo, que coloca inclusive alguma força do oculto na equação.
FB – De todos os elementos que podemos desenvolver ao longo da narrativa de Pecaminosa, qual é o mais importante para permitir que John Souza tenha uma vida menos… atribulada?
CG – Nenhum! Estamos a fazer um esforço para que haja um equilíbrio entre todos os elementos, de forma a que nenhum sobressaia. Mas atenção, isso não significa que John Souza tenha a vida facilitada. Estamos a falar de um policial noir afinal de contas. Qual é o film noir em que o protagonista não passa um mau bocado? Até seria insultuoso para com o John, se lhe facilitássemos a vida.
FB – Três questões que surgem porque por aqui somos pessoas curiosas:
- Podemos passar, com sorte suficiente, horas a fio no casino e deixar o desenrolar da história para outro dia?
CG – Sim, o objetivo é precisamente esse. Na pior das hipóteses o jogar terá de sair do casino para progredir na história e ganhar mais uns cobres… para voltar ao casino!!! Como a vida real aliás 😛
- No trailer vimos Darcy a ler a headliner do dia a John Souza… como é que se chama o jornal em Pecaminosa? (wink wink)
CG – Agora é a minha vez de jogar: o nome do jornal de Pecaminosa é o nome de um dos PERKs da campanha crowdfunding!!… (wink wink)
- A banda-sonora do jogo aparenta ser fantástica, podemos esperar uma edição física da mesma?
CG – Eu adoraria!! Um dos stretch goals da campanha é precisamente o de uma edição limitada em Vinyl da banda sonora. Temos sido bem elogiados pela banda sonora, acho que valeria mesma a pena essa edição física.
FB – Por fim, vocês estão a criar um jogo. Uma das partes mais importantes da criação de um jogo acaba por ser a venda do mesmo… façam-no em apenas uma frase.
CG – Pecaminosa é um action RPG policial com uma grande carga narrativa, acompanhado de uma estética pixel art, num ambiente noir art-deco e uma banda sonora jazz!
Pecaminosa no Indiegogo