Recentemente falámos de Bitcoin, Ethereum e blockchain. São três conceitos que nos últimos tempos têm estado muito associados, ainda que sejam bastante distintos entre si. Tanto o Bitcoin como o Ethereum são projetos baseados em diferentes redes de blockchain e que permitem aos seus utilizadores ganhar dinheiro digital através da participação nestas redes descentralizadas.
Se o Bitcoin foi apenas concebido como uma ferramenta de transação monetária, já o Ethereum tem muitas mais aplicações práticas. O Ethereum, ou neste caso, a tecnologia de blockchain do Ethereum, é visto como um projeto de grande potencial que pode ajudar a criar processos automatizados mais transparentes e eficientes num grande número de indústrias.
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Não é por acaso que o token do Ethereum, o Ether, já valorizou só este ano mais de 4.000%, tendo cada token valido perto de 400 dólares no seu auge. Na última semana as criptomoedas no geral têm registado alguma pressão por parte dos utilizadores e investidores, pelo que o valor de cada Ether ronda neste momento os 170 dólares.
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A questão é que independentemente do valor que o Ether possa vir a ter, o potencial da sua tecnologia basilar, o blockchain, continua firme e hirto. E há quem queira começar a capitalizar diretamente com este potencial – é o caso da Etherify, uma empresa portuguesa que pretende atuar como uma consultora na área do Ethereum.
O projeto foi fundado por Justin Wu e Fernando Moreira e está ainda a dar os seus primeiros passos. Mas isto acaba por não ser um problema, pois em Portugal só agora é que as empresas parecem estar a interessar-se pelo potencial do blockchain enquanto tecnologia.
O norte-americano e o português conheceram-se no início do ano e por força do interesse mútuo, muitas das conversas que tinham acabaram por convergir no tema do blockchain e em específico do Ethereum. A isso juntou-se uma experiência que Justin Wu já tinha tido, quando organizou um encontro sobre blockchain em Lisboa no ano passado.
“‘Estas pessoas são bastante experientes na área da tecnologia e nem eles ouviram falar desta nova tecnologia’. Ok, há uma grande oportunidade aqui”. Foi isto que pensou Justin Wu depois desse encontro. “O conhecimento em Portugal relativamente ao blockchain e relativamente à Ethereum ainda é relativamente baixo”, conclui na altura.
Da identificação desta oportunidade nasceu a Etherify, uma empresa que presta três serviços: formação e evangelização relativamente à tecnologia Ethereum; consultoria e análise de oportunidades de aplicação do Ethereum nas empresas; e desenvolvimento e implementação de soluções específicas baseadas em blockchain do Ethereum.
“Acreditamos que o Ethereum é como a internet em 1994. Em 1994 todas as empresas precisavam de um website, mas não sabiam que precisavam de um website porque não sabiam muito bem o que era a internet. O Ethereum acaba por funcionar da mesma forma. Uma grande empresa precisa de saber sobre esta nova tecnologia porque acredito que o blockchain e o Ethereum vão tocar e mudar a sociedade em formas tão profundas da mesma maneira que a internet fez desde 1994 até agora”, disse Justin Wu em entrevista ao FUTURE BEHIND.
Em resumo, o que a Etherify quer fazer é etherificar as empresas portuguesas. Na opinião do porta-voz da empresa é possível criar os chamados contratos inteligentes e aplicações descentralizadas (dApps na definição inglesa) através da rede do Ethereum que “tornam os processos centralizados e ineficientes das empresas” em processos “mais descentralizados, robustos e eficientes”.
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Se em Portugal a prestação de serviços de consultoria em Etherium é ainda uma novidade, noutros países – como nos EUA e no Reino Unido – já há várias empresas a prestar esta tipologia de serviços nesta área bastante específica.
Apesar de se definir como um venture studio de blockchain do Ethereum, a verdade é que a Etherify não contempla ainda uma área de investimento noutros projetos que sejam criados em torno desta tecnologia.
“É algo que vejo a acontecer no futuro. O que é interessante no Ethereum é que podes fazer crowdfunding de forma bastante direta e fácil, através de algo chamado Initial Coin Offering (ICO). Existem muitos ICO a acontecer e estaria bastante interessado em ver um projeto que o Ethererify ajudasse a incubar, criar, a lançar o seu próprio produto e a fazer o seu próprio ICO”.
Justin Wo não adiantou o número de empresas que já estabeleceram contactos com a Etherify tendo em vista a contratação dos seus serviços e também não revelou quanto pode custar esse processo. O cofundador da empresa diz que a avaliação é feita de caso para caso, pois em cada empresa existe um nível de entendimento diferente relativamente à tecnologia de blockchain do Ethereum.
“O mais importante para a Etherify é acrescentar valor ao espaço do blockchain e do Ethereum em Portugal, que está ainda muito na sua infância. Queremos apenas criar um ambiente de consciencialização sobre como é incrível esta tecnologia e como é transformadora”.
A escolha de Portugal para lançar este projeto tem tanto de positivo como de negativo. Devido à baixa penetração que o Ethereum alegadamente terá junto das empresas – não há dados sobre o interesse das empresas portuguesas na tecnologia de blockchain -, o mercado português representa uma boa oportunidade, mas também vai exigir o dobro do esforço à Etherify e a outras empresas que possam surgir entretanto.
“Vejo isso mais como uma oportunidade do que como um obstáculo. (…) Portugal é fantástico na internet, temos boa internet aqui, bons programadores, startups, profissionais de TI e o nível de inovação aqui é bastante alto. (…) Penso que a oportunidade e a vontade em adotar esta nova tecnologia também existem”, salientou Justin Wu.
O norte-americano diz que as pessoas que já procuram saber mais sobre o Ethereum são verdadeiros entusiastas e esse é outro elemento positivo a destacar no mercado.
Justin Wu vê o Ethereum a afirmar-se como uma tecnologia nuclear em sectores como a banca, as fintech e a Internet das Coisas. O conceito de contratos inteligentes (smart contracts em inglês) apresenta um grande potencial para estas áreas: permite executar ações de forma automática assim que são cumpridas e verificadas determinadas condições.
Por exemplo, seria possível ter semáforos a ajustarem-se de forma automática tendo em conta o estado meteorológico – quando chove existem outras necessidades de controlo de tráfego que não existem quando não está a chover.
“Existe muito potencial aqui e o país pode beneficiar bastante desta tecnologia”, concluiu por fim Justin Wu.