Depois de ter iniciado uma aventura mais séria no mundo do hardware através do tablet Surface, a Microsoft redobrou os esforços neste segmento e já apresentou ao mundo três máquinas distintas: um portátil híbrido, um all-in-one e um portátil tradicional. A chegada destes equipamentos fez com que o espaço mediático do Surface tenha diminuído.
Isso não significa no entanto que a Microsoft tenha deixado de apostar no conceito de um 2-em-1 flexível e potente. Antes pelo contrário: até ‘promoveu’ o Surface de tablet a computador portátil.
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Nesta sua nova versão a Microsoft deixou cair a numeração do equipamento e manteve apenas a definição de Surface Pro. Para quem teve contacto com o modelo anterior, o Surface Pro 4, o novo equipamento é muito semelhante. A tecnológica diz que as grandes alterações foram feitas no seu interior, sobretudo ao nível da engenharia.
Por exemplo, o modelo testado pelo FUTURE BEHIND vinha equipado com um processador Intel Core i5 e era fanless, isto é, não tinha um sistema de refrigeração por ventoinha. É de facto um feito de engenharia assinável. Isto para dizer o quê? As diferenças do Surface Pro não se veem, sentem-se.
Para a análise do Surface vamos focar-nos acima de tudo em dois pontos: no equipamento em si e nos seus principais acessórios.
Máquina exímia
Se há uns anos era fácil de apontar o Surface Pro como o melhor equipamento 2-em-1 do mercado, o mesmo já não acontece atualmente. Os principais fabricantes de hardware perceberam a mensagem da Microsoft e começaram todos a criar as suas próprias propostas.
Asus Transformer Pro 3, HP Spectre X2 e Lenovo Mix 700 são apenas alguns exemplos de máquinas que vieram desafiar o poderio do Surface no segmento dos dispositivos 2-em-1. Abençoada seja esta concorrência pois isso obrigou a Microsoft a aprimorar o seu produto, produzindo mais uma máquina de grande categoria.
Como peça de hardware o Surface continua a ser do melhor que há. Em termos de design o equipamento está praticamente inalterado, mantendo-se um tablet de grandes dimensões que consegue surpreender pela espessura reduzida e também pelo peso pouco acentuado.
Em termos estéticos podemos salientar uma pequena diferença nos cantos do equipamento, que agora apresentam-se mais arredondados. De resto tudo igual: construção em magnésio e apenas dois botões físicos, um de energia e outro para controlar o volume.
Um dos aspetos que sempre caracterizou o Surface, o suporte situado na parte traseira, apresenta-se com diferenças funcionais: o suporte pode ser rodado até 165º, querendo isto dizer que o equipamento apenas fica ligeiramente levantado se estiver pousado numa mesa.
A Microsoft chama a este o ‘modo de desenho’ e de facto garante um posicionamento interessante para quem gosta de desenhar sobre base firme. Mesmo para aqueles que não são artistas profissionais esta alteração é muito bem-vinda, pois garante outro nível de flexibilidade ao equipamento.
A maior amplitude do suporte é acima de tudo vantajosa quando queremos usar o Surface Pro fora de uma mesa – seja sentados no sofá ou aninhados num canto de um aeroporto. Tendo em conta que o Surface Pro sempre foi concebido com a ideia de flexibilidade na sua génese, então neste aspeto o novo modelo é o melhor de todos.
Na parte frontal o equipamento continua igual. O Surface Pro ostenta um ecrã de 12,3 polegadas, aspeto de 3:2 e uma resolução de 2.736×1.824 píxeis. Este continua a ser um dos ecrãs mais bem conseguidos para um dispositivo acima das dez polegadas, com destaque para a riqueza das suas cores.
A experiência de visualização é excelente seja para consumo web, para vídeos online ou para videojogos. O recorte dos elementos é muito bom e se os conteúdos tiverem qualidade – como os vídeos 4K -, então fica tudo melhor. O realismo não exagerado das cores também é positivo para quem trabalha com fotografia, edição de imagem ou de vídeo.
Num tablet o elemento mais importante de todos é o ecrã – não importa se tudo o resto é bom se a experiência visual for má. A Microsoft não facilitou nesta área, apesar de também não ter apostado numa grande evolução – o ecrã é bastante semelhante ao que já existia na geração passada do Surface.
Com esta nova edição do Surface voltamos também a encontrar dois problemas antigos: os níveis de reflexo do ecrã, que são notórios sobretudo quando estamos a trabalhar com a incidência de luz natural; e o facto de ter margens bastante pronunciadas nas suas laterais, algo que visualmente podia e devia ter sido melhorado num equipamento que tenta sempre passar uma mensagem de tecnologia de ponta.
Os pontos fortes do ecrã são mais do que suficientes para fazer esquecer estes pormenores e a experiência é de tal forma rica que quase também nos faz esquecer que logo por baixo do ecrã está uma grande máquina de performance.
O modelo testado pelo FUTURE BEHIND vinha equipado com processador Intel Core i5-7300U, unidade gráfica integrada Intel HD 620, 8GB de memória RAM e 256GB de armazenamento interno. Para que é que este conjunto de especificações serve? Praticamente para tudo o que atirar a este computador.
Esta é a parte em que dizemos que há modelos mais potentes – com processadores Core i7 – e também mais fracos – com processador Core m3. Mas tendo em conta o desempenho que nos garante este Core i5, esta é provavelmente a escolha acertada para a maioria dos interessados.
O processador veloz faz com que as principais tarefas, de lazer ou produtividade, sejam feitas a grande ritmo no Surface Pro. Produzir documentos ou folhas de excel, navegar por sites graficamente pesados, visualizar conteúdos em 4K, editar fotografias e vídeo são tarefas com os quais este dispositivo lida bem.
No caso da edição de vídeo referimo-nos mais a uma edição básica, feita em Adobe Premiere por exemplo, do que a uma edição mais gráfica e avançada. No caso de trabalhar com After Effects, por exemplo, então vai querer procurar um processador com maior velocidade de relógio, mais memória RAM e com uma GPU dedicada.
O número de pessoas para os quais o Surface Pro não serve enquanto computador do dia a dia é reduzido e essas pessoas já sabem quem são, fruto das suas necessidades bastante específicas.
Escusado será de dizer que este não é um portátil capaz de aguentar grandes experiências de gaming: executámos um League of Legends de forma agradável e também um Hearthstone, mas se quer deitar a mão a um Doom ou a um Rise of the Tomb Raider deve direcionar melhor o seu investimento.
O Surface Pro é para quem quer uma máquina potente, todo-o-terreno e com um forte sentido estético. O modelo que testámos custa 1.500 euros, um investimento que já consideramos avultado tendo em conta não só o salário médio português, como também algumas decisões estratégicas da Microsoft – mas já lá vamos a este ponto.
De todos os pontos que verificámos nesta nova versão do Surface, a autonomia foi aquela que deu o maior salto qualitativo. A Microsoft promete 13 horas de autonomia em reprodução de vídeo, mas este valor não é representativo de uma utilização realista. Usando o Surface de forma regular, conseguimos autonomias a rondar as sete horas. Significa isto que bem gerida, a bateria do novo Surface Pro deverá garantir-lhe energia suficiente para um dia de trabalho.
De todas as características técnicas, a maior autonomia é aquela que mais justifica um salto para a nova geração do Surface Pro. É igualmente positivo saber que temos não só computador para a maior parte do dia, como também não precisamos de abrir mão de potência e flexibilidade para tê-lo. E saberá que está perante uma máquina completa por ter acesso a várias entradas multimédia – ainda que trocássemos facilmente a DisplayPort por uma entrada USB-C.
Esta sempre foi a área no qual o Surface Pro foi forte e a tradição mantém-se: o verdadeiro valor do equipamento está na conjugação de todas estas boas características num pacote que é muito fácil de transportar. Com menos de 800 gramas de peso e oito milímetros de espessura, o Surface consegue passar quase incógnito numa mochila ou numa mala. Só nos lembramos que está lá quando precisamos dele – e quando precisamos ele não desilude.
Já sobre a estratégia da Microsoft para este equipamento não podemos dizer o mesmo.
Onde é que eles tinham a cabeça?
Tudo o que lhe dissemos até aqui teve em conta uma experiência do Surface Pro com teclado. O teclado é metade deste equipamento, sem ele temos um tablet super-potente, mas muito menos produtivo – e para que serve esta potência se não é para a produtividade?
Acontece que à quinta versão do Surface a Microsoft voltou a cometer o erro de não incluir a capa-teclado de origem. É a própria Microsoft quem diz que este é um computador portátil – Microsoft, quem quer comprar um computador sem teclado!?
Comprar o teclado vai exigir ao utilizador um investimento de mais 185 euros caso opte pela capa-teclado por nós testada, a que vem revestida a tecido Alcantara. Ou seja, isto faz subir de forma considerável o investimento total que é necessário fazer para ter uma boa experiência Surface.
É verdade que a Microsoft nunca incluiu a capa-teclado de origem, mas isso não invalida a insensatez desta decisão: há cinco anos que tanto a imprensa especializada como os consumidores questionam esta opção. No final os números parecem estar do lado da Microsoft: só em Portugal a tecnológica já vendeu mais de 100 mil Surface. A questão que se coloca é: quantos teria vendido se incluísse de origem a capa-teclado, tal como fazem os seus concorrentes?
Ainda por cima a capa-teclado é de facto parte do segredo do Surface. Com esta nova edição a capa está mais rígida, as teclas continuam bem distribuídas e ter um teclado de qualidade numa espessura tão fina, que ao mesmo tempo funciona como resguardo do ecrã, é um golpe genial. Foi a combinação de capa-teclado que colocou o Surface durante muitos anos num patamar próprio.
Só temos a dizer maravilhas da capa-teclado, incluindo do trackpad, revestido a vidro, algo que nos computadores 2-em-1 costuma ser um dos pontos fracos. O tamanho do trackpad é generoso e mesmo não sendo o mais preciso do mundo, apresenta uma boa resposta aos toques do utilizador.
A qualidade do periférico só faz agudizar ainda mais a ideia da sua ausência no pacote básico. Então a Apple não faz o mesmo? O nível de produtividade de um iPad Pro com iOS 10 não se compara ao de um Surface Pro com Windows 10 – no iPad Pro o teclado é mesmo um acessório, no Surface Pro é uma necessidade.
Se a não inclusão da capa-teclado era suficiente para gerar uma discussão interessante, já a não inclusão da Surface Pen parece pura gula capitalista. Recordamos: no Surface Pro 4 a caneta vinha incluída de origem e para o caso de alguém querer comprar uma, custava 70 euros; no novo Surface Pro a caneta também não vem incluída de origem e quem quiser comprar uma tem de investir 115 euros.
Não tivemos acesso à nova, mais precisa e versátil Surface Pen no nosso teste, pelo que não vamos poder falar daquela que é uma das novidades e uma das partes mais interessantes do Surface enquanto equipamento. Mas podemos ainda assim questionar o porquê da remoção de um acessório que na geração passada era promovido como diferenciador.
Tudo isto para dizer que se o utilizador quiser ter a verdadeira experiência do Surface Pro vai ter que gastar quase mais 300 euros, independentemente do modelo que comprar. Este é um valor que fará questionar as opções de investimento, mesmo para quem tenha melhores capacidades de investimento.
Considerações finais
O Surface Pro é daquelas máquinas que nos dá a volta à cabeça. É bonito, prático e garante-nos uma experiência de utilização impecável. Por outro lado é caro e não vem acompanhado de um acessório básico como o teclado, querendo isto dizer que vai ficar ainda mais caro.
É por isso muito fácil ficarmos divididos perante o equipamento: a qualidade de construção e o desempenho são inquestionáveis, mas esses não são os únicos elementos a considerar na hora de investir num novo dispositivo.
A grande vantagem do Surface Pro neste momento relativamente à sua concorrência é o facto de já estar equipado com processadores de nova geração, enquanto quase todos dos seus rivais estão ainda na sexta geração da Intel. E quando alguém investe acima dos mil euros, ninguém quer levar a ‘geração passada’ para casa, mesmo que isso signifique uma diferença de desempenho que só deve rondar os 20%.
Dois apontamentos para os mais indecisos: o som no Surface Pro é de grande qualidade e o facto de não ter ventoínha faz com que este seja um computador silencioso, mas que aquece bastante estando debaixo de ‘stress’.
Se recomendamos o Surface Pro? Claro que sim, é uma máquina altamente desejável. Mas recomendamos com um grande asterisco associado, sendo este asterisco a necessidade de o utilizador avaliar de forma decente aquilo que pretende fazer com o equipamento e se isso vai implicar ou não os tais 300 euros de investimento extra.
O asterisco significa também que existem nas lojas boas oportunidades em máquinas concorrentes – ou no próprio Surface Pro 4 – e que o utilizador deve conferir antes de tomar a sua decisão final. O Surface Pro é uma máquina de topo e provavelmente é aquela que conjuga melhor os conceitos de potência, autonomia e portabilidade. Isso significa também que tem um preço premium associado.
Se no seu perfil de utilizador tirar bom proveito de todas as vantagens permitidas pelo Surface, então este investimento não é um quebra-cabeças e talvez a grande dúvida esteja entre o Surface Pro e o Surface Laptop. Se não tirar partido de todas as características únicas do Surface, então procure por outras alternativas que vão suprir as suas necessidades e vai certamente encontrar preços mais competitivos.