Estamos em 2018, vivemos num mundo e numa sociedade fortemente influenciada pela tecnologia onde ouvimos frequentemente falar de realidade virtual (VR). No entanto, os utilizadores de dispositivos VR são ainda poucos, talvez por culpa dos valores envolvidos no investimento em hardware de realidade virtual ou por a tecnologia ainda estar a dar os primeiros passos. Para quem se interessa no tema e quer dar o primeiro salto, estão disponíveis várias opções no mercado. Numa rápida pesquisa por “Óculos de realidade virtual” encontramos várias soluções, com preços que variam entre os €5 e os €1000. Qual é a diferença entre os dispositivos VR disponíveis no mercado? Afinal o que é preciso para experienciar a verdadeira realidade virtual de que tanto se fala?
Em vários países, encontramos diferentes tipo de óculos VR exibidos em lojas. Neste contexto, o consumidor pode experimentar diferentes soluções antes de comprar. Em Portugal, muitas lojas optam por nem ter em stock importantes dispositivos como os HTC Vive ou os Oculus Rift. Isto faz com que possíveis novos utilizadores a tenham uma tarefa mais complicada na hora de procurar informação sobre os diferentes tipos de óculos de realidade virtual disponíveis. Muitos optam por procurar a informação e mesmo encomendar online, muitas vezes sem nunca terem fisicamente interagido com o produto.
Essencialmente, os óculos VR dividem-se em três categorias: os que dependem de um smartphone, os que funcionam sozinhos, e os que dependem de um computador (ou consola de jogos). Mas quais são as diferenças em cada um destes segmentos? E qual será o dispositivo certo para cada tipo de utilizador? Venha connosco ao mundo encantado da realidade virtual e perceba as maiores diferenças entre os dispositivos VR existentes e quais as marcas que dominam o mercado.
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Smartphone VR
Como o nome indica, a secção de “Smartphone VR” refere-se a óculos VR que dependem de um smartphone para funcionar. Estes dispositivos funcionam de uma forma simples: As aplicações VR correm no smartphone e o mesmo serve como ecrã. Os sensores do smartphone são usados para detectar o movimento da cabeça, enquanto o ecrã mostra a imagem que o utilizador vê. O ecrã é dividido em duas imagens semelhantes, que os óculos separam fisicamente, proporcionando uma imagem diferente para cada olho e assim um efeito tridimensional.
Google Cardboard
A forma mais minimalista de realidade virtual encontra-se nesta categoria e começou com os Google Cardboard. Os Cardboard, como o nome indica, é um pedaço de cartão dobrado para assentar na cara. Tem duas lentes e um espaço onde se insere um smartphone. A vantagem dos Cardboard é o preço, pode ser encontrado à venda por algo como cinco euros. Funciona com qualquer smartphone (cuidado, pois quanto pior for o smartphone pior vai ser a experiência de realidade virtual) e as aplicações são facilmente acessíveis através da PlayStore ou AppStore. Outros produtos vendidos como oculus VR que se encontram disponíveis para compra por valores inferiores a €50 são normalmente versões em plástico do conceito criado pela Google com os Cardboard. Estes funcionam exactamente da mesma maneira mas proporcionam uma experiência de utilização mais confortável.
Os Cardboard, embora sejam uma solução pioneira e de baixo custo, são apenas uma amostra do que pode ser a realidade virtual. O utilizador tem de facto a capacidade de estar num mundo virtual (regra geral, de baixa complexidade), mas está limitado ao rodar da cabeça para olhar a sua volta e “explorar” o mundo virtual. Não existe funcionalidade de seguir o posicionamento espacial, isto quer dizer que se dermos um passo em frente ou para o lado, este movimento não é registado pela aplicação. Não existe qualquer controlo das mãos ou do corpo, e portanto o único modo de interagir com o ambiente à nossa volta é apontado com a cabeça. Em resumo, podemos ficar quietos e olhar à nossa volta, mas não podemos ir a lado nenhum nem interagir com muita coisa.
Samsung Gear VR
Os Samsung Gear VR sao uma versão mais polida de smartphone VR. É o resultado da parceria entre a Samsung e a Oculus sendo compatível exclusivamente com os últimos modelos da gama Galaxy da Samsung. Os Gear VR oferecem um design e construção otimizados para as características dos smartphones compatíveis. Tal como os Google Cardboard continuam a fazer uso do smartphone para o ecrã do dispositivo e processamento das aplicações, mas liga-se a este por USB proporcionando sensores adicionais de movimento. Mais importante ainda, os Gear VR vem com um comando capaz de apontar (mas não de se mover no espaço). O comando vem com vários botões e funcionalidades, tornando mais versáteis as interacções com menus e mundos virtuais. Os Gear VR usufruem também de acesso a uma vasta colecção de jogos e experiências exclusivas, devido ao seu acesso à biblioteca de aplicações da Oculus. Os Samsung Gear VR estão disponíveis para compra no mercado nacional por um valor a rondar os €120.
Google Daydream View
De forma semelhante, quando comparados com os Google Cardboard, os Google Daydream View proporciona um dispositivo com maior conforto e mais funcionalidades. Incluem também um comando essencialmente com as mesmas funcionalidades do comando dos Samsung Gear VR. No entanto são compatíveis com uma gama mais vasta de smartphones que incluem modelos seleccionados da Google, Samsung, LG, Huawei, Motorola, Asus e ZTE. Os Google Daydream View podem ser adquiridos na loja online da Google, por um valor que ronda os €70 no mercado europeu. No entanto, não podemos esquecer que com o preço dos smartphones compatíveis com os Samsung Gear VR e com os Google Daydream View… nunca vai gastar menos de €400.
Realidade virtual ligada a um computador
Esta é a categoria em que a realidade virtual pode mostrar toda a sua capacidade, e aqui sim criar mundos verdadeiramente imersivos e interativos. Esta é a versão premium da realidade virtual e a fronteira do desenvolvimento da tecnologia. Neste tipo de realidade virtual, o utilizador tem acesso a todo o tipo de movimentos: diferentes tipos de rotação, orientação e capacidade de se mover livremente no espaço. Temos também acesso a comandos, um para cada mão, que são capazes de também se mover pelo mundo. Os utilizadores podem ainda agarrar objectos, apontar, fechar punhos e uma série de outros movimentos naturais. Ao usarmos um headset premium, ligado a um computador, temos ainda acesso a ecrãs feitos a pensar neste tipo de produto e ainda velocidades de processamento superiores, o que faz com que a experiência seja mais imersiva.
Existem também contrapartidas para este sistema de realidade virtual sendo a primeira limitação é a necessidade de uma constante ligação por cabo ao computador. Mas mais importante, especialmente no mercado português, é o custo destes sistemas. A realidade virtual elevada ao seu máximo potencial exige uma alta capacidade de processamento e placa gráfica do computador para correr estas experiências de forma fluida. Para uma experiência confortável estamos a falar de um computador estacionário de pelo menos mil euros, caso prefira um portátil então prepare-se para investir perto de dois mil euros. O software é também exclusivo para windows, não havendo, ainda, grande compatibilidade com Linux ou MacOS.
No que toca a dispositivos ligados a um computador, existem três ecossistemas principais que dominam o mercado: os HTC Vive, os Oculus Rift e os Windows Mixed Reality. Em termos de realidade virtual para consolas de jogos, o mercado é dominado pela Playstation com os PSVR, que funcionam ligados a uma Playstation 4.
HTC Vive
Os HTC Vive, desenvolvido numa parceria entre a HTC e a Valve, foi o primeiro dispositivo de realidade virtual, tal como a conhecemos hoje, a estar disponível no mercado. Para usar os óculos da HTC, precisamos de ter dois pequenos cubos na nossa sala, chamados lighthouse (“faróis”), que emitem um tipo de luz que por sua vez é detectada pelos óculos de forma a calcular a sua posição exata no espaço. A mesma tecnologia é usada pelos comandos das mãos, que são uma espécie de varinhas com vários botões e funcionalidades.
Os HTC Vive usam a loja de aplicações Steam como principal biblioteca software. Mais especificamente, podemos usar o Steam VR para interagir num ambiente virtual com a nossa biblioteca de jogos. O preço dos HTC Vive ronda os €600 em Portugal.
Recentemente, foi lançado uma versão superior deste dispositivo, os Vive Pro. Por um preço próximo dos €900, os Vive Pro são capazes de uma qualidade de imagem superior, maior capacidade para correr experiências exigentes, áudio integrado e uma qualidade de produção superior. Esta versão Pro dos HTC Vive encontra-se em fase de pré-venda com a expedição a começar em maio de 2018 na europa.
Oculus Rift
A Oculus, recentemente adquirida pelo Facebook, é uma das empresas pioneiras no mundo de realidade virtual. A experiência com os Oculus Rift é na sua maioria semelhante a que se vive no dispositivo da HTC. Aqui, o posicionamento no espaço dos Rift e dos comandos é calculado por 2 ou 3 sensores que são colocados no espaço a sua volta.
Uma das vantagens apresentadas pelos Oculus Rift é o design dos comandos, ao segurar cada um dos comandos a mão do utilizador assume uma forma natural e intuitiva, dando um controlo e feedback mais imersivo
Os Rift tem acesso ao Steam VR e à sua própria biblioteca de jogos e experiências exclusivas: a Oculus Home. Segundo o site da Oculus, os Rift não estão ainda disponíveis no mercado nacional, mas ao estarem o preço deverá manter-se na mesma linha do valor praticado em países como frança onde podem ser adquiridos por €449.
Windows Mixed Reality
No meio de dois gigantes da realidade virtual, encontra-se o mais novo concorrente neste cenário: os Windows Mixed Reality (MR). Estes dispositivos são na realidade vendidos por diferentes marcas (Asus, Samsung, Acer, Dell, HP e Lenovo), em que cada marca tem o seu modelo mas todos têm o mesmo tipo de funcionalidade. No entanto, não se deixe ser iludido pelo termo “Mixed Reality”, os Windows MR são dispositivos para realidade virtual, não tendo qualquer tipo de garantia que venham a ter funcionalidades de realidade aumentada (AR) ou misturada (MR).
A grande inovação destes dispositivos é que não necessitam de sensores ou “faróis” posicionados na sala em que tencionamos usá-los. Em vez disso, os Windows MR calculam a posição do utilizador no espaço usando duas câmaras na parte frontal. As câmaras reconhecem os detalhes no ambiente em volta e posicionam o usuário no espaço, embora seja uma solução inteligente pode criar limitações para os comandos. Neste sistema, os comandos precisam de estar no campo de visão do dispositivo para serem detectados, limitando as suas funções.
Os Windows MR têm como biblioteca principal de aplicações a Microsoft Store. No entanto, têm também acesso ao Steam VR onde é possível encontrar vários títulos compatíveis. O preço dos Windows MR consegue ser o mais baixo dos três dispositivos que vimos até agora, descendo a barreira dos 400€, tornam-se uma séria opção para quem quer entrar no mundo da realidade virtual sem ter que pensar em orçamentos astronômicos.
Playstation VR
Finalmente, temos a Sony com os PSVR. Os PSVR correm ligados á Playstation 4 e faz uso de outros dispositivos do ecossistema Playstation. A Playstation Camera é usada para seguir a posição espacial dos PSVR. Para comandos, podemos usar os Playstation Move, os DualShock 4 ou mesmo um volante caso esteja a pensar aventurar-se num título como Gran Turismo Sport.
Os Playstation VR chegaram ao mercado nacional em 2016 e são uma solução mais acessível para quem já tem uma Playstation 4. Por €299.99, temos um pacote com tudo o que é necessário para uma experiência em VR. No entanto, a capacidade de seguir o usuário no espaço e a funcionalidade dos comandos manuais fica muito aquém do que é oferecido num dispositivo VR ligado a um computador como os Oculus Rift, os HTC Vive ou mesmo os Windows MR.
Então mas na categoria “premium” de realidade virtual vamos estar sempre presos por um cabo? Não necessariamente. Soluções estão a ser desenvolvidas tanto pela HTC como pela Oculus para proporcionar uma experiência wireless. Por enquanto, caso não queiramos estar presos por um cabo, já conseguimos encontrar soluções no mercado como é o exemplo do TPCast, um adaptador que se liga aos HTC Vive ou aos Oculus Rift. Embora promissor, o preço elevado deste dispositivo e relatos de alguns problemas na fidelidade do produto, podem deixar alguns utilizadores de pé atrás.
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O conceito Standalone – Óculos VR que funcionam sozinhos
A mais recente novidade no mundo VR são os óculos que funcionam sozinhos. Sem smartphone ou computador, basta carregar num botão e estão prontos a usar. Ao serem independentes de um smartphone/PC topo de gama, baixam o custo total para quem quer entrar em realidade virtual. Nesta área temos dois concorrentes: novamente a Google com a sua versão standalone do Google Daydream, e a Oculus com o Oculus Go. Ambos os dispositivos têm uma data prevista de lançamento para Maio de 2018.
Oculus Go
De acordo com as informações disponíveis até ao momento, o Oculus Go parecem-se, na sua essência, com uma versão dos Gear VR mas sem precisar de um smartphone. Inclui um comando semelhante ao que acompanha os óculos da Samsung e sensores de rotação e áudio espacial. Oferece ainda uma melhor qualidade de imagem e um campo de visão aumentado. Terá ainda acesso a todas as aplicações dos Gear VR e outras da Oculus. Os Oculus Go terão um preço de lançamento a rondar os €200.
Google Daydream
O primeiro modelo standalone dos Google Daydream será o Lenovo Mirage Solo. Este modelo promete todo hardware que os Oculus Go trazem e mais. Em comparação, os Daydream destacam-se pela sua tecnologia WorldSense. Dando uso às duas câmeras frontais, o WorldSense detecta o espaço à volta do utilizador e posiciona-o no espaço. Com isto, se o utilizador der um passo em frente, para o lado, saltar ou se baixar, este movimento irá acontecer no mundo virtual, permitindo todo um novo grau de liberdade em mundos virtuais. Talvez por isto, os Lenovo Mirage Solo terão um preço de lançamento previsto a rondar os €400. A biblioteca de aplicações a que terá acesso será maioritariamente a da Google Daydream.
Vive Focus
A Vive também proporciona a sua solução, os Vive Focus parecem funcionar de forma semelhante aos Lenovo Mirage Solo, mas com um toque de design diferente. No que toca a bibliotecas exclusivas, os Vive Focus têm acesso aos conteúdos do Viveport, um serviço por subscrição mensal de jogos e aplicações disponibilizados pela Valve. De momento, este dispositivo ainda só é vendido na China e as unidades que acabam por chegar ao mercado europeu são comercializadas por valores perto dos €700.
Realidade Virtual para todos?
No último ano vimos uma grande descida no preço de dispositivos de realidade virtual, assim como novas soluções a surgirem e estabelecerem pontes necessárias para que a tecnologia chegue a mais pessoas. Estamos no início de uma era e há ainda todo um segmento de mercado a explorar, por enquanto a realidade virtual está muito ligada ao universo gaming e só pessoas com um elevado poder de compra podem aceder aos dispositivos premium. Talvez com o evoluir da tecnologia, do software e também com o passar do tempo possamos chegar a uma fase em que a realidade virtual estará ao alcance de grande parte da população, deixando assim de ser uma tecnologia de nicho.