Rogério Ribeiro era visivelmente um homem feliz quando subiu ao palco para receber o troféu que dava a VRock a distinção de melhor jogo do ano nos Prémios PlayStation. O fundador da Game Studio 78, um estúdio de videojogos sediado no Porto, agradeceu a distinção, primeiro com um obrigado, depois com uma frase mais sentida.
“Somos a prova de que há altos e baixos. Hoje é um dia alto, já estivemos lá no fundo, nas cavernas mesmo. Muito obrigado, obrigado a todos”.
A felicidade, assim como a surpresa, continuavam espelhadas em Rogério Ribeiro mais tarde enquanto falava à imprensa.
“Quando aparecem os nomeados para o jogo do ano eu fico feliz por perceber que é um grupo pequeno e que lá estou, que a Games Studios está lá e o VRock. Fico feliz. E quando anunciam [o vencedor] gelei, puramente gelei. Porque eu disse ‘ganhamos’. Estava a dizer à malta e à minha família, ‘vou lá baixo buscar o prémio, este ano é para nós‘. Mas depois é aquela coisa do chegas aqui, vês os outros projetos de qualidade e ficas sempre naquela. Os outros também têm qualidade, não é?”, disse o fundador do estúdio, relembrando o momento em que foi revelado o vencedor.
Além do galardão máximo, o de melhor jogo, o título desenvolvido pela Game Studio 78 também conquistou o prémio inovação. E não é difícil de perceber porquê: entre os dez finalistas dos Prémios PlayStation, era o único jogo desenvolvido a pensar em ambientes de realidade virtual.
“O VRock é uma banda em realidade virtual, podes escolher qualquer membro da banda e podes fazer battle band”, começou por explicar Rogério Ribeiro.
Há quatro posições para ocupar na banda: guitarrista, baterista, vocalista e baixo. “É num ambiente VR, teremos vários cenários. O cenário que estamos a desenvolver é tipo clube dos anos 1980. Realmente é giro quando tu metes o capacete de realidade virtual. (…) Olhas e vês a tua banda a tocar, o público a dizer ‘vamos lá’”.
“Essa foi a nossa ideia de fazer uma coisa diferente. Somos fãs de Guitar Hero, o nosso gameplay é diferente do Guitar Hero e achamos que é um mercado que tem uma oportunidade: está parado, está estagnado, náo há deste tipo de jogos”.
O fundador do estúdio nortenho, que já deu ao mundo de videojogos o título Hush, admite que o facto de a PlayStation estar a apostar no segmento da realidade virtual pode ter tornado VRock num projeto mais aliciante para este concurso. Mas acredita que outros factores terão pesado, como o facto de ser um jogo casual e pensado para um ambiente familiar.
Referimos Hush e aqueles que conhecem o jogo vão notar uma grande diferença para o mais recente projeto da Game Studio 78. A aposta na realidade virtual surgiu justamente num dos tais momentos menos positivos que Rogério Ribeiro referiu durante os agradecimentos.
“Tivemos um pedido de um cliente para executarmos uma experiência em VR. Eu disse sim, desde que pudesse converter a experiência em jogo. Nós não fazemos trabalhos para terceiros, não fazemos, por isso é que passamos os tais baixos, já fomos ao inferno. Nós não fazemos trabalhos para terceiros, mas aqui sim porque eu disse ‘interessa-me desde que possa fazer jogo disto’. E foi isso que fizemos”.
O prémio conquistado hoje representa uma grande miríade de oportunidades que agora se abrem perante a Game Studio 78. Da parte da PlayStation estão garantidos dez mil euros em dinheiro, publicação do jogo VRock na PlayStation Network, kits de desenvolvimento, campanhas de marketing no valor de 50 mil euros e ainda um espaço gratuito de trabalho durante dez meses em Lisboa.
“É fantástico. O número de oportunidades que isto nos abre é fantástico. Temos o exemplo do Strikers Edge [vencedores da 1ª edição dos Prémios PlayStation]. Mais feliz é impossível neste momento”.
Um conselho de amigos
A Fun Punch Games, estúdio que venceu a primeira edição dos Prémios PlayStation, também marcou presença nesta segunda edição do evento. Afinal de contas, tratava-se de encontrar aquele que será o sucessor ‘espiritual’ de Strikers Edge.
O título desenvolvido originalmente por Filipe Caseirito e Tiago Franco, que mais tarde acabou por contar com a participação de mais pessoas, como já aqui contamos no FUTURE BEHIND, está na fase final de desenvolvimento.
Perguntámos a Filipe e a Tiago que conselho deixam à Game Studio 78.
“Uma coisa muito importante que nós tínhamos alguma noção, mas mesmo assim falhámos bastante, é planeamento. Saber que à partida te dão uma data de entrega e contares logo muito com isso, levar isso logo..”, dizia Filipe, para depois ser complementado pelo seu parceiro: “Muita pré-produção, muita calendarização e muita avaliação cuidadosa de tempos e tarefas”.
Filipe Caseirito não tem dúvidas em apontar este como o conselho que gostaria que lhe tivessem dado e para o qual gostaria de ter sido chamado à atenção durante o desenvolvimento do jogo.
“Sobretudo porque é fácil em game development resvalar um bocadinho pois há problemas que surgem, há tantas coisas que podem falhar nesta área. E sobretudo porque há um intercâmbio muito grande de áreas. Há muita coisa que pode falhar e é sempre importante considerar isso”, acrescentou Tiago.
Para um jogo independente, Strikers Edge tem conseguido um interessante conjunto de feitos. O mais recente é estar nomeado como jogo indie do ano no PAX South. Durante 2016 o título passou por algumas das maiores feiras de videojogos a nível global, incluindo a E3 e a Gamescom. Esta última foi aquela que para Tiago e Filipe acabou por criar algumas das melhores memórias.
“Ui, um dos pontos altos foi a visita à Gamescom e vermo-nos entre gigantes, por assim dizer. (…) Foi assim um momento, acho que bateu, aquela gente toda, o pessoal que estava, os jogos que estavam à volta e tu participares naquilo, é um momento que guardamos todos com carinho”, explicou Filipe.
“Apesar de a E3 ser aquela que causa o burburinho todo, do lado do consumidor a Gamescom é um mundo à parte. É gigantesco e eu diria que para mim é um contacto mais direto com os utilizadores finais. Encontras ali as pessoas que realmente vão comprar o teu jogo”, disse por sua vez Tiago.
“Ali estás mais em contacto com o público final, é emocionante. E estares no meio de tantos jogos, de uma cultura dos videojogos é super, super.. Qual é a palavra?”. Filipe Caseirito lá ajudou: “Nem sei. É um striking moment. Foi um momento de euforia muito bom”.
“Às vezes havia pessoas que voltavam três, quatro vezes. Lembro-me que na Gamescom havia pessoas que iam lá todos os dias, várias vezes ao dia”, relembra Tiago.
A Gamescom serviu para que a dupla de criadores portugueses tivesse a confirmação de que o jogo mexia de facto com as pessoas de outros países e não apenas em Portugal e Espanha só porque ‘é um jogo português, vamos lá experimentar’.
Os meses vão passando, mas o principal sentimento que continua a mexer com esta dupla é o mesmo. “No fundo sempre que via pessoas entusiasmadas com o jogo isso metia-nos a nós entusiasmados imediatamente também. É ótimo ter essa validação de que estamos no bom caminho e de que estamos a fazer algo que realmente interessa às pessoas”, defendeu Tiago.
“E ver o pessoal a rir-se e a saltar e às cotoveladas ao amigo. É uma sensação, desde o início, e não perde, já foram tantos eventos, acho que é o repetir dessa sensação é o constante ponto alto para nós, é sempre o que nos enche as baterias outra vez”, finalizou Filipe Caseirito.
O ano da Game Studio 78
Se a coroação de VRock vai tornar o jogo numa prioridade dentro da Game Studio 78, a verdade é que o estúdio está a trabalhar noutros projetos que até agora manteve em segredo. “Temos mais projetos na Game Studio. Este ano vai ser fantástico e animado: mobile, consola… Temos muita coisa, mas está muita coisa fora do radar”, adiantou Rogério Ribeiro em declarações à imprensa.
“Neste momento a prioridade é esta [VRock]. Qual a diferença? Temos diferentes equipas a operar em diferentes projetos. Neste projeto existe uma equipa que vai ser reforçada e existem outros projetos que vão seguir o rumo deles, não vão ser alterados pois têm o rumo deles, por isso é que acho que vai ser um ano fantástico pois haverá vários pontos em que vamos marcar presença. Depois saberão mais ao longo do ano”.