Desde que foi lançado em fevereiro de 2004 que o Facebook só sabe crescer. Treze anos depois a empresa continua a surpreender investidores, acionistas, utilizadores e aficionados da tecnologia sempre que revela o número de pessoas que estão na rede social.
No último relatório fiscal divulgado, relativo ao quatro trimestre de 2016, Mark Zuckerberg e a sua equipa voltaram a apresentar números estrondosos.
É difícil ficar indiferente à quantidade de pessoas que utilizam o Facebook, inclusive numa base diária. É impossível não reconhecer o mérito dos feitos alcançados pela rede social, mesmo para quem não gosta do conceito de plataformas sociais. Há até uma probabilidade de 16% de ter encontrado este artigo através do Facebook.
Metade da população mundial que tem acesso à internet está a utilizar o Facebook de forma ativa e isto quer dizer muito. Mais: o Facebook junta tantas pessoas na sua plataforma que conseguiu ‘vencer’ a velha teoria dos seis graus de separação – aquela que diz que estamos a apenas seis pessoas de distância de todas as pessoas que existem no mundo. No Facebook a lei que impera desde o ano passado é a dos 3,5 graus de separação.
O Facebook como rede social é uma das plataformas online mais completas de sempre: junta pessoas, empresas, marcas, anunciantes, suporta fotografias, vídeos, vídeos imersivos, tem uma ferramenta de mensagens instantâneas, tem ferramentas de analítica, permite criar eventos, permite criar grupos, permite avaliar restaurantes e outros estabelecimentos, permite fazer chamadas de voz e de vídeo, permite fazer compras… podíamos ficar aqui o dia todo pois de facto o Facebook é uma plataforma como nenhuma outra.
O Facebook tem uma grande abrangência de propósitos e tem também um grande número de utilizadores. Estes dois factos estão correlacionados: as pessoas usam o Facebook porque de facto há lá algo que lhes interessa enquanto utilizadores da internet.
Mas também há outra explicação para este crescimento vigoroso e sem mácula do Facebook: em boa verdade, nunca houve um serviço que conseguisse desafiar o domínio que a rede social alcançou. Até neste aspeto o Facebook parece estar muitos passos à frente de todos os outros.
É como se o Facebook fosse um buraco negro cuja força consegue atrair não só tudo aquilo que já referimos, como consegue também sugar as forças da concorrência mais direta.
Isto ficou evidente há duas semanas quando o Snapchat submeteu oficialmente o seu pedido para a entrada na bolsa de valores. De acordo com os documentos oficiais, o mundo ficou a saber que o Snapchat tem 158 milhões de utilizadores diários. Um número interessante para um serviço criado em setembro de 2011. Mas um dos valores que chamou mais a atenção foi a taxa de crescimento.
Acontece que a taxa de crescimento do Snapchat sofreu uma quebra na casa dos 80% em meados de 2016. Porquê? Porque o Instagram lançou uma cópia da principal funcionalidade do Snapchat, as Stories – o ‘clone’ inclui o mesmo nome e tudo.
Este é um caso interessante e que tem dado que falar ao longo dos últimos anos. Esta foi apenas mais uma tentativa de Mark Zuckerberg derrubar o Snapchat, algo que já tentou por várias vezes. Nesta fase já estamos numa etapa ‘bélica’, pois anteriormente Zuckerberg tentou uma das suas abordagens mais tradicionais, a aquisição.
O Facebook fez uma proposta de três mil milhões de dólares pelo Snapchat – há emails que dizem que foi uma proposta muito superior. Evan Spiegel recusou a oferta de Mark Zuckerberg. Agora o Snapchat está prestes a ficar avaliado em 25 mil milhões de dólares, mas nem este marco impede que a empresa esteja também a ser sugada pelo buraco negro da concorrência.
Depois do lançamento das Instagram Stories que o Snapchat sofreu um rude golpe. Mas pelo menos a rede social continua a lutar pelo seu espaço e o Facebook sabe que tem de facto aqui um potencial rival a temer – não tanto no número de utilizadores, mas mais pelos níveis de interação, algo que alegadamente tem faltado ao Facebook.
Se olharmos para o espectro da concorrência, quem são os verdadeiros concorrentes do Facebook? Que serviços sociais emergiram nos últimos anos com potencial para colocar em causa o poderio social do Facebook?
Há duas plataformas que podiam ter desafiado o Facebook: o Instagram e o WhatsApp. O Instagram tem 600 milhões de utilizadores ativos e o WhatsApp tem 1,2 mil milhões de utilizadores ativos. Se havia alguém que podia fazer tremer o Facebook eram estas duas empresas.
O que aconteceu? O Facebook antecipou-se às dores de cabeça e avançou para a aquisição das duas plataformas sociais. O Instagram, num estágio muito menos evoluído, por mil milhões de dólares. O WhatsApp, num estágio de desenvolvimento muito mais avançado, razão pela qual o Facebook pagou 18 mil milhões de dólares por um serviço de messaging quando já tinha o Facebook Messenger.
Uma boa parte do dinheiro investido no negócio do WhatsApp serviu justamente para eliminar um enorme potencial concorrente. Missão concretizada com sucesso.
Eis que o buraco negro da concorrência do Facebook voltou a funcionar. O que podiam ser duas plataformas rivais acabaram no entanto por engrossar ainda mais a imponência do Facebook.
Nos últimos anos surgiram outras plataformas sociais, mas que acabaram por focar-se em algo específico e que por esse motivo nunca representaram um verdadeiro perigo para o Facebook.
O Tumblr é uma plataforma de blogging e há muito que não se sabe nada sobre ela. O Pinterest dedicou-se por completo à componente visual dos conteúdos e tem tido relativo sucesso nessa área. O Twitter é o meio da rapidez por excelência, ainda que o seu crescimento tenha estagnado há já alguns meses. A Microsoft quis extrair do Skype as suas vantagens para o segmento profissional e acabou por perder uma boa oportunidade para ser o ‘WhatsApp’ dos tempos modernos. O LinkedIn até pode estar mais parecido com o Facebook, mas a sua ligação ao mundo de trabalho é de tal forma forte que foi a Microsoft, e não o Facebook, quem avançou para a sua aquisição. O Google+ é um produto ao qual a Google já não presta atenção. E depois existem muitas plataformas chinesas que são grandes quase exclusivamente às custas do mercado doméstico.
Referimos o Google+ e este é um exemplo interessante pois mostra a ‘aversão’ que o Facebook tem à concorrência e como é rápido a responder a novas tendências. Quando a plataforma da Google foi lançada em 2011, parecia de facto que além do Twitter, podia haver uma terceira grande força a disputar o mercado social com o Facebook.
Sobre este episódio, o lançamento do Google+ e a resposta do Facebook, há um artigo que é recomendado: ‘Como Mark Zuckerberg liderou a guerra do Facebook para esmagar o Google+’, da publicação Vanity Fair.
Neste artigo um antigo funcionário do Facebook, Antonio García Martinez, revela que no dia em que o Google+ foi apresentado ao mundo, Mark Zuckerberg decretou, alegadamente, um lockdown no Facebook.
“Lockdown é um estado de guerra que data dos primeiros tempos do Facebook, quando ninguém podia sair do edifício enquanto a empresa enfrentava alguma ameaça, competitiva ou técnica”, escreveu o antigo funcionário. “[O Google+] Acertou no Facebook como uma bomba”.
O lançamento da plataforma da Google mexeu verdadeiramente com Mark Zuckeberg ainda antes de ter dado qualquer prova de sucesso ou viabilidade. O fundador do Facebook sabia que se havia empresa que podia de facto criar algo tão poderoso quanto o Facebook era a Google. Não é por acaso que os endereços google.com e facebook.com são dos mais acedidos na internet em todo o mundo.
Alguns meses depois o Facebook começou a implementar novas funcionalidades na sua plataforma que tinham sido inspiradas nos novos conceitos que o Google+ trouxera para o mercado. O exemplo mais claro foi a partilha segmentada – no Google+ as pessoas eram divididas por grupos, então o Facebook passou a permitir a criação de grupos de contactos e a segmentar as partilhas justamente para esses grupos.
Com uma resposta rápida, eficaz e feroz, o Facebook conseguiu aniquilar de imediato aquelas que eram as poucas vantagens do Google+. E tudo isto em 2011. Conclusão? O buraco negro da concorrência começou na prática a engrenar de forma mais eficiente há já vários anos.
É interessante que apesar do Google+ ser um dos grandes falhanços da tecnológica de Mountain View, é nessa casa que está o único e verdadeiro grande rival do Facebook: o YouTube tem mais de mil milhões de utilizadores ativos por mês e é o segundo endereço de internet mais acedido em todo o mundo, relegando o Facebook para a terceira posição. Neste momento é o YouTube que está a ser alvo da força do buraco negro da concorrência, mas as fundações do serviço de vídeo da Google são já muito profundas e por agora ainda não há sinais de tremedeira. Mas o Facebook continua a tentar, como continuou a tentar com o Snapchat até ter encontrado a fórmula certeira.
Hoje o Facebook é um dos grandes reinos do mundo digital e não há nada de errado com isso – exceto quando tenta cruzar informações de serviços que disse expressamente que não ia cruzar. Mas como em tudo na vida, um pouco de concorrência é sempre positivo. Basta pesquisar no Google, em inglês, ‘Facebook não tem concorrência [Facebook has no competition]’ e os primeiros resultados são preenchidos por pessoas que recorreram ao Quora justamente para perceber por que não há concorrentes sérios à plataforma.
Acontece que o Facebook não tem um verdadeiro rival à sua altura e muito por mérito próprio. Um verdadeiro caso de resiliência e de capacidade de adaptação para mais tarde estudar.